Assuntos e notícias relevantes, mas também irrelevantes. Intermináveis listas dos mais variados assuntos. Testes bem-humorados. Fotos de animais com legendas divertidas. O uso frequente de GIFs (animações curtas). A criação de memes (uma espécie de piada interna da internet). Vídeos que se tornam virais. E uma linguagem própria das redes sociais. Muito prazer, eu sou o BuzzFeed, site que se tornou um dos maiores fenômenos da internet. Talvez você nunca tenha entrado diretamente no BuzzFeed, mas certamente já esbarrou em algum assunto que surgiu ali. Pode ser a lista das “48 coisas que vão te fazer chorar de saudade dos anos 90” ou o teste “Quem é você na novela das 9”.
A história
Para contar a história do BuzzFeed é preciso voltar ao ano de 2001, época em que o mundo online vivia sua pré-história. Afinal, a internet servia basicamente para acessar sites pouco interativos, trocar e-mails e mensagens por programas de bate-papo. No mês de fevereiro desse ano, Jonah Peretti, um americano de 27 anos, navegava na web à procura de uma distração, pois estava sem inspiração para finalizar o trabalho da pós-graduação do Media Lab, laboratório de tecnologia do renomado MIT (Massachusetts Institute of Technology). Foi então que ele encontrou o anúncio de um tênis em uma loja virtual da Nike que podia ser personalizado com uma palavra enviada online. Mandou a expressão “sweatshop” (em inglês, um local de trabalho com condições precárias). Nesta época a Nike sofria acusações de trabalho infantil nas fábricas da Ásia. E ele recebeu uma resposta por e-mail dizendo que o pedido violava as regras da loja. Após uma troca de mensagens, ele escreveu: “Vou pedir o tênis com outra palavra. Só gostaria de um pequeno favor: vocês teriam como me enviar a foto da garota vietnamita de 10 anos que irá fabricá-lo?”. A Nike não lhe respondeu. Peretti pegou a troca de e-mails e a enviou a dez amigos contando o ocorrido, que mandaram para mais dez, e assim a história se espalhou. Em poucos dias, ele havia recebido mais de 3.500 mensagens comentando a iniciativa. O fato virou notícia, e ele foi parar na bancada de um programa popular de TV para debater o caso com um executivo da Nike. Sem querer, Peretti havia criado seu primeiro viral na internet.
Essa história da Nike seria a faísca para aquilo que anos mais tarde se transformaria em um dos maiores fenômenos da internet: o BuzzFeed. Depois de ser um dos fundadores em 2005 do site de jornalismo e notícias The Huffington Post, no ano de 2006 o empreendedor digital, juntamente com Kenneth Lerer e John S. Johnson III, fundou na cidade de Nova York o BuzzFeed Labs, como um laboratório experimental para testar, controlar e criar conteúdo viral na internet. A ideia inicial era simplesmente listar automaticamente os principais conteúdos virais que corriam na internet, com uma produção eventual de material próprio. Sem agenda de lançamento eles incluíram: tentar quebrar uma garrafa de cerveja pela metade para uso como um canivete em uma briga de bar, jornalismo cidadão investigando um incêndio na ponte de Manhattan e a criação de uma bebida energética de licor usando cerveja e uma lata de Red Bull. Mas em 2008 os rumos mudaram: em vez de acompanhar os memes — aquele tipo de postagem em que há uma foto com uma frase supostamente engraçada, por exemplo —, o BuzzFeed passou a criá-los.
Nos anos seguintes o BuzzFeed foi aumentando seu conteúdo e, consequentemente, seu alcance, principalmente com a popularização das redes sociais. Uma lista bem-humorada de imagens relacionando “30 coisas que somente hipocondríacos vão entender”. Outra, irresistível, mostrando fotos de “32 gatos curiosos demais para o seu próprio bem”. E até matérias jornalísticas. Foi a partir de combinações inusitadas de chamadas como essas que o BuzzFeed se tornou sinônimo de relevância e conteúdo viral na internet. E esse jeito de fazer as coisas, adotado pelo site, provou-se incrivelmente popular entre os jovens internautas nos anos seguintes.
Em 2011, Peretti trouxe para o time do BuzzFeed o jornalista Ben Smith, um blogueiro e colunista de política de enorme sucesso nos Estados Unidos. A ideia era fazer o site ir além das listas engraçadinhas e das fotografias de bichos fofos. Peretti queria fazer jornalismo. Entre testes engraçados e gatos, começaram a surgir notícias e reportagens. E deu certo. Não demorou muito para que a nova parceria rendesse frutos. No início de janeiro de 2012, menos de 15 dias depois de Smith ter assumido o cargo de editor-chefe, o BuzzFeed furou diversos veículos jornalísticos tradicionais ao revelar que o republicano John McCain apoiaria a candidatura de Mitt Romney à presidência dos Estados Unidos nas eleições daquele ano. Com repercussão em grandes nomes da imprensa americana, como o The New York Times e o Washington Post, o furo mostrou uma faceta até então pouco conhecida do site: sua capacidade de produzir jornalismo sério, político e de impacto. O BuzzFeed também teve papel fundamental na cobertura dos atentados na maratona de Boston em 2013. A partir de então o BuzzFeed começou a expandir seu conteúdo de notícias em editoriais tradicionais como Política, Negócios, Tecnologia e Mundo, além de produzir reportagens especiais.
