8.5.06

KODAK

Say Cheese, ou como diriam os mais nacionalistas “Sorria”, e clic, ou melhor, clique. Pronto. Com estes pequenos passos pode-se “congelar” para posteridade momentos marcantes, acontecimentos históricos, ou até mesmo, uma simples paisagem maravilhosa. Hoje em dia pode parecer simples. Mas nada disso seria possível se não fosse uma marca: KODAK. Graças a ela, hoje em dia, qualquer pessoa pode tirar fotos com o simples pressionar de um botão. Ela fez de todos nós fotógrafos potenciais. Na verdade, a KODAK de hoje é conhecida não apenas pelas fotografias que proporciona, mas também pelas imagens usadas em uma variedade de aplicações de lazer, entretenimento e nas áreas comercial e científica. Seu alcance envolve cada vez mais o uso de tecnologias que combinam imagens e informações, criando um potencial de mudanças profundas na maneira como as pessoas e os negócios interagem.

A história
Quando George Eastman, um jovem bancário, resolveu acatar a sugestão de um colega para fotografar o passeio que faria para Santo Domingo em suas primeiras férias do trabalho em 1878, estava dando início à história da fotografia moderna. Entusiasmado, adquiriu um equipamento completo de fotografia. O equipamento era volumoso, pesado, de difícil manuseio e custava US$ 125. A câmara fotográfica era do tamanho de um televisor e precisava ser montada em um tripé. Havia necessidade, também, de uma tenda suficientemente espaçosa para garantir a colocação de chapas, que eram umedecidas em emulsões químicas antes e depois da foto ser batida. Acrescia-se ainda um tanque de vidro, suporte para as chapas, um jarro para água e produtos químicos. Fascinado com as primeiras experiências, cancelou as férias e começou a ler tudo o que era publicado a respeito do assunto, pois desejava buscar modos de simplificar todo aquele complicado processo.


Em revistas inglesas, descobriu que fotógrafos ingleses preparavam chapas fotográficas com emulsões gelatinosas, que as mantinham sensíveis mesmo depois de secas, eliminando a complicada preparação de pouco antes e logo após a exposição. Assim se reduzia significativamente o material básico que o fotógrafo deveria carregar. Ainda que não tivesse conhecimento de processos químicos, George tentava elaborar emulsões, baseando-se em fórmulas publicadas. Ele trabalhava no banco durante o dia e fazia seus experimentos à noite, na cozinha de sua mãe, que dizia que por vezes Eastman estava tão cansado que nem mesmo conseguia despir-se, e dormia enrolado em um cobertor no chão da cozinha, ao lado do fogão. Em 1880, após três anos de árduas experiências, chegou à fórmula ideal, e foi a Londres, então centro da fotografia mundial, patentear a chapa seca, como se tornou conhecida, e uma máquina para fabricá-la. Assim, ele iniciou a fabricação comercial de placas secas. O sucesso de tal empreendimento impressionou tanto o homem de negócios Henry A. Strong, amigo da família e fabricante de chicotes para charretes, que ele decidiu investir algum dinheiro naquele jovem. Exatamente no dia 1 de janeiro de 1881, eles fundam a Eastman Dry Plate and Film Company, para produzir chapas, instalando-a no terceiro andar de um prédio na State Street em Rochester, Nova York, que hoje é conhecida mundialmente como centro industrial dedicado à fabricação de instrumentos fotográficos, ópticos e de precisão. A comercialização da invenção obteve sucesso imediato.


