Nada de posto de gasolina. Seu carro ligado na tomada. E não é um carro qualquer. Tem design futurista e moderno. Alta tecnologia. Muito luxo. E desempenho e potência, sem fumaça, capaz de fazer inveja a qualquer um movido à gasolina. É assim que a californiana TESLA, que nasceu em pleno Vale do Silício, se tornou a grande vedete do setor automobilístico e a preferida de muitos bilionários pelo mundo afora. A TESLA provou que, além de ecologicamente corretos, os carros elétricos podem ser objetos de desejo e abocanhar milhões de fãs que gostam de alto desempenho.
A história
Tudo começou em 2003 com uma dupla de engenheiros do Vale do Silício, que resolveu provar ao mundo que era possível e viável projetar e produzir um carro superesportivo totalmente elétrico. Surgia assim no dia 1 de julho a TESLA MOTORS na cidade de San Francisco, cujo nome foi uma homenagem ao inventor e engenheiro elétrico Nikola Tesla, mais conhecido por suas contribuições ao projeto do moderno sistema de fornecimento de eletricidade em corrente alternada (CA). A equipe de visionários e empreendedores era formada por Martin Eberhard e Marc Tarpenning, e posteriormente Elon Musk (foto abaixo), que liderou a rodada inicial de investimento, juntando-se assim em fevereiro de 2004 ao Conselho de Administração da empresa como presidente. Elon Musk, formado em economia pela Universidade da Pensilvânia, apesar de jovem já era bilionário, após vender negócios como a Zip2, companhia que criava conteúdo para portais de notícias, por US$ 307 milhões e, também um dos fundadores da empresa de pagamentos online PayPal (conheça essa história aqui), vendida para o eBay por US$ 1.5 bilhões.
Após anos de pesquisas, desenvolvimento e muito investimento a empresa finalmente apresentou ao público no dia 19 de julho de 2006 seu primeiro veículo: o TESLA ROADSTER, um superesportivo conversível de dois lugares com design futurista e linhas agressivas baseado no chassi de um Lotus Elise, que tinha uma grande diferença, em vez de motor a gasolina, tanque e escapamentos, o modelo foi testado (e saiu-se muito bem) com uma bateria de 6.831 células de íon de lítio, similares às que equipavam notebooks e celulares. O veículo, inteirinho de fibra de carbono para diminuir o peso, mostrou que era possível ter um carro esportivo sem despejar um grama de fumaça no ar. O modelo chegou quebrando vários recordes: foi o primeiro carro elétrico a superar a barreira dos 200 km/h. Além disso, tinha uma autonomia de 320 km, também sem precedentes entre carros elétricos, e acelerava de 0 a 100 km/h em 3.7 segundos.
O primeiro carro foi entregue no mês de fevereiro de 2008. Nos anos seguintes o veículo se tornou objeto de desejo entre bilionários no mundo inteiro. Além disso, astros como o ator George Clooney e os fundadores do Google (conheça essa história aqui) Sergey Brin e Larry Page, passaram a ostentar em suas garagens um TESLA ROADSTER. Uma publicidade e tanto para essa nova montadora. Mas apesar disso, a empresa passou por grandes problemas e recebeu investimentos que totalizaram US$ 187 milhões (incluindo até investimentos por parte dos fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page). Musk assumiu o comando da empresa e conseguiu resolver os problemas mais urgentes, como a falta de dinheiro. Por isso, no mês de maio de 2009, vendeu 10% da TESLA para a Daimler por US$ 50 milhões, recebendo um valor semelhante da Toyota logo depois. A montadora também recebeu um empréstimo de US$ 465 milhões de um fundo de desenvolvimento tecnológico do Departamento de Energia Americano. Isso efetivamente salvou a TESLA da falência. Para garantir ainda mais financiamento, a empresa abriu o capital na Nasdaq em 2010, recebendo US$ 226 milhões.
