Um frasquinho bastante famoso pelo conteúdo negro cheio de segredos, aroma contagiante e sabor absolutamente único e cativante. Um inconfundível rótulo laranja com uma assinatura que a boa gastronomia reconhece de longe. É um intensificador de sabor utilizado em várias receitas de diferentes culturas. Mais de 180 anos de existência depois o tradicional molho de Worcestershire Lea & Perrins, conhecido popularmente como molho inglês, garantiu seu lugar de destaque nas melhores cozinhas, restaurantes, bares e banquetes palacianos do mundo todo.
A história
Conta a tradição que o lorde Marcus Sandys era um apreciador das coisas boas da vida. Nascido na região de Worcester, cidade inglesa conhecida pela indústria alimentícia e renomada porcelana, foi para a Índia no início do século 19, na época controlada pelo Império Britânico. Desembarcando ali, na província de Bengala, da qual viria se tornar governador, uma de suas primeiras iniciativas foi procurar um grande cozinheiro. Encontrou um mestre em forno e fogão que, além de preparar-lhe pratos elegantes, temperava-os com um molho escuro e condimentado. Esse cozinheiro se tornara conhecido por essa criação e não revelava a fórmula a ninguém. Antes de regressar à Inglaterra, porém, lorde Sandys conseguiu que ele lhe entregasse a receita do tal molho. Então, mandou comprar os ingredientes e especiarias, colocou-as na bagagem e voltou para casa.
Em 1835, chegando a Worcester, contratou dois químicos loais, John Wheeley Lea e William Henry Perrins, então proprietários de uma pequena farmácia de manipulações químico-farmacêutica fundada em 1823, e entregou uma série de ingredientes do mar e da terra: anchovas fermentadas, alho, cravo-da-índia, échalote (bulbo assemelhado à cebola), extrato de carne, melaço, molho de soja, pimenta-do-reino, essência de tamarindo e vinagre de malte. Confiou-lhes também a receita do cozinheiro indiano e encomendou alguns litros do molho. Algum tempo depois, lorde Sandys apareceu para provar o resultado. Nem ele nem Lea e Perrins gostaram, deparando-se com um molho desastroso e intragável. Como o cliente nunca mais apareceu, os donos da farmácia acabaram esquecendo o barril do condimento em uma prateleira empoeirada do porão. Quase dois anos depois, os proprietários precisaram de espaço e uma faxina se fez necessária. Foi quando lembraram do tal molho e resolveram experimentá-lo. Para surpresa, o líquido rejeitado no início, agora fermentado, havia amadurecido e se transformado em um molho divino de sabor especial. O molho era tão delicioso que eles decidiram colocá-lo à venda.
Em 1837 eles começaram a produzi-lo em grande escala. Nascia assim, com a marca Lea & Perrins, o agora cosmopolita Worcestershire Sauce (pronuncia-se “woost ur sháire sóce”), literalmente molho da região de Worcester, ou simplesmente molho inglês original como ficou conhecido no mundo inteiro. Rótulos originais alimentavam ainda mais fantasia sobre a história verdadeira do tal molho, pois não mencionavam a identidade do tal barão ou, para muitos, baronesa. Explicavam apenas que o molho procedia de “from the recipe of a nobleman in the county” (algo como “da receita de um nobre do condado”). Entretanto, inspirado por homem ou mulher, o molho worcestershire é hoje é uma das invenções britânicas mais conhecidas no mundo. Sem nenhum tipo de publicidade, em poucos anos, o molho se tornou presença constante nas cozinhas europeias e restaurantes.
O molho chegou aos Estados Unidos em 1839, quando um empreendedor da cidade de Nova York chamado John Duncan importou pequenas quantidades dos vidrinhos para vendê-los no mercado americano. Em um espaço curto de tempo, John estava importando grandes carregamentos do molho para atender a demanda americana. Nesta época, o molho inglês Lea & Perrins era o único condimento engarrafado do mercado americano e os consumidores pareciam adorá-lo. Em 1843 aproximadamente 14.500 vidros do tradicional molho eram produzidos e vendidos. Já em 1875 o molho começou a ser exportado para a Austrália e Nova Zelândia. No dia 16 de outubro de 1897, para atender a alta demanda pelo produto, foi construída uma nova fábrica, até hoje uma histórica edificação de tijolos vermelhos com portão de ferro laranja, onde o molho continua sendo produzido. Nesta época o icônico rótulo laranja já havia sido adicionado a todas as garrafas para garantir que se destacassem dos concorrentes imitadores. Sua popularidade e qualidade eram tão grandes que em 1904 a Lea & Perrins recebeu a Garantia Real concedida pela Rainha da Inglaterra, atestando sua excelência e qualidade.