Eastman demitiu-se do banco e passou a elaborar um plano de diversificação que visava simplificar o processo fotográfico. Em pouco tempo, chegou ao filme flexível, acondicionado em rolo, mas suas vendas ainda eram insatisfatórias. Em 1884 introduziu o papel para negativo. Percebeu, então, que também a câmara deveria sofrer modificações. A primeira câmera KODAK surgiu em 1888. Era portátil, fácil de manejar e custava US$ 25. Dessa forma, a KODAK tornou um processo cheio de complicações em algo simples, fácil de usar e acessível para praticamente qualquer pessoa. Após bater 100 poses, quantidade que o filme permitia, o consumidor remetia a máquina para a cidade de Rochester, onde o filme era retirado, revelado e reposto, num serviço que custava US$ 10. Tudo por reembolso postal. O lançamento dessa máquina exigia uma divulgação em larga escala e, numa das primeiras campanhas publicitárias da história, foi criado o slogan “You push the button, we do the rest” (Você aperta o botão e nós fazemos o resto). Com o advento do filme em rolo, também foi possível o cinema se desenvolver, quando som e movimento foram conjugados com a imagem. Os primeiros filmes produzidos para o cinema foram criados por Eastman em 1889, mesmo ano em que a empresa passou a se chamar Eastman Company.


Em 1891 a empresa vende sua primeira câmera "daylight-loading", ou seja, o fotógrafo não precisava mais recarregar a câmera em um quarto escuro. Em 1896 atingiu a marca de 100.000 máquinas produzidas, e uma média de 650 quilômetros de filmes e papéis era fabricada por mês. Naquela época, a câmera de bolso KODAK era vendida a US$ 5. No início do século XX, a empresa já produzia em larga escala, a baixo custo e com alcance internacional. O passo seguinte foi dado em 1900, com o lançamento da primeira “câmera de bolso”, a Brownie, uma novidade que custava US$ 1 e podia ser manejada até por uma criança. Pela primeira vez, o hobby da fotografia estava dentro do orçamento de praticamente qualquer pessoa. Sua campanha de lançamento incluía uma extensa programação que atingia escolas e criava fãs-clubes mirins. Nesta época centros de distribuição foram estabelecidos na França, Alemanha, Itália e outros países da Europa, além de uma unidade no Canadá. A Kodak Developing Machine foi lançada em 1902, eliminando a utilização do quarto escuro para revelação de filmes. Depois do primeiro escritório em Londres, a empresa começou a instalar unidades em outros países da Europa e no Japão, numa política de expansão que se tornou marcante na KODAK.


A KODAK produziu o primeiro filme comercial do mundo em 1908, praticamente seguro, usando base de acetato de celulose em lugar da base de nitrato de celulose altamente inflamável. Durante a Primeira Guerra Mundial, a KODAK desenvolveu as câmeras para fotografia aérea e treinou fotógrafos da corporação de defesa aérea norte-americana. A empresa também ofereceu ao exército suprimentos de acetato de celulose para revestimento das asas dos aviões e produção de lentes inquebráveis para máscaras de gás. Eastman morreu por suas próprias mãos no dia 14 de março de 1932 aos 77 anos de idade. Atacado por uma desabilidade progressiva resultante do endurecimento das células das vértebras inferiores, Eastman sentiu-se extremamente frustrado pela impossibilidade de manter uma vida ativa e decidiu resolver o problema a seu modo. Foi nesta década que os pesquisadores da KODAK projetaram e construíram o primeiro scanner com separação eletrônica de cores para o preparo de imagens para impressão. Durante a Segunda Guerra Mundial, as pesquisas e os novos lançamentos foram deixados de lado e os esforços dirigidos para a adaptação de filmes, papéis e equipamentos fotográficos para uso militar, como as câmaras para fotografias aéreas, os filmes para raios-X, que permitiam fotografar estruturas de aviões, e o V-Mail, um programa de microfilmagem para facilitar o envio de correspondências entre os continentes. Nas décadas de 1950 e 1960, a empresa desempenhou um papel fundamental na explosão das cores em revistas e livros. Isto porque a KODAK pesquisou sistemas de impressão colorida de alta qualidade e, através de vários cursos, conferências e apresentações de produtos, mostrou ao setor como separar, mascarar e corrigir cores.