No total foram vendidas 2.450 unidades em 30 países diferentes até 2012, quando a produção do TESLA ROADSTER foi encerrada oficialmente. Foi o suficiente para colocar a empresa no mapa – mas muito longe de tornar a TESLA em uma montadora de “massa”. Afinal, o carro apenas serviu a um objetivo maior: as relativamente poucas unidades vendidas serviram para financiar o desenvolvimento de uma nova versão mais barata. E isto aconteceu em junho de 2012, quando a TESLA deu outro grande passo rumo ao desenvolvimento ao começar a vender seu segundo modelo: o MODEL S, um luxuoso sedã esportivo de quatro portas com espaço para acomodar sete pessoas confortavelmente, com preço a partir de US$ 63 mil. Como não havia câmbio e seu motor tinha aproximadamente o tamanho de um melão, o interior do veículo era mais espaçoso.
O novo automóvel da montadora fazia 426 quilômetros com uma carga de bateria. Já a versão S Performance colocava ainda 420 cavalos na conta para cumprir de 0 a 100 km/h em 4.2 segundos e impulsioná-lo a quase 300 km/h. Além de aliar desempenho com design e luxo, o novo automóvel era recheado de tecnologia e mimos, como por exemplo, cabo de carga com bocal iluminado, painel futurista e uma tela de 17 polegadas (43 centímetros de altura), a maior já colocada em um carro até então, que permitia ao motorista navegar via GPS, ter informações importantes sobre o clima, condições do veículo e da estrada, acessar recursos como rádio e tocador de mp3 e, via sincronização com um smartphone, efetuar ligações telefônicas. Sem contar os bancos de couro totalmente elétricos, o revestimento bicolor com apliques metálicos e amadeirados e as enormes rodas de 19 polegadas com pneus Michelin (saiba mais aqui) de alta performance. E itens de segurança como oito airbags (além dos básicos frontais, laterais e de cabeça, há proteção para joelho e pélvis dos ocupantes da frente), que garantiam cinco estrelas nos testes oficiais de segurança. O Model S revolucionou a indústria automobilística por ser o primeiro carro elétrico a liderar as vendas de automóveis em um país (Noruega), em 2013.
Voltando a 2012, a empresa iniciou a inauguração dos chamados SUPERCHARGER (ou “supercarregadores” em português), em pontos estratégicos de grandes cidades americanas, permitindo assim que seus clientes viajassem por todo o país com tranquilidade. Eram estações de abastecimento, semelhantes a um posto de combustível, que tinham capacidade de carregar os automóveis da marca muito mais rapidamente. Segundo a montadora, em 30 minutos de carga era possível armazenar 50% da capacidade total da bateria e rodar mais de 250 quilômetros. E o melhor? A carga era de graça. Hoje em dia, existe mais de 25 mil SUPERCHARGER nos Estados Unidos (aproximadamente mil unidades), México, Canadá, Europa, Oriente Médio e Ásia. No ano seguinte, com apenas um modelo à venda, a montadora conseguiu um feito e tanto: abocanhou 12% do mercado de luxo do estado da Califórnia (Meca americana dos carros elétricos e híbridos) de janeiro a junho. Foram pouco mais de 4.700 unidades vendidas, de acordo com a associação californiana de concessionários (a Fenabrave local). Parecia pouco, mas superava toda a entrega da marca no ano anterior. Além disso, o sucesso do sedã ajudou a alavancar em mais de 50% as ações da TESLA durante o ano de 2014, depois que elas quadruplicaram no ano anterior.
Em meados de 2014, um novo anúncio de Elon Musk movimentou mais uma vez a indústria automobilística e pode apontar o futuro dos veículos nas próximas décadas. Ele anunciou que tornaria pública algumas das patentes da empresa destinadas a fabricação de veículos elétricos. Segundo ele, a ideia era que a tecnologia se tornasse popular a ponto de veículos como esses assumirem a liderança na preferência dos consumidores, desbancando os tradicionais modelos movidos a combustível. O que parecia uma verdadeira loucura para administradores e executivos era na visão dele publicidade gratuita da melhor forma. Explica-se. Novos carros elétricos vão precisar de mais baterias. Em um primeiro momento, ceder gratuitamente uma patente para um concorrente pode parecer uma ideia sem muito sentido e até mesmo absurda. Entretanto, é preciso lembrar que Elon Musk não estava interessado apenas neste mercado. Carros elétricos precisam de baterias cada vez mais eficientes e duráveis. Nesse quesito, as baterias da TESLA ainda são imbatíveis. É possível que no futuro outras montadoras consigam desenvolver tecnologias similares, mas em um primeiro momento, na busca pela eficiência, os concorrentes acabariam se tornando clientes da própria TESLA.
