Você passaria horas na fila de um restaurante? Centenas de milhares de pessoas fazem isso todos os anos para poder comer deliciosos hambúrgueres e outras gostosuras, em mesas cobertas por icônicas toalhas quadriculadas em vermelho e branco, em um ambiente escurinho e recheado de itens nostálgicos. Famoso e lendário na cidade de Nova York, e agora também em São Paulo, o tradicional P.J.Clarke’s contabiliza mais de 130 anos de história e inúmeros clientes pra lá de famosos.
A história
Embora grande parte da história do P.J. Clarke’s tenha sido extraordinariamente preservada, os primeiros dias do lendário bar são obscuros. O que se sabe é que o edifício de tijolo vermelho, localizado no número 915 na esquina da 3ª Avenida com a Rua 55, em Nova York, foi construído em 1868 para fins não declarados sobre uma parcela de terreno e registrado na cidade simplesmente como “barraco”. Em algum momento no ano de 1884, o edifício foi convertido em um simpático bar pelo senhor Jennings, que viu uma oportunidade para servir os muitos trabalhadores irlandeses que voltavam dos seus empregos nos matadouros do bairro, cervejarias, fábricas, curtumes e locais de construção. Em 1902, outro imigrante irlandês, Patrick Joseph Clarke, também conhecido como “Paddy”, chegou em Nova York e foi contratado pelo Sr. Duneen, então proprietário do local, como bartender. O que ficou do primeiro proprietário, o Sr. Jennings, ou quando exatamente a propriedade foi transferida para o Sr. Duneen é desconhecido. “Paddy” atendia no balcão e gerenciou o salão por dez anos antes de economizar o suficiente para comprá-lo completamente do Sr. Duneen em 1912 e o rebatizar com seu nome: P.J. Clarke’s.
Nesta época, mudanças significativas começaram a ocorrer no bairro em volta do pequeno bar de tijolo vermelho. Matadouros foram deslocados para bairros mais afastados, apartamentos de luxo foram demolidos para abrir espaço para apartamentos de classe média. A poucos quarteirões a oeste, o Rockefeller Plaza foi construído, trazendo com ele uma onda de executivos, editores, repórteres e magnatas da mídia. Com essa agitação cultural e econômica, o P.J. Clarke’s manteve-se teimosamente, desafiadoramente e orgulhosamente o mesmo: um charmoso bar-restaurante com clima de pub irlandês. Apesar disso - ou, mais provavelmente, por causa disso - o bar prosperou. A lei seca foi apenas um contratempo, quando P.J. usava suas discretas janelas para vender álcool para clientes habituais. Crianças e mulheres, proibidos de entrar nos bares até a década de 1960, vinham até o P.J. para encher baldes de cerveja escondidos da polícia local. Na década de 1940, o P.J. Clarke’s já era uma instituição local. O ainda jovem Frank Sinatra terminava suas noites na mesa 20 (sua preferida e era conhecido por deixar gorjetas generosas para os garçons). Louis Armstrong usava a sala de trás do P.J. Clarke’s para tocar trompete durante a madrugada. O cantor Johnny Mercer escreveu a música “One for My Baby” em um guardanapo de papel sentado no balcão do bar. Charles R. Jackson, autor do clássico livro The Lost Weekend, era cliente frequente, e as cenas do filme premiado e baseado no livro foram filmadas lá. E, assim, a lenda cresceu.
Em 23 de abril de 1948, Patrick J. Clarke faleceu e sua família vendeu o bar para os seus vizinhos do andar superior, os Lavezzos - que eram restauradores e tinham um antiquário. Na época, os Lavezzos também compraram o pequeno prédio de tijolo vermelho pela módica quantia de US$ 19.000. Quando o trilho da Third Avenue foi demolido em 1955, o mundo em torno do P.J. Clarke’s mudou mais uma vez. Os preços dos imóveis explodiram, somas exorbitantes forçaram as pequenas empresas a sair do bairro e arranha-céus cresceram por todos os lados. Apesar da pressão financeira das incorporadoras, a família Lavezzos se recusou a vender o imóvel. Finalmente, em 1967, a família negociou um contrato de 99 anos com um desenvolvedor, garantindo o futuro do bar. Nas palavras do jornal The New York Times, foi “Davi que prevaleceu sobre Golias”. Nas décadas seguintes, a cidade continuou a mudar em volta do P.J. Clarke’s, e o restaurante continuou exatamente o mesmo, servindo moradores, trabalhadores, executivos e celebridades. O cantor Buddy Holly pediu sua futura esposa em casamento ali. Elizabeth Taylor gostava de tomar um drinque à tarde. Richard Harris era conhecido por seu apetite pelas vodcas duplas. Jackie Kennedy, que adorava a salada de espinafre, almoçava com seus filhos, John Jr. e Caroline, e Nat King Cole batizou o bacon cheeseburger como “O Cadillac dos Hambúrgueres”, estabelecendo o nome do que se tornaria o prato ícone do restaurante até os dias de hoje.