Em 1921 um famoso drinque chamado Blood Mary foi revivido pelo barman Fernand Petiot do Harry’s New York Bar de Paris quando este misturou vodca, suco de tomate e algumas gotinhas do molho Lea & Perrins. E estas gotinhas foram o suficiente para que o molho Lea & Perrins se tornasse ainda mais famoso, agora em bares. Em 1930 a operação da empresa Lea & Perrins foi adquirida pela HP Foods. Com seu inconfundível sabor e utilizado em várias receitas de diferentes culturas, nas décadas seguintes o molho Lea & Perrins foi introduzido em inúmeros mercados pelo mundo afora, como no francês, onde Lea & Perrins foi lançado em 1941. E durante a Segunda Guerra Mundial, os bombardeios alemães contra a Inglaterra destruíram o local onde eram impressos os rótulos laranjas do molho, mas não as garrafinhas. Elas continuaram a acondicionar o molho. Etiquetas improvisadas, em preto e branco, explicavam aos consumidores: “Senhores, a empresa Lea & Perrins foi obrigada a usar este rótulo devido à destruição do estabelecimento de sua impressora pela ação inimiga”. Em 2005 a empresa americana H.J. Heinz Company comprou por US$ 820 milhões a marca que pertencia á francesa Danone.
Nos anos seguintes outras variações do famoso molho foram lançadas no mercado americano como, por exemplo, LEA & PERRINS MARINADE FOR CHICKEN (um molho especial para frangos feito com vinagre branco, alho e ervas selecionadas), LEA & PERRINS TRADITIONAL STEAK SAUCE (uma mistura de molho para carnes com o tradicional Worcestershire Sauce) e LEA & PERRINS THICK CLASSIC WORCESTERHIRE SAUCE (o clássico sabor tradicional em um molho mais grosso), além de uma versão com teor de sódio reduzido.
Em 2011 a marca lançou uma criativa campanha publicitária no Reino Unido, seu maior e mais importante mercado (possui mais de 90% de participação no segmento), para lembrar aos consumidores que o molho Lea & Perrins pode ser um ótimo complemento para uma variedade de receitas deliciosas. Ou seja, a adição de uma pitada do tradicional molho pode enriquecer instantaneamente as refeições. A campanha era composta por anúncios impressos com os dizeres: LEAsagne, Spaghetti BoLEAgnese e ChilLEA Con Carne. Tudo acompanhado pela frase “Enrich the flavour by adding a dash of Lea & Perrins Worcestershire Sauce while cooking” (algo como “Enriqueça o sabor adicionando uma pitada de molho Lea & Perrins Worcestershire enquanto cozinha”).
Atualmente, apesar da fórmula exata do molho ser secreta, guardada em um cofre pela Lea & Perrins, é sabido que consiste em: anchovas em salmoura, pimentas, pasta de tamarindos, alho, cebola, vinagre de malte de cevada, vinagre de aguardente, cravo-da-índia, échalote e açúcar. Alguns dos ingredientes adicionais podem incluir limões, molho de soja, picles e pimentões. Seu enorme sucesso no mundo inteiro é devido a sua versatilidade, podendo ser utilizado em sopas, molhos, marinados, ensopados, cozidos, grelhados, suco de tomate, saladas (como a famosa Caesar Salad), drinques como Bloody Mary, entradas como coquetel de camarões, além de ser um apreciado condimento de mesa para suculentos hambúrgueres e carnes. Pode ser usado ainda em peixes e frango, quando misturados a outros ingredientes.
A produção
O molho Lea & Perrins é produzido desde 1897 em uma fábrica na cidade de Worcester, apesar de ter sido comandada pelo Exército Britânico durante a Segunda Guerra Mundial e sofrer um incêndio em 1964. Já a subsidiária nos Estados Unidos fabrica a versão americana da receita do molho. A primeira parte do processo envolve a maturação dos principais ingredientes do molho em grandes barris no porão da fábrica por 18 meses. As cebolas inteiras e as cabeças de alho são embaladas em barris em vinagre de malte, enquanto as anchovas (provenientes da Espanha) são embaladas em salmoura, amadurecendo para obter o sabor delicioso e instantaneamente reconhecível que torna Lea & Perrins diferente de qualquer outro molho. Uma vez concluída a maturação dos ingredientes, eles são reunidos em um imenso recipiente de mistura, antes de serem transferidos para cubas ainda maiores para amadurecer mais ainda. Finalmente o molho concentrado é diluído, filtrado e esterilizado, pronto para ser engarrafado.