Após lançar um modelo esportivo e um sedã, a TESLA ingressou no segmento de SUVs com o MODEL X. Apesar de ter sido apresentado ao mundo em 2012, o modelo só começou a ser produzido no final de 2015. O crossover parecido com um SUV apresentava características portas de “asa de gaivota” (que levantam para cima, ao invés de abrirem para os lados) e era oferecido em configurações de 5, 6 e 7 passageiros. Em sua versão máxima, tinha um alcance total de 465 quilômetros por carga e fazia de 0 a 100 km/h em apenas 2.9 segundos - praticamente o suficiente para ser o SUV mais rápido do mundo. O modelo era um carro impressionante, pensado nos mínimos detalhes (até o porta-copos era adaptável).
Mas a TESLA começou a solidificar seu caminho para o sucesso com o lançamento em julho de 2017 do MODEL 3, um sedã de porte médio. Com autonomia, com apenas uma carga de bateria, de 499 quilômetros, o modelo chegou a bater o recorde de aceleração de 0 a 100 km/h, conseguindo a marca de 2.28 segundos. Maior aceleração que carros super esportivos. Para o apaixonado por carros velozes, um carro elétrico fazia sentido pela 1ª vez. Além disso, o modelo apresentou a função Autopilot, que permitia ao veículo basicamente acelerar, frear, mudar de pista e até fazer baliza sozinho. Tudo comandado por oito câmeras, sensores de ultrassom, radar e um super computador. Desenhado para ser o carro popular da TESLA, embora o preço estivesse longe de qualquer coisa que possa ser chamado de popular no momento, ficava claro a tentativa da empresa de se tornar cada vez mais uma montadora “de massa”. Afinal, o Model 3 iniciou uma pequena revolução no mercado automobilístico: um veículo mais barato, permitindo aos consumidores finalmente ter um carro elétrico, diminuindo a emissão de poluentes gerados pela queima de combustíveis. Entre 2018 e 2019, alcançou o posto de veículo elétrico mais vendido no mundo. Além disso, em 2019, conquistou um marco impressionante: foi o sétimo carro mais comercializado nos Estados Unidos, com 154.836 unidades.
Em 2019, a TESLA vendeu um total superior a 367 mil veículos em todo o mundo. E para não depender somente do mercado americano, apesar de seus veículos também serem vendidos na Europa, Oriente Médio e partes da Ásia, no final deste ano a empresa inaugurou sua primeira fábrica na China, em Xangai, para produzir seus veículos localmente e abocanhar uma fatia de um enorme mercado consumidor. No início de julho de 2020, a TESLA conquistou a posição de montadora mais valiosa do mundo, ultrapassando a japonesa Toyota (conheça sua história aqui), que mantinha a liderança até o momento. Com um valor de mercado de US$ 208 bilhões, a empresa tem demonstrado resiliência às crises do mercado financeiro em meio à pandemia do COVID-19. E 2020 ainda reservou outros feitos e tantos para a TESLA: o Model 3 se tornou o carro de emissão zero mais vendido do mundo, conquistando 11 países, incluindo os dois maiores mercados automotivos do mundo, Estados Unidos e China; as vendas globais atingiram 499.550 unidades, um aumento de 35.8% em relação ao ano anterior; e a empresa ultrapassou a marca de 1 milhão de carros elétricos produzidos desde sua fundação.