Com isso, o P.J.Clarke’s se tornou um verdadeiro ícone nova-iorquino por sua história, seus lendários e suculentos hambúrgueres, além de todas essas celebridades, intelectuais e jornalistas boêmios que circulavam pelo restaurante. No início do ano 2000, o P.J. Clarke’s, junto com o resto da cidade, sofreu com a crise econômica, caindo em decadência e abandono. Depois de um período de incertezas, foi adquirido, em 2002, por Arnold Penner, o restauranteur Philip Scotti e um grupo de investidores, incluindo George Steinbrenner e Timothy Hutton. Naturalmente, os frequentadores assíduos ficaram preocupados e nervosos sobre o que a mudança de propriedade poderia causar ao lendário bar. Repentinamente, os novos donos fecharam para “reforma” e a ansiedade cresceu. Quando o P.J. Clarke’s reabriu, um ano, um mês e um dia depois, eles descobriram que, além de uma limpeza muito necessária e melhorias de infraestrutura, tudo foi exatamente mantido como era antes, até os mínimos detalhes. O P.J. Clarke’s estava de volta. Melhor do que nunca. O mesmo que sempre foi.
Inicialmente, frequentadores antigos torceram o nariz quando o “seu bar favorito” foi vendido e a mistura de públicos que isso causou. Além de jornalistas e intelectuais, agora o P.J. Clarke’s é também ponto de encontro de yuppies do mercado financeiro. Além disso, em 2003, ocorreu a inauguração do SIDECAR, restaurante e sala privativa no andar superior onde moravam os Lavezzos, antigos proprietários, destinado para atender grupos e eventos. Os novos proprietários decidiram também ampliar o negócio. Abriram mais dois endereços em Nova York: 2006 em Hudson, próximo ao Ground Zero; e, em 2007, na Lincoln Square.
A rede começou sua expansão internacional no dia 7 de novembro de 2008 quando inaugurou seu primeiro estabelecimento fora de Manhattan, a unidade da capital Washington, a duas quadras da Casa Branca, seria inaugurada somente em 2010. E a cidade escolhida foi justamente São Paulo. A filial brasileira era a imagem e semelhança do original: toalhas quadriculadas em vermelho e branco, sofás vermelhos, ambiente escurinho, um enorme balcão de carvalho americano com 8 metros de comprimento (onde o barman prepara os drinques de frente para o cliente, como manda a tradição), luminárias art-decó (que conferem a conhecida iluminação amarelada, quente e aconchegante), fotos antigas e recortes de jornal nas paredes, e muita, muita gente na fila de espera. O sucesso foi imediato, apenas no primeiro final de semana aproximadamente 3 mil pessoas passaram pelo restaurante, fazendo com que, no sábado à noite, já não houvesse hambúrgueres e pastéis para servir. Na viagem para o Brasil, o cardápio do P.J.Clarke’s sofreu algumas alterações. A espiga de milho no espeto não veio, assim como a salada de espinafre cru e o sanduíche de costela. No lugar, inicialmente entraram pratos brasileiros desenvolvidos pelo chef Bruno Fischetti, como a manjubinha frita, o bolinho de arroz, o pudim de leite e os pastéis, desses últimos, Philip Scotti gostou tanto que resolveu copiá-los em Nova York.