Em 1969 uma câmera especial da KODAK acompanhou os astronautas Aldrin e Armstrong na viagem à Lua. Em 1980, a KODAK anunciou a sua entrada na área de diagnóstico médico com o filme KODAK EKTACHEM. Quatro anos depois, a empresa ingressou no segmento de vídeo com o KODAVISION. Nas décadas seguintes a KODAK lançou inúmeros produtos com alta tecnologia voltados para o mercado fotográfico profissional e amador. Depois de lançar a campanha “Compartilhe momentos. Compartilhe sua vida.”, a empresa deu uma forte guinada em direção às câmeras digitais e se tornou líder nos Estados Unidos em 2003. Hoje, esse é um negócio pouco promissor em razão das margens reduzidas. Diante desse cenário, prever o futuro da KODAK é uma aposta de alto risco. A constante busca pela diversificação levou a empresa a estar presente, hoje, nos mais variados segmentos de atuação, ampliando em muito os horizontes imaginados inicialmente por George Eastman. Isto significa produtos como filmadoras, impressoras e porta-retratos digitais, além de softwares que tornam simples imprimir, arquivar e compartilhar suas fotos digitais.


A linha do tempo
1885
Lançamento do EASTMAN AMERICAN, primeiro filme fotográfico transparente na forma como o conhecemos hoje.
1895
Anunciada a câmera de bolso, POCKET KODAK. Essa câmera utilizava filme de rolo e incorporava uma pequena janela onde o número da foto era exibido.
1896
Lançamento da FOLDING POCKET KODAK, considerada a mãe de todas as câmeras de filme de rolo. Ela produzia um negativo de 2 1/4 por 3 1/4 polegadas, que foi o tamanho padrão por décadas.
1903
Lançamento do KODAK NON-CURLING, que permanece como o filme padrão dos fotógrafos amadores por quase 30 anos.
1913
Lançamento do filme EASTMAN PORTRAIT, que deu início ao processo de transição entre os fotógrafos profissionais do uso de filmes em folhas em lugar de placas de vidro.
1923
● A KODAK facilita a produção cinematográfica amadora com o lançamento do filme reverso de 16 mm em base de acetato de celulose (seguro), da primeira câmera de 16 mm, batizada de CINE-KODAK MOTION PICTURE e do projetor KODASCOPE. A imediata popularidade dos filmes de 16 mm resultou em uma extensa rede de laboratórios de revelação KODAK em todo o mundo.
1928
Introdução do filme colorido para máquina de 16 mm, chamado KODACOLOR.
1929
Lançamento do primeiro filme cinematográfico, desenvolvido especialmente para a produção do cinema falado, a grande novidade da época.
Lançamento dos materiais KODALITH de alto contraste, facilitando assim o preparo de meios-tons para impressão. Antes disso, as impressoras usavam chapas de vidro úmidas de colódio, as quais precisavam ser revestidas.
1932
Lançamento dos primeiros filmes, câmeras e projetores cinematográficos de 8 mm para amadores.
1935
Lançamento do KODACHROME, que se tornou o primeiro filme para fotografias coloridas. Em 2009 o filme foi retirado totalmente do mercado devido a drástica queda em suas vendas.
1936
Lançamento do KODASLIDE, seu primeiro projetor de slides, que possuía carregamento na parte superior e era alimentado slide por slide, um de cada vez.
1942