O mais recente lançamento da TESLA é o MODEL Y, um moderno crossover compacto, que começou a ser vendido em março de 2020. O grande diferencial deste modelo é a união de três pontos importantes: a funcionalidade de um SUV, o desempenho esportivo e o preço atraente - US$ 39.900, na versão de entrada. Com uma carga de bateria, o Model Y tem autonomia de 400 quilômetros. Já a sua aceleração vai a 100 km/h em 3.7 segundos. E o sucesso parece não ter limite: no primeiro trimestre de 2021, a TESLA bateu recordes ao registrar lucro líquido de US$ 1 bilhão pela primeira vez em sua história, entregar 184 mil veículos e alcançar faturamento de US$ 9 bilhões (número representa um aumento de 75% em relação ao primeiro trimestre de 2020).
A TESLA já divulgou seus próximos projetos: reviver o Roadster como um moderno esportivo de altíssima performance, com a promessa de ser o carro mais rápido do mundo ao fazer de 0 a 100 km/h em apenas 1.9 segundos e que poderá ser equipado com um “pacote SpaceX”, que usa 10 pequenos propulsores de foguete para aumentar o desempenho do veículo através da flutuação ativada; o TESLA SEMI, um caminhão semi-autônomo com duas versões de alcance (480 km e 800 km), capaz de dirigir sozinho na estrada e que só irá requerer o input humano em certas ocasiões dentro das cidades, além de ser equipado com o novo conceito de bateria estrutural e as novas células 4680 de alta densidade, fundamental para atingir números de autonomia mais altos; e a CYBERTRUCK, uma picape leve com design futurista.
A TESLA não surgiu apenas para mudar a forma como os carros são produzidos e funcionam - mas também para mudar o modo como são vendidos. Por isso, a marca aboliu uma figura muito importante do segmento automobilístico: a concessionária. E isso causou alguns problemas para a empresa, mas ela segue em frente com seus planos. A TESLA não conta com concessionárias, e todas as vendas são feitas diretamente através do site da empresa. A intenção é cortar o “intermediário” de todas as operações da empresa, mesmo um intermediário tão importante para a indústria automobilística, como é o concessionário. Em substituição às concessionárias, a TESLA conta com showrooms próprios espalhados por importantes cidades e shopping centers nos Estados Unidos - com decoração minimalista. Ao se interessar pelo carro, porém, a compra é realizada através do site da empresa. Com isso, a TESLA vai desenvolvendo um sistema de venda direta tão desejado por algumas montadoras. Essa decisão, porém, lhe valeu alguns processos por parte de associações de concessionários. Embora seja tido como um território da liberdade econômica, 48 dos 50 estados americanos possuem leis que proíbem ou limitam operações parecidas com as da TESLA. Algum lobby a empresa terá que fazer no futuro para conseguir resolver essa questão.
O segredo do enorme sucesso da TESLA talvez esteja na atitude. A marca sempre se portou como a Apple (conheça a história deste outro ícone aqui) dos carros elétricos. Promete interface agradável (desempenho, espaço, luxo e beleza de carro europeu) quando todas as outras entregam apenas o básico (carros que parecem de brinquedo). E também cobra caro pela experiência. O Model S, porém, é um sedã do tamanho de Ford Fusion e Honda Accord (dois best sellers do mercado americano) com visual e acabamento de Aston Martin ou Maserati. Talvez esteja aí o grande segredo de sucesso da montadora. Mesmo se a TESLA desaparecer amanhã, trata-se simplesmente de uma empresa inovadora que provocou um enorme impacto: mostrou que os carros elétricos com menor impacto no meio-ambiente podem ser descolados e competir no mesmo nível que um carro com motor a combustão interna.