O famoso embrulho
O molho Lea & Perrins começou a ser exportado para alguns países do mundo primeiramente de barco. Durante a viagem pelo mar algumas garrafas se quebravam. Foi então, que para protegê-las, a empresa teve a ideia de embrulhá-las individualmente em um papel grosso de cor bege para que não se quebrassem durante a viagem. Com o passar do tempo e a evolução do transporte de mercadorias, o papel já não era mais necessário para prevenir acidentes. Mas, mesmo assim, a empresa manteve-o em alguns mercados em suas garrafas como forma de simbolizar a rica história da marca e sua qualidade. Como por exemplo, nos Estados Unidos, onde as garrafas de 150 ml são embrulhadas em papel bege, que lhe dão charme com a expressão: “Unrwap the flavor” (desenrole/desembrulhe o sabor).
Já na imagem abaixo é possível acompanhar a evolução das embalagens com seu tradicional rótulo laranja (utilizado pela primeira vez no final dos anos de 1890). A última remodelação no tradicional rótulo laranja ocorreu em 2011.
A evolução visual
A identidade visual da marca passou por algumas remodelações história da marca. Utilizando fontes de letra diferentes no decorrer dos tempos, o logotipo apresentou também diferentes disposições no posicionamento do nome Lea & Perrins.
Além do logotipo, a marca utiliza como reconhecimento visual em sua comunicação elementos de seu tradicional rótulo, como por exemplo, a assinatura de Lea & Perrins, como pode ser visto na imagem abaixo.
Já no mercado americano a marca Lea & Perrins utiliza uma identidade visual diferente, incluindo o rótulo.
Os slogans
Unwrap the flavor. (2016)
A dash makes all the difference. (2011)
The taste of authenticity.
The original and Genuine.
Unwrap the possibilities.
What a Difference Lea & Perrins Makes! (2005)
How did you discover it?
Steak sauce only a cow could hate.
Lea & Perrins. The burger booster.
Dados corporativos
● Origem: Inglaterra
● Lançamento: 1837
● Criador: John Wheeley Lea e William Henry Perrins
● Sede mundial: Worcester, Inglaterra
● Proprietário da marca: Lea & Perrins Limited
● Capital aberto: Não (subsidiária da The Kraft Heinz Company)
● CEO: Miguel Patricio
● Faturamento: Não divulgado
● Lucro: Não divulgado
● Presença global: 130 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 300
● Segmento: Alimentos
● Principais produtos: Molhos e condimentos
● Concorrentes diretos: A1® Steak Sauce, French’s Worcestershire Sauce, Bull-Dog Worcestershire Sauce e The Wizrd’s Sauce
● Ícones: O rótulo laranja
● Slogan: A dash makes all the difference.
● Website: www.leaandperrins.co.uk
A marca no mundo
O famoso molho inglês Lea & Perrins pode ser encontrado em mais de 130 países ao redor do mundo e vende anualmente mais de 43 milhões de garrafas. Em cada país o molho é consumidor de um jeito, como por exemplo, na Inglaterra onde é muito utilizado em queijo quente, já na Espanha o molho vai muito bem com saladas e em Hong Kong é utilizado em cima de carnes e grelhados. A marca Lea & Perrins pertence á empresa The Kraft Heinz Company, proprietária do famoso ketchup Heinz e do cream cheese Philadelphia.
Você sabia?
● Na época em que os navios de passageiros era o must do transporte mundial, John Lea e William Perrins fecharam um acordo com os comissários de bordo ingleses. Nele, as garrafinhas deveriam constar sobre todas as mesas de refeição.
● Em 1970 arqueólogos que escavavam as ruínas de Te Wairoa, na Nova Zelândia, encontraram uma garrafa do molho Lea & Perrins. A vila havia sido soterrada pela lava do vulcão Tarawera em 1886.
● Os molhos Lea & Perrins não tem colesterol, são livres de gordura e preservativos, além de conterem 80% menos sódio que os molhos de soja.
● Lea & Perrins é a única invenção inglesa que recebeu o direito de ostentar, por decisão da Câmara Alta, o honroso título de “Original e Genuíno”.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Forbes, BusinessWeek e Exame), sites de notícias (BBC), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 5/8/2020
Boa noite! Que prazer ler esse texto. Pude conhecer mais sobre este tempero que aprendi a apreciar com meu falecido pai. Ele adorava temperar quase tudo com Molho Inglês. Caso você conheça ONDE, aqui no Brasil, podemos comprar o legítimo Lea & Perrins, eu ficaria muito grato pela indicação. Grande Abraço, Helder Martins, Petrópolis-RJ.
ResponderExcluirBanca do Ramon, no Mercado Municipal, mas também vende pela internet.
ExcluirNão passo sem !!
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