Lançamento do filme KODACOLOR para impressão, tornando-se o primeiro negativo colorido do mundo.
1946
Lançamento do KODAK EKTACHOME, o primeiro filme em cores que podia ser manipulado pelos próprios fotógrafos.
1948
Graças à processadora KODAK de papel contínuo, deu-se início à revelação automática de fotos instantâneas. A máquina produzia 2.400 cópias fotográficas por hora.
1954
Lançamento do filme TRIX-X, película em preto-e-branco para altas velocidades.
1958
Lançamento do KODAK CAVALCADE, primeiro projetor totalmente automático da empresa.
1961
Lançamento do projetor KODAK CAROUSEL com capacidade para 80 slides.
1963
Lançamento da linha de câmeras KODAK INSTAMATIC, o que contribuiu para o aumento da popularidade dos modelos para amadores. O modelo vendeu mais de 50 milhões de câmeras até 1970.
1966
Inova com o lançamento da impressora KODAK 2620, que permitia fazer de 2 a 3 mil impressões por hora.
1976
Desenvolvimento da primeira câmera digital do mundo.
1982
A KODAK inaugura uma ala no novo EPCOT Center da Walt Disney World, próximo a Orlando, Flórida.
1984
A KODAK ingressa no mercado de vídeo com o sistema KODAVISION Série 2000 de 8 mm e lança fitas cassetes para vídeo nos formatos 8 mm, Beta e VHS.
1985
Lançamento dos sistemas de minilab para fotoprocessamento, oferecendo serviços de impressão de fotografias excepcionalmente rápidos para consumidores.
1986
Lançamento das pilhas elétricas de lítio KODAK ULTRALIFE, as primeiras pilhas de lítio de 9 volts do mundo disponíveis para consumidores. Além disso, ingressou no mercado de pilhas e baterias para consumo geral com a linha KODAK SUPRALIFE.
1989
Lançamento da primeira câmera de uso único, chamada KODAK FUN SAVER.
Lançamento da câmera de uso único KODAK WEEKEND 35, que podia ser usada sob quaisquer condições atmosféricas e a uma profundidade de 2.5 m embaixo d’água.
Lançamento da tecnologia de emulsão avançada com os produtos para filme negativo colorido EASTMAN EXR. Isso deu aos cineastas uma significante flexibilidade criativa, oferecendo maior latitude para subexposição, cores reais em luz fluorescente e incrível nitidez.
Lançamento da série de componentes KODAK IMAGELINK (para imagens e documentos) e dos produtos KODAK OPTISTAR (para saídas em computadores) oferecem as opções de captura de imagens nas formas micrográfica e digital.
1992
Desenvolvimento da câmera digital profissional DCS 200.
1993
Lançamento da CAMEO 35 mm, uma linha de câmeras compactas e elegantes.
1994
Lançamento do KODAK DIGITAL ENHANCEMENT SATTION 100, que permite às lojas ajudar seus consumidores a eliminar defeitos como “olhos vermelhos”.
1996
Lançamento da KODAK DC20, a primeira câmera digital de bolso.
1999
Lançamento do KODAK PICTURE MAKER, para impressão de fotos digitais em parceria com a Lexmark.
Lançamento do DURALIFE, um papel fotográfico revolucionário para fotografias instantâneas, considerado benchmark em praticamente todas as categorias, incluindo resistência a rasgos e ondulações, durabilidade, brilho, brancura e nitidez de imagem.
2001
Lançamento do sistema EASYSHARE para compartilhar fotos.
2002