A empresa possui 6 fábricas localizadas na Califórnia, Nevada, Nova York e Texas (esta última será inaugurada em 2021), além das unidades em Xangai na China e Berlin na Alemanha (que será inaugurada em dezembro de 2021). O principal complexo fabril da TESLA em Fremont, na Califórnia, é uma das fábricas de automóveis mais avançadas do mundo, com aproximadamente meio milhão de metros quadrados de espaço de produção e escritórios em quase 150 acres de terreno. Em 2016 foi aprovado um plano de expansão que irá quase duplicar o tamanho das instalações para cerca de 0.93 milhões de metros quadrados. Atualmente, mais de 10.000 funcionários trabalham nessa fábrica. Para iluminar um espaço outrora escuro e fechado, a TESLA adicionou claraboias para os trabalhadores terem luz natural e pintou o piso com epóxi branco para criar um ambiente de trabalho limpo. As instalações abrigam também um centro de formação para funcionários, um refeitório e veículos adaptados para a venda de refeições, um ginásio, um centro de cuidados médicos (disponível 24 horas por dia) e pátios exteriores. O enorme e moderno complexo é responsável pela fabricação dos automóveis Model S, Model X, Model 3 e Model Y.
Já a GIGA NEVADA, localizada nos arredores de Sparks, no estado de Nevada, surgiu, em parceria com a japonesa Panasonic, para atender a constante demanda por baterias de íon-lítio, suficientes para suportar a crescente procura de veículos TESLA. Inicialmente batizada de Gigafactory (“Giga” é a unidade de medida que representa “mil milhões”), a gigantesca fábrica foi inaugurada (fase inicial) no final de julho de 2016. Atualmente a fábrica (que ainda não foi totalmente concluída), com 930.000 m² e onde trabalham mais de 7 mil pessoas, produz motores elétricos, baterias e componentes elétricos, bem como produtos de armazenamento de energia. A fábrica é alinhada com o norte do planeta Terra. São dois motivos para essa escolha. O primeiro é que isso facilita o posicionamento de máquinas autônomas orientadas por GPS. Outra razão, bastante curiosa, é que isso permite melhor distribuição e movimentação dos painéis solares no teto da fábrica. Quando estiver concluída, a empresa espera que a GIGA NEVADA seja o maior edifício do mundo - e totalmente alimentado por fontes de energia renovável. Concebida para ser uma fábrica com energia zero de emissões, a fonte principal de alimentação das instalações é a energia solar. Em meados de 2018, a produção de baterias atingiu uma taxa anual de aproximadamente 20 GWh, fazendo desta a fábrica de baterias com maior volume do mundo. Por curiosidade, a fábrica é capaz de produzir cerca de 13 milhões de células de bateria por dia.
A TESLA também desenvolve outros produtos além de automóveis elétricos, como baterias para casas (batizadas de Powerwall) e painéis fotovoltaicos, facilitando o armazenamento de energia de fontes sustentáveis e renováveis - como energia solar. Essa diversificação nos negócios da TESLA começou após a fusão com outra empresa de Elon Musk, a Solarcity, em agosto de 2016, em uma operação de US$ 2.6 bilhões (pagos em ações). Com isso, em 2017 a empresa mudou seu nome de TESLA MOTORS, apenas para TESLA INC., para melhor refletir a ampliação de seus negócios, que passaram a incluir veículos elétricos, sistemas de armazenamento de energia estacionária e geração de energia solar. Mas a fusão foi considerada polêmica na época, já que representaria um conflito de interesses entre as duas empresas. O que a TESLA, uma montadora de carros elétricos, teria a ver com uma empresa que instalava painéis de energia solar para casas? Mas, Elon Musk se defendeu na época dizendo que o conflito de interesse seria se as duas empresas continuassem operando separadas - afinal, como a SolarCity era uma grande fornecedora da TESLA, uma situação parecida em que os contratos entre as duas beneficiassem a companhia na qual Elon Musk era mais acionista que a outra. De acordo com Elon Musk, o objetivo da TESLA é ajudar a acelerar a mudança para o transporte e a energia sustentáveis, obtidos por meio de veículos elétricos e energia solar.