Os doces, reproduzidos aqui pela chef pâtissier Daniela Aliperti, ficaram melhores do que os originais: seu cheesecake com calda de frutas vermelhas é, esse sim, o Cadillac dos cheesecakes. Ah, e tem o tradicional e famoso hambúrguer, a principal atração do bar-restaurante com clima de pub. Alto, rosado por dentro, feitos à mão e na chapa, no tamanho normal ou na versão mini, com três unidades guarnecidas de queijos diferentes ou cogumelos. Para acompanhar, as cebolas em rodelas finíssimas empanadas com delicadeza. E as P.J.’s home fries, batatas cortadas e assadas com casca, temperadas com cebola caramelada. Além disso, o P.J. oferece uma carta de vinhos, boas cervejas, drinques (como o Patrick Joseph Sidecar, um coquetel assinatura da rede que leva conhaque, Cointreau e limão) e uma quantidade razoável de pratos rápidos. Entre eles, grelhados, saladas e deliciosas entradas e petiscos como bolinho frito de batata com parmesão, bolinho de arroz com lulas e camarões, croquetes de carne e ovos poché (conhecidos como bennedict). O sucesso foi tanto, que no final de 2012, a rede inaugurou uma segunda unidade na Rua Oscar Freire. E não parou por aí. Em agosto de 2014 foi inaugurada uma unidade no bairro carioca do Leblon, que contava com uma novidade: Oyster Bar, um espaço onde o cliente pode degustar ostras frescas em porções de 6, 12 ou 18 unidades, acompanhadas de chutney com tomate ou vinagrete da casa. Pouco depois, mais uma unidade foi inaugurada na Barra da Tijuca.
Monumento cultural e arquitetônico da cidade de Nova York, o P.J. Clarke’s resistiu a grande depressão americana, a lei seca, a duas guerras mundiais, um ataque terrorista e à construção em massa de prédios e torres de escritórios. Em cada endereço do P.J. Clarke’s, é possível encontrar o mesmo sabor local (incluindo um ícone chamado The Cadillac, um suculento hambúrguer com cheddar, bacon, alface e tomate), um clima autêntico, barmans e garçons amigáveis e uma comida tão excelente quanto a original.
Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 1884
● Fundador: Patrick J. Clarke
● Sede mundial: New York City, New York, Estados Unidos
● Proprietário da marca: The Clarkes’ Group LLC
● Capital aberto: Não
● CEO & Presidente: Philip Scotti
● Faturamento: Não divulgado
● Lucro: Não divulgado
● Restaurantes: 8
● Presença global: 2 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 500
● Segmento: Restaurantes casuais
● Principais produtos: Hambúrgueres, batatas-frita, petiscos e drinques
● Concorrentes diretos: BareBurger, 5 Napkin Burger, Burger Joint, America e Lanchonete da Cidade
● Ícones: As toalhas quadriculadas e o hambúrguer The Cadillac
● Website: www.pjclarkes.com.br
A marca no mundo
O famoso e icônico P.J.Clarke’s possui três endereços em Manhattan, um na capital Washington e quatro no Brasil (sendo dois na cidade de São Paulo e dois no Rio de Janeiro). Cada restaurante possui uma pequena lojinha de lembranças onde os clientes podem adquirir camisetas, bonés, canecas, chaveiros, adesivos e outros itens com a marca P.J. Clarke’s.
Você sabia?
● O P.J. Clarke’s já teve uma mascote. Era um cachorro chamado “Skippy”, que morreu atropelado por um carro em 1963.
● Charlie Clarke, gerente do bar e sobrinho do fundador, se aposentou em 1969.
● O personagem Popeye pede um hambúrguer do P.J. Clarke’s em uma cena do filme French Connection II, de 1975.
● Em 1985, o jogador de beisebol Phil Kennedy diz para seus companheiros de equipe que ele quer que suas cinzas sejam mantidas no P.J. Clarke’s. Quando ele morre, sua mulher as entrega para o restaurante onde permanecem atrás do bar até hoje.
● A atriz Brooke Shields celebrou o batizado da sua filha com uma refeição de comemoração no P.J. Clarke’s, assim como seu pai havia feito com ela.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek, Isto é Dinheiro, Exame e Veja), jornais (Valor Econômico, Folha e Estadão), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 25/7/2016
O ambiente parece ser ótimo!
ResponderExcluirAh, e eu adoro seu blog..
=)
Sim! o ambiente é excelente, eo excelente comida. O pessoal é muito agradável e também gastam boa música. Eu o conheci por acaso, quando eu saí com meu namorado. Agora, ele é um dos meus restaurantes em itaim bibi favoritos!
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