Lançamento do filme KODAK VISION2, o primeiro de uma série de produtos desenvolvidos para trabalhar com os sistemas de pós-produção tanto em filme quanto digital, oferecendo menos granulação, melhores detalhes em áreas de sombras e maior neutralidade às cores e aos matizes.
2003
Lançamento da estação impressora EASYSHARE 6000, um dispositivo que produz fotos KODAK resistentes e sem bordas de 10 x 15 cm.
Introdução no mercado americano dos serviços de dispositivos móveis para ajudar as pessoas a armazenar, compartilhar, organizar e imprimir suas fotos digitais.
2004
Lançamento da revolucionária câmera EASYSHARE-ONE, que permitia exibir até 1.500 fotos e transmiti-las para impressão, gerenciamento ou visualização on-line através do recurso sem fio.
Lançamento da estação impressora EASYSHARE PLUS, que imprimia fotos de câmeras digitais, cartões de memória e transmissões sem fio.
Lançamento do papel fotográfico KODAK ULTIMA com a tecnologia COLORLAST. Quando usado com as tintas mais recentes, as fotos impressas neste papel irão durar por mais de 100 anos, quando exibidas sob condições domésticas normais.
2005
Criado com base no sucesso da série premiada de câmeras digitais e estações impressoras da KODAK, o serviço fotográfico on-line OFOTO tem seu nome mudado para KODAK EASYSHARE GALLERY.
Lançamento da impressora fotográfica EASYSHARE 500, para ser usada praticamente com qualquer câmera digital ou câmeras de celulares modernas.
2006
Lançamento da moderna câmera digital com zoom KODAK EASYSHARE V570, a primeira câmera digital estática com duas lentes. Depois dela, foram lançadas a câmera digital com duas lentes KODAK EASYSHARE V610, a menor câmera digital com zoom óptico de 10x e a câmera digital com duas lentes KODAK EASYSHARE V705, a menor câmera digital com zoom óptico ultra-angular do mundo.
2007
Lançamento dos porta-retratos digitais KODAK EASYSHARE, proporcionando aos consumidores um jeito fácil e empolgante de reproduzir apresentações de slide de fotos e vídeos favoritos, mesmo com música.
Lançamento da primeira câmera com a inovadora tecnologia de sensor de imagem CMOS. A câmera digital KODAK EASYSHARE C513 oferecia resolução de 5 megapixels por menos de US$100.
2008
Lançamento, na China, em parceria com a Motorola, de um celular com uma câmera KODAK acoplada ao aparelho.
Lançamento no Japão de um aparelho de TV digital de bolso com telas Oled, tecnologia que permite a produção de aparelhos minúsculos, desenvolvida nos laboratórios da KODAK há 20 anos.
Apresentação dos produtos habilitados para HD (alta definição), incluindo a câmera de vídeo KODAK Zi6 POCKET para fácil fotografia e compartilhamento de vídeos, e o KODAK THEATRE HD PLAYER para a exibição de imagens e vídeos em HDTV.
2010
Lançamento da KODAK PLAYSPORT, uma filmadora e máquina fotográfica compacta à prova d’água.
Lançamento da KODAK SLICE, primeira câmera sensível ao toque da marca direcionada ao consumidor. A câmera, com design diferenciado é considerada um álbum de fotos digital portátil, possuindo 14 megapixels de resolução, zoom óptico de 5x e tela em LCD de 3,5 polegadas touchscreen.