Para muitos ele é o novo Steve Jobs, capaz de assumir o posto de maior demolidor de paradigmas do mundo empresarial. Para tantos outros é o Tony Stark da vida real, em uma referência ao personagem principal do filme Homem de Ferro, um multibilionário, filantropo e cientista que, nas horas vagas, atua como super-herói, interpretado pelo ator americano Robert Downey Jr. Seus projetos parecem coisa saída da cabeça do Professor Pardal. Mas não se engane. Suas ideias não são devaneios de um bilionário excêntrico. A verdade é que Elon Reeve Musk, um cinquentão bilionário, cuja fortuna é estimada em US$ 156 bilhões (segundo a revista Forbes de junho/2021), e o mais inovador e surpreendente empreendedor atual, conseguiu transformar aparentes loucuras em negócios reais e bilionários. Uma das maiores preocupações do empresário é o futuro da humanidade. Dessa forma, parte de seus investimentos são voltados para pesquisa e desenvolvimento de fontes de energia limpas. Além disso, ele é um entusiasta da possibilidade de colonizar outros planetas, especialmente Marte, como uma forma de preservação da espécie.
Nascido no dia 28 de junho de 1971 na cidade de Pretória, na África do Sul, filho de um engenheiro e uma nutricionista, e naturalizado americano, ele é considerado a grande estrela corporativa dos Estados Unidos. A revista Fortune, por exemplo, o elegeu a personalidade dos negócios de 2013. Considerado um empreendedor serial, ele criou seu primeiro sucesso comercial ainda aos 11 anos. Era um game espacial chamado Blastar, que foi vendido para uma empresa sul-africana pela bagatela de US$ 500. Em 1988, aos 17 anos, migrou para o Canadá contra a vontade dos pais, país no qual chegou com pouco dinheiro e sem lugar sequer para dormir. Para sobreviver, trabalhou em fazendas e limpando caldeiras em serralherias. Em seu novo país, ele ingressou e completou o curso de física pela Queen’s University em Kingston. Em 1992 foi para os Estados Unidos, onde cursou faculdade de administração. Em 1999, ele vendeu a Zip2, que desenvolvia ferramentas para criar sites de notícias, para a finada fabricante de computadores Compaq, por impressionantes US$ 307 milhões, negócio que seria seguido pela venda da empresa de data center Everdream para a Dell (saiba mais aqui) por US$ 120 milhões, além do PayPal, vendido para o eBay em 2002 por US$ 1.5 bilhões. Como maior acionista da empresa, Musk embolsou US$ 180 milhões na ocasião.
A pequena fortuna foi o ponto de partida para a criação de um verdadeiro conglomerado de empresas de ponta, sustentado por três pilares: TESLA, de carros elétricos e energia limpa; a SpaceX (conheça essa história aqui), que presta serviços de transporte espacial para a poderosa NASA e tem projetos de levar o homem a marte; e a The Boring Company, empresa voltada para a área de infraestrutura, tendo como principal atividade a construção de túneis para a implementação de meios de transportes mais rápidos e eficientes. Ele também fundou a Musk Fundation, que atua em projetos relacionados com energias renováveis, pesquisas pediátricas, educação voltada para a ciência e engenharia, e desenvolvimento de inteligência artificial que beneficie a humanidade.
Além dos carros movidos a bateria e das viagens espaciais, suas mais recentes ideias incluem um plano para colonizar o planeta Marte e uma espécie de tubo para transportar passageiros, capaz de realizar uma viagem de cerca de 500 quilômetros em uma hora. Seu legado, no entanto, pode provocar transformações ainda mais profundas na sociedade do que os feitos por Steve Jobs. Sua audácia chega a ponto de levá-lo a desafiar uma indústria forte e consolidada como a automobilística. “Criei a Tesla para acelerar o desenvolvimento de carros elétricos”, diz. “Se deixasse nas mãos das grandes montadoras, nunca veríamos esse tipo de automóvel nas ruas”, completa. Sua vida pessoal também é agitada. Casou e divorciou duas vezes e tem seis filhos, incluindo gêmeos e trigêmeos.
