12.7.19

HOEGAARDEN


Leve, refrescante e, principalmente, aromática. Assim é a Hoegaarden, uma das cervejas belgas mais famosas no mundo. De coloração amarelada e turva (devido à presença de proteínas e fermento no líquido) e espuma branca e abundante, a Hoegaarden se tornou um enorme sucesso em muitos países pelo mundo afora. 

A história 
Para começar a contar a história da Hoegaarden, que é sinônimo de cerveja artesanal Witbier, é preciso retornar ao longínquo ano de 1445. Nesta época a Bélgica ainda era parte integrante da Holanda, formada por uma série de colônias. Um tempo em que os europeus viajavam rumo às Índias em busca de novos temperos, o que fez com que especiarias exóticas como o cravo chegassem às mãos de um grupo de monges fabricantes de cerveja na pequena vila de Hoegaarden, distante a menos de uma hora da cidade de Bruxelas. Registros históricos indicam que as cervejas de trigo eram extremamente azedas, até que os monges de Hoegaarden passaram a adicionar algumas novidades à receita, como cascas de laranja e coentro, trazido diretamente de Curaçau, na época, uma colônia holandesa. Essa foi uma descoberta que mudou o mundo da cerveja, transformando a Witbier em uma bebida leve e prazerosa. E essa transformação mudou também o ambiente na pequena e pacata vila de Hoegaarden: em 1709, a cidade já contava com mais de 12 cervejarias, número que aumentou para 36 em pouco mais de 15 anos. Nessa mesma época, Hoegaarden já tinha mais de 110 espaços para o armazenamento de malte.


Mas toda essa popularidade da cerveja artesanal Witbier acabou junto com a fatídica Segunda Guerra Mundial. Como decorrência deste grave conflito mundial e também devido ao enorme crescimento das cervejas lagers douradas, em 1957, a última cervejaria da região encerrou sua produção, colocando um fim na venda desse estilo de cerveja artesanal. Mas para sorte dos apreciadores de cervejas de alta qualidade, em 1966, Pierre Celis, um leiteiro da cidade e que havia trabalhado quando jovem na Cervejaria Tomsin, uma das últimas produtoras de Witbier locais a fechar, resolveu tomar uma atitude para preservar a receita original desta obra-prima, com suporte financeiro de seu pai e a ajuda de um mestre-cervejeiro experiente. Foi então, com base nas próprias memórias e na de moradores da região, que ele começou a fabricar artesanalmente uma tradicional Witbier dando a ela o nome da região, marca utilizada até os dias de hoje. O primeiro lote da cerveja, produzido no estábulo da fazenda de sua família, usando apenas uma caldeira de cobre, foi lançado no mercado exatamente no dia 19 de março de 1966. O sucesso do renascimento deste estilo de cerveja foi bem recebido pelos habitantes da região, tornando-se uma lenda e muito procurado como uma bebida altamente refrescante, e demonstrado pela quantidade de produção e na mudança para um prédio maior, batizado de “De Kluis” (“o cofre”), uma referência sutil aos monges da região.


No primeiro ano foram produzidos apenas 350 hectolitros, mas nos anos seguintes, cresceu exponencialmente, atingindo em 1985 a marca de 75.000 hectolitros de cerveja por ano. Isto só foi possível, porque com o aumento da demanda, Celis comprou a Hougardia, uma fábrica abandonada de limonada, para expandir suas operações de fabricação da cerveja Hoegaarden. Este ano também foi marcado pelo lançamento da primeira extensão da marca, a Hoegaarden Grand Cru, uma cerveja do estilo Belgian Golden Strong Ale com 8,5% de teor alcoólico, cuja cor era alaranjada, o paladar seguia o aroma de frutas cristalizadas, como laranja, cravo e damascos. A cerveja fazia sucesso, especialmente na Bélgica e outros poucos países europeus, mas importantes mercados como Holanda, França e Reino Unido. O sucesso da Hoegaarden foi ajudado em parte pelo copo de seis lados em que era servida a cerveja: por acaso, Celis encontrou o protótipo italiano em uma loja da cidade. Porém, ainda em 1985, quando ele estava prestes a começar a exportar para os Estados Unidos, mais uma vez uma catástrofe atingiu a indústria da cerveja branca belga. A fábrica da Hoegaarden foi severamente destruída por um grande incêndio. Para reconstruir a fábrica, Pierre Celis teve que obter um empréstimo e, ele encontrou isso, com a cervejaria Interbrew, então proprietária e produtora da marca Stella Artois. Mas Celis sentiu que o empréstimo era uma forma de pressioná-lo a adequar a receita de sua cerveja para torná-la mais comercializável. Em vez de mudar a receita, ele decidiu vender a cervejaria em 1987 e se mudar para o estado do Texas, onde fundou a Celis Brewery para fabricar a “Celis White”, uma cerveja que ele descrevia como a “Hoegaarden original”. Com isso a Interbrew assumiu a cervejaria Hoegaarden (que hoje pertencente ao poderoso grupo AB-Inbev).