A grande crise
Por mais de 100 anos, a Eastman Kodak Company foi um dos símbolos do capitalismo americano e sinônimo de praticamente todo tipo de tecnologia ou produtos relacionados à fotografia. Sua sede, localizada na cidade de Rochester, extremo oeste do estado de Nova York, quase na fronteira com o Canadá, tornou-se um emblema do poderio da empresa, com sua área gigantesca ocupada por 220 prédios, entre escritórios, unidades de produção de filmes e papel fotográfico. Recentemente, a brutal transformação pela qual a KODAK vem passando nos últimos anos se tornou explícita também na paisagem do complexo industrial, batizado de KODAK PARK (foto abaixo).


Um após o outro, cerca de 100 prédios do complexo foram demolidos — alguns deles de forma espetacular. O objetivo da operação de desmanche, que atingiu seu ápice no segundo semestre de 2007, foi abrir espaço para novas instalações ou simplesmente desocupar terrenos postos à venda pela empresa. A demolição de parte do complexo, que chegou a ser o maior do hemisfério ocidental, foi a etapa final de um gigantesco processo de reestruturação da empresa, uma intervenção que consumiu mais de US$ 6.4 bilhões e ceifou os empregos de cerca de 60.000 pessoas em todo mundo.


Ao contrário do que acontece com pessoas, as empresas nascem, crescem, chegam à maturidade, mas podem simplesmente nunca morrer. A receita para a longevidade de uma corporação está, em larga medida, relacionada à capacidade de adaptação que ela demonstra. Àquelas que não conseguem se metamorfosear está reservado o mesmo destino de qualquer mortal: o desaparecimento. No caso da KODAK, o sofrimento começou com a decadência de seu principal produto, o filme para fotografia. Durante um século, a empresa foi referência absoluta na área, dominando, durante a década de 80, aproximadamente 85% do mercado americano, o mais importante do mundo. O planeta inteiro fotografava com KODAK. Até que em um belo dia essa hegemonia foi quebrada com o aparecimento de uma nova tecnologia, a das câmeras digitais. Em poucos anos, elas invadiram o mercado, deixando a KODAK numa situação frágil. Ironicamente, a empresa americana foi a primeira a desenvolver a tecnologia de fotografia digital, cerca de duas décadas antes de suas rivais. Mas para preservar seu modelo de negócios, baseado no rolo de filme, seus executivos preferiram a estratégia da negação do óbvio. Percebido o erro, a empresa deu duas rápidas guinadas para tentar se adaptar aos novos tempos. A primeira rendeu-lhe, em apenas dois anos, a liderança do mercado de câmeras digitais nos Estados Unidos e a terceira posição do setor em todo o mundo. Isso, porém, não foi suficiente.


A segunda ruptura está em curso e começou com a chegada de Antonio Perez (foto acima) à empresa. Nascido na Espanha, Perez construiu sua carreira durante os 25 anos em que trabalhou como executivo da Hewlett-Packard, nos Estados Unidos. Com vasto conhecimento da área de produtos de consumo digitais — particularmente impressoras —, ele assumiu a presidência da KODAK em 2005 com uma missão clara: salvar a empresa a qualquer custo. Com carta-branca na mão, traçou um ambiciosíssimo plano de reestruturação que foi dividido em três partes. Sua primeira tarefa foi readequar o negócio de fotografia tradicional (o de filmes) ao novo formato da empresa, com o objetivo de obter o máximo de rentabilidade com o mínimo de custo. Os filmes ainda são vendidos — nas projeções da KODAK, eles podem sobreviver ainda uma década —, mas 11 fábricas foram fechadas, inclusive no Brasil; pessoas foram demitidas; e uma parte do complexo de Rochester veio abaixo. A segunda foi montar as bases do negócio de impressão digital, escolhido como o ramo de negócios principal para a empresa. A última tarefa de Perez foi recuperar o combalido balanço financeiro da KODAK, cortando custos e vendendo divisões de negócios que não faziam mais parte da nova estratégia, como a de produtos para saúde. Talvez a melhor imagem para entender a operação de Perez nos últimos quatro anos seja a de alguém que tenta trocar o pneu com o automóvel em movimento. “Considero a reestruturação concluída. Temos novos produtos, novas tecnologias e estamos prontos para crescer. Agora nos cabe posicionar a empresa na liderança desses novos mercados”, diz ele. Trata-se de um desafio monumental. Ao mesmo tempo em que Perez comemorou o fim da reestruturação, a KODAK enfrentou em Wall Street um dos piores momentos de sua história. O aumento dos preços de commodities como alumínio, prata e petróleo, matérias-primas essenciais para a empresa, levou seus executivos a anunciar um reajuste de 20% nos preços dos produtos fotográficos. Com isso, tornou-se uma das primeiras empresas a elevar os preços no então cenário de crise nos Estados Unidos. Resultado: suas ações caíram à sua menor cotação desde 1978. Com o fim da crise, a KODAK parece estar melhor preparada para enfrentar o desafios que virão, mas seu balanço financeiro continua no vermelho, causando prejuízos milionários. Dificilmente a KODAK voltará a ser predominante no mercado como fora nas décadas passadas.