O que possibilitou Peretti investir em jornalismo foi um caminhão de dinheiro depositado por investidores americanos. Primeiro o BuzzFeed recebeu US$ 50 milhões do fundo de investimento Andreessen Horowitz, um dos mais influentes do Vale do Silício. A empresa abriu escritório em diversos países, incluindo o Brasil, onde o site em português foi lançado em 2013, em sua primeira investida fora dos países de língua inglesa. Por aqui, há uma redação de jornalistas. Além disso, a empresa criou a divisão de vídeos, sob o pomposo nome de BuzzFeed Motion Pictures, e construiu um moderno estúdio em Los Angeles para produção de vídeos com conteúdo original e sob encomenda para anunciantes — outra nova fonte de receita. Ao mesmo tempo, tem correspondentes internacionais em zonas de conflito. E mais recentemente criou um núcleo de reportagens investigativas, liderado por Mark Schoofs, jornalista vencedor do Prêmio Pulitzer. Ao longo de 2014, o número de funcionários saltou de 350 para 700 e o faturamento ultrapassou a marca dos US$ 100 milhões. O que começou como uma coleção de fotos de gatos e listas divertidas agora cobre a crise em Gaza (sem abandonar, claro, os gatos e listas). O sucesso é tamanho, que o BuzzFeed foi avaliado em mais de três vezes o valor do tradicional jornal The Washington Post, famoso por revelar o escândalo de Watergate que derrubou o presidente americano Richard Nixon.
Mesmo uma simples imagem pode virar um enorme sucesso em poucos minutos pelas mãos do BuzzFeed. Um exemplo recente foi a polêmica envolvendo a cor de um vestido que estava na vitrine de uma loja em Londres. Dependendo de quem olhava a foto, via o vestido branco e dourado ou preto e azul. A repercussão foi global. Apresentadores de TV brincavam ao vivo para saber quais eram as cores corretas. A jornalista Poliana Abritta chegou a apresentar o Fantástico, da Rede Globo, com o vestido. Mas o segredo do sucesso do BuzzFeed como empresa não está em somente atrair audiência com conteúdo superficial. A empresa conseguiu adequar seu modelo editorial às demandas do mercado publicitário. Por exemplo, empresas como Pepsi-Cola e BMW pagam ao BuzzFeed para que se crie listas, jogos e outros conteúdos relacionados. Cada campanha pode custar até US$ 100 mil.
Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 2006
● Fundador: Jonah Peretti, Kenneth Lerer e John S. Johnson III
● Sede mundial: New York City, New York, Estados Unidos
● Proprietário da marca: BuzzFeed Inc.
● Capital aberto: Não
● CEO: Jonah Peretti
● Presidente: Gregory Coleman
● Faturamento: US$ 100 milhões (2014)
● Lucro: Não divulgado
● Presença global: 100 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 780
● Segmento: Mídia digital
● Principais produtos: Site de notícias e entretenimento
● Concorrentes diretos: The Huffington Post, Play Buzz, FOX News, NBC News e Yahoo!
● Ícones: As listas bem-humoradas
● Slogan: The Media Company for the Social Age.
● Website: www.buzzfeed.com/?country=br
A marca no mundo
Atualmente o BuzzFeed, que possui sites em idiomas como português, inglês, espanhol, alemão e francês, tem mais de 200 milhões de visitantes mensais, provenientes de mais de 100 países. A maior parte da audiência, 75%, vem de textos do BuzzFeed publicados em redes sociais, como Facebook e Twitter. O agregador de conteúdos virais não apenas tem alguns dos artigos mais compartilhados na internet, como também é um dos sites mais influentes do mundo, segundo o Technorati. Hoje em dia emprega 780 pessoas em Nova York, Londres, Sydney e Paris, entre outras cidades, sendo mais de 250 envolvidos diretamente com a cobertura de política, esporte, negócios, entretenimento e viagem. O BuzzFeed está avaliado, segundo estimativas do mercado, em aproximadamente US$ 1 bilhão.
Você sabia?
● O BuzzFeed é reconhecido como a “bíblia dos modernos”: seus textos mesclam notícias a conteúdos descompromissados, humor e, evidentemente, memes. Seu valor: vender distração, assim como fazem seus concorrentes Twitter e Facebook.
● Graças aos avançados recursos analíticos e investimentos em ferramentas capazes de cruzar uma série de informações e serviços, os editores do BuzzFeed sabem exatamente o que precisa ser dito – e como – para conseguir que o maior número possível de pessoas compartilhem um conteúdo.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, BusinessWeek, Exame, Ito é Dinheiro e Época Negócios), jornais (Meio Mensagem e O Globo), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 4/12/2015
Faz um post da código girls
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