Com isso, a marca Hoegaarden ganhou investimentos, aumentou a capacidade de produção, poder de marketing e passou a ser exportada para vários mercados mundiais. E nos anos seguintes ampliou a linha de cervejas da marca com o lançamento em 1995 da Hoegaarden Spéciale (rica e encorpada cerveja de trigo de estilo belga, disponível apenas entre outubro e janeiro, com sabor frutado característico e notas picantes claras de cravo e coentro, além de um toque levemente tostado); em 2007 da Hoegaarden Rosée (naturalmente doce e refrescante, com 4,5% de teor alcoólico, possui cor rubi, infusionada com sabores de framboesa, um rico aroma frutado e notas leves de especiarias e coentro); em 2008 da Hoegaarden Citrus (com apenas 3% de teor alcoólico, possui coloração amarela clara, média turbidez e espuma branca, de pouca persistência, além de um aroma tradicional com toques de semente de coentro e muito limão); da Hoegaarden Forbidden Fruit (inspirada no fruto proibido - a maçã -, que possui coloração avermelha e é suavemente adocicada, além de ser feita com malte torrado e lúpulos que oferecem um aroma tipicamente herbal); da Hoegaarden Agrum (uma cerveja original de trigo belga com apreciados frutos locais cítricos, como por exemplo, o agrume), e da Hoegaarden Cherry (com um toque de suco natural de cereja).


Mais recentemente, no início de 2019, a AB-InBev começou a investir na marca belga no mercado brasileiro. Com isso, inaugurou o primeiro bar temático da marca no mundo, batizado de Hoegaarden Greenhouse, no bairro de Pinheiros em São Paulo, que traz um pouco do estilo de vida simples e rústico do vilarejo belga de Hoegaarden, fazendo com que consumidores repensem suas prioridades em meio ao caos urbano. Com uma decoração exótica, que conta com 264 plantas de 38 espécies, o espaço oferece além de boa cerveja (para abastecer os copos, a aposta é o chope Witbier da marca – uma novidade, já que a cerveja só chegava engarrafada ao Brasil) e petiscos deliciosos (cardápio idealizado por um chef), com uma programação extensa, exibições de cinema aberto, feiras de produtores locais e de alimentos orgânicos e workshops de jardinagem.


A Hoegaarden possui um processo de fabricação único e complexo e, justamente por isso, é virtualmente diferente de qualquer outra cerveja no mundo. A primeira etapa é um processo de alta fermentação. Depois, a cerveja é engarrafada sem pasteurização e permanece em repouso por mais três semanas para que aconteça a re-fermentação dentro da própria garrafa. A aparência final é de uma cor amarelo ouro e opaco típico das cervejas de trigo belgas.


A evolução visual 
A identidade visual da marca passou por algumas alterações ao longo dos anos, adquirindo uma imagem mais moderna, mas sem perder a rica herança de sua história.


Os slogans 
The Original Belgian Wheat Beer. 
Naturally Different. (2012)


Dados corporativos 
● Origem: Bélgica 
● Lançamento: 19 de março de 1966 
● Criador: Pierre Celis 
● Sede mundial: Bruxelas, Bélgica 
● Proprietário da marca: Brouwerij Hoegaarden 
● Capital aberto: Não (subsidiária da Anheuser-Busch InBev SA/NV) 
● Presidente: Carlos Brito
● Faturamento: Não divulgado 
● Lucro: Não divulgado 
● Presença global: 70 países 
● Presença no Brasil: Sim 
● Segmento: Cervejaria 
● Principais produtos: Cervejas de trigo 
● Concorrentes diretos: Erdinger, Vedett, Paulaner, Franziskaner, Weihenstephan, Löwenbräu
e Hofbräu 
● Ícones: O formato do copo chamado de Tumbler 
● Slogan: The Original Belgian Wheat Beer. 
● Website: hoegaarden.com/pt/  

A marca no mundo 
A Hoegaarden, que pertence a poderosa AB-InBev, está presente com sua linha de cervejas de trigo em mais de 70 países, com enorme e disseminada popularidade no continente europeu. Hoje em dia, além do sucesso mundial da marca, 9 a cada 10 cervejas de trigo vendidas na Bélgica são da marca Hoegaarden, além de que o estilo se espalhou pelo mundo e agora podemos encontrar facilmente a cerveja artesanal Witbier. Hoegaarden é detentora de dez medalhas na Copa do Mundo de Cervejas, o World Beer Cup, e com seu sabor único é apreciado e premiado em toda a Europa, América do Norte, Austrália, Singapura e China. 

Você sabia? 
Tumbler é o copo utilizado para as cervejas do tipo Witbier, como a Hoegaarden. Há uma lógica na forma hexagonal do copo (inspirado nos tradicionais copos de geleias), pois se abre para cultivar uma espuma robusta, com uma boca mais larga que deixa os aromas cítricos, temperados e cheios de ervas catapultarem-se pelo ar. Como estas cervejas não formam muito creme, o copo não precisa ter a boca fechada. Robustos e pesados, também facilitam a vida dos bares por serem mais difíceis de serem quebrados, por isso não é incomum serem usados para servir também coquetéis, refrigerantes e chás gelado. 
Como as pessoas pronunciam o nome da cerveja em outras partes do mundo é outra história, mas, para esclarecer: é pronunciado “RUgaarden”. 
Você deve estar se perguntando, se é cerveja de trigo, por que não se chama Weiss, como as tradicionais alemãs? As duas são feitas de trigo e os nomes Weissbier ou Witbier significam a mesma coisa, cerveja branca, mas há uma diferença na produção. A Weiss alemã, geralmente usa trigo maltado e nenhum adjunto em sua receita. Já a Witbier belga, é produzida com trigo não-maltado e temperada com coentro e casca de laranja (que são responsáveis pela notas condimentadas e cítricas). De maneira geral as cervejas Witbiers são claras, mas por não serem filtradas são turvas. 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Veja, Exame, Forbes, Newsweek e BusinessWeek), jornais (Estadão e Folha), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas). 

Última atualização em 12/7/2019

Um comentário:

Luiz Junior disse...

Descobri esse blog por acaso, mas tenho que dizer parabéns ao criador do mesmo, o blog é ótimo tanto para pesquisas como para quem tem curiosidade sobre alguma marca.
Parabéns pelo trabalho!!!!!!