Sua importância na área médica
O papel fundamental da empresa em imagens para a saúde começou menos de um ano após a descoberta dos raios X por Wilhelm Roentgen, em novembro de 1895. No ano seguinte, a empresa lançou sua primeira mídia de captura, o papel fotográfico, designado especificamente para a captura de imagens em raios X. Em 1914, a empresa contratou dois especialistas em radiografia para resolver problemas técnicos de seus clientes e, em 1929, o departamento técnico já contava com 26 colaboradores. Conforme o negócio crescia, a KODAK adaptou seu filme e tecnologia em imagem para atender as necessidades especiais do setor médico. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a empresa criou filmes para detectar a exposição à radiação em pessoas que estavam desenvolvendo a bomba atômica. Durante todas estas décadas, foram desenvolvidos outros filmes com características especiais para aplicações em cardiologia, odontologia, mamografia e oncologia (tratamento radioativo do câncer). Nesse período, processos inovadores melhoraram tanto a qualidade quanto a acessibilidade das imagens em raios X e radiográficas. Em 1956, a processadora X-Omat da KODAK já produzia radiografias finalizadas em apenas seis minutos – e menos de uma década depois, esse tempo foi reduzido para 90 segundos. Com a aquisição do negócio de imagens médicas da Imation, em 1998, a KODAK incorporou os filmes de processamento seco a sua gama de produtos. Os populares sistemas DryView de imagens a laser podem imprimir imagens em filme de fontes de imagens médicas digitais, como tomografia computadorizada e ressonância magnética. Além disso, a empresa desenvolveu filmes e produtos para análise de imagens para cientistas pesquisadores da área biomolecular. Em 2007, a KODAK vendeu a sua área de saúde médica para focar mais nos negócios de imagens ao consumidor e às empresas. Apesar disso, a KODAK escreveu para sempre seu nome na história da medicina.


O nome
A palavra KODAK, criada por George Eastman e registrada como marca no dia 4 de setembro de 1888, teve sua origem a partir de um grande número de combinações de letras, que formassem palavras começando e terminando com “K”, letra pela qual Eastman tinha certa predileção. A intenção era obter uma palavra que representasse todas as necessidades de uma marca: ser curta, impossível de ser mal pronunciada em qualquer idioma e ter uma personalidade forte e inconfundível.


A comunicação
A crença de George Eastman na importância da propaganda, tanto para a empresa quanto para o público, era total. Os primeiros produtos KODAK foram anunciados nos grandes jornais e periódicos da época, e ele redigia suas próprias propagandas. Ele criou o slogan “Você aperta o botão, nós fazemos o resto” ao lançar a câmera KODAK em 1888, e em apenas um ano essa frase ficou conhecida por todos. Em 1897, a palavra KODAK brilhava em um painel luminoso na Trafalgar Square em Londres, um dos primeiros painéis desse tipo usado em publicidade. Mais tarde, com agências publicitárias desenvolvendo suas idéias, revistas, jornais, cartazes e outdoors exibiam a marca KODAK. Em 1950 a empresa colocou em exposição a primeira transparência da série KODAK COLORAMA, com 5,5 m de altura por 18 m de largura, no saguão principal da Grand Central Station na cidade de Nova York. A cada dia, cerca de 650 mil pessoas viam essa bela atração, e muitas das grandes fotografias expostas ano a ano foram motivos de cobertura nos jornais e capas de revista. A exposição acabou definitivamente no início de 1989, quando houve a restauração da Grand Central Station. Participações em exibições em todo o mundo e a “Garota Kodak”, com seu sorriso e diferentes estilos de roupas e câmeras a cada ano, conquistaram os fotógrafos em todas as partes do mundo.


A evolução visual
Início de 1900. A KODAK foi a primeira empresa a integrar nome e visual a um símbolo. Na década de 30, o foco mudou para o nome, se concentrando nas cores vermelha e amarela. A marca passou a apresentar o canto curvo na década de 60. Nos anos 70 reteve as cores vermelha e amarela e o nome KODAK, mas adicionou uma caixa e o elemento gráfico K. Um tipo de fonte mais moderna acentuou o nome KODAK no logotipo existente na década de 80. Em 1996, a caixa foi retirada, simplificando o logotipo. A fonte em forma arredonda e distinta da letra “a” deu ao nome um visual mais contemporâneo. Em 2006 uma nova mudança: as letras foram arredondadas.