Elon Musk, além de um empreendedor serial, é um talentoso marketeiro que literalmente mandou a TESLA para o espaço. Isto porque, aproveitando a enorme repercussão mundial em torno de sua outra empresa, a SpaceX, no dia 6 de fevereiro de 2018, durante o lançamento do Falcon Heavy, considerado o maior foguete em operação no momento, o empreendedor mandou junto para o espaço um carro da TESLA (modelo Roadster vermelho). Dentro do veículo foi colocado um boneco vestido de astronauta (com traje espacial Starman), além de uma placa com a frase “Feito na Terra por humanos”. E tudo isso com Space Oddity, de David Bowie, como trilha sonora, para deixar o momento histórico ainda mais emocionante. O Tesla Roadster também carregava outros objetos, como uma miniatura em versão Hot Wheels (conheça a história dessa marca aqui), uma cópia do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, uma versão digital da trilogia “Fundação” (armazenada em um disco óptico 5D) e uma placa com os nomes de quem trabalhou no projeto. O veículo fazia parte da missão como carga de teste, para demonstrar todo o poderio do novo impulsionador da empresa de Elon Musk.
O veículo seguiu em direção à órbita de Marte, passando pelo Cinturão de Asteroides. No início de outubro de 2020, após viajar mais de 2 bilhões de quilômetros pelo espaço, o Tesla Roadster “dirigido” pelo manequim Starman fez a sua primeira aproximação de Marte. De acordo com a SpaceX, o veículo chegou a menos de 8 milhões de quilômetros de distância do planeta vermelho. Segundo cálculos de pesquisadores, há 6% de chances do veículo cair na Terra, contra 2.5% de atingir Vênus. Mas isso deve acontecer somente em 2091.
A identidade visual da marca passou por modernizações ao longo de sua história. O logotipo original era formado por um “T” estilizado colocado sobre um escudo prateado e o nome TESLA MOTORS abaixo e na cor preta. Ao contrário do que se possa imaginar, o “T” não é propriamente de TESLA - apesar de remeter a isso -, mas sim a representação de uma seção de um motor elétrico. Esse logotipo durou pouco e foi substituído por uma identidade visual na cor vermelha. Além disso, a palavra “motors” e o escudo prateado foram eliminados, deixando o “T” sozinho e em posição dominante. Mais recentemente o logotipo passou a conter apenas o nome da marca em vermelho (ou preto, na versão secundária). Já o popular “T” estilizado continua aparecendo nos capôs dos automóveis e na comunicação em alguns momentos, especialmente na divisão automobilística da empresa.
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 1 de julho de 2003
● Fundador: Martin Eberhard, Marc Tarpenning e Elon Musk
● Sede mundial: Palo Alto, Califórnia, Estados Unidos
● Proprietário da marca: Tesla Inc.
● Capital aberto: Sim (2010)
● CEO: Elon Musk
● Faturamento: US$ 31.5 bilhões (2020)
● Lucro: US$ 721 milhões (2020)
● Valor de mercado: US$ 602.2 bilhões (maio/2021)
● Valor da marca: US$ 12.785 bilhões (2020)
● Vendas globais: 499.550 unidades (2020)
● Presença global: 40 países
● Presença no Brasil: Não
● Funcionários: 70.750
● Segmento: Automobilístico/energia renovável
● Principais produtos: Automóveis elétricos, baterias e painéis solares
● Concorrentes diretos: BYD, BMW, Audi, Mercedes-Benz, Nissan, Mitsubishi, Renault, Toyota, Volkswagen, Volvo e Hyundai
● Ícones: As estações de recarga Supercharger
● Slogan: It’s more than electric, it’s Tesla.
● Website: www.tesla.com
O valor
Segundo a consultoria britânica Interbrand, somente a marca TESLA está avaliada em US$ 12.785 bilhões, ocupando a posição de número 40 no ranking das marcas mais valiosas do mundo em 2020. A empresa também ocupa a posição de número 124 no ranking da revista FORTUNE 500 de 2021 (empresas de maior faturamento no mercado americano).
A marca no mundo
A TESLA, que possui como principal acionista Elon Musk (21% das ações), comercializa seus veículos elétricos em 40 países ao redor do mundo, com forte presença no mercado americano e chinês. Em 2020, a montadora que emprega mais de 70.000 pessoas, vendeu mais de 499 