Os slogans
Share moments. Share life.
(2001)
Take pictures. Further. (1996)
You press the button, we do the rest. (1888)


Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 1 de janeiro de 1881
● Fundador: George Eastman e Henry Strong
● Sede mundial: Rochester, New York
● Proprietário da marca: Eastman Kodak Company
● Capital aberto: Sim
● Chairman & CEO: Antonio Perez
● Presidente: Philip Faraci
● Faturamento: US$ 7.18 bilhões (2010)
● Lucro: - US$ 687 milhões (2010)
● Valor de mercado: US$ 960.5 milhões (maio/2011)
● Presença global:
200 países
● Presença no Brasil: Sim
● Maiores mercados: Estados Unidos e Canadá
● Funcionários: 18.800
● Segmento: Fotográfico
● Principais produtos: Máquinas digitais e equipamentos de imagens
● Slogan:
Share moments. Share life.
● Website: http://www.kodak.com/

A marca no Brasil
A empresa chegou ao país exatamente no dia 11 de outubro de 1920, quando o presidente Epitácio Pessoa assinou o decreto que autorizava a instalação, no Rio de Janeiro, do primeiro escritório da KODAK. Três décadas mais tarde, em 1954, com a aquisição da fábrica Wessel, em Santo Amaro (São Paulo), a KODAK inicia a fabricação nacional de papéis fotográficos preto-e-branco. No início dos anos 60, foi efetivada a primeira exportação de papéis fotográficos nacionais. Pouco depois, em 1965, ocorreu o lançamento da primeira câmera fotográfica da subsidiária brasileira - a Rio-400 - em homenagem ao centenário da cidade do Rio de Janeiro. Dois anos mais trade, a empresa inaugurou o Centro de Distribuição no Morumbi, em São Paulo. Ao mesmo tempo, iniciou a montagem de câmeras KODAK INSTAMATIC e produção de alguns fotoquímicos para preto-e-branco, em Santo Amaro. Em 1974, a empresa iniciou a produção de papéis fotográficos em cores, eliminando as importações e gerando economia para o país. Três anos depois, a empresa iniciou as operações da nova fábrica de câmeras, em São José dos Campos (São Paulo), época em que foi lançada a famosa câmera de bolso, a “Xereta”. Os anos 80 foram marcados pelo surgimento, em 1986, de programa de lojas KODAK EXPRESS. Nos últimos anos a KODAK introduziu uma campanha para popularização da fotografia, lançando câmeras com preços acessíveis, como a EC 300. Além disso, iniciou a produção de câmeras digitais no Brasil na Zona Franca de Manaus (2006); lançou Multifuncionais Inkjet (2008), introduziu a ZX1, primeira filmadora de bolso da marca no Brasil (2009); e mais recentemente, em 2010, apresentou um novo conceito de loja com a ILHA KODAK e uma câmera fotográfica com tela sensível ao toque.


A marca no mundo
Hoje, a empresa estabeleceu suas operações de manufatura na América do Norte, América do Sul, Europa e Ásia, e os produtos KODAK estão disponíveis em praticamente todos os países do mundo. A empresa tem 70% de seu faturamento de US$ 7.1 bilhões derivado dos produtos e serviços de fotografia. Mais de 75 milhões de pessoas em todo o mundo gerenciam, compartilham e criam presentes em fotos online na KODAK GALLERY. Além disso, no mercado de comunicação gráfica, a KODAK oferece o mais amplo portfólio de soluções integradas para ajudar os clientes a ampliar seus negócios.

Você sabia?
A empresa é chamada de Big Yellow Father (Grande Pai Amarelo), apelido que a KODAK tem na cidade de Rochester, onde está localizada sua sede mundial.
A KODAK trabalhou com a NASA em missões de sensoriamento remoto e ciência espacial por mais de 40 anos. Quando John Glenn tornou-se o primeiro astronauta americano a entrar na órbita da Terra, o filme KODAK capturou suas reações e emoções ao viajar no espaço a uma velocidade de 28 mil quilômetros por hora. Quando Glenn voltou ao espaço, mais de 35 anos depois, ele operou uma câmera digital modificada da KODAK para documentar a histórica missão espacial.


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Exame, Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Time), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers).

Última atualização em 25/5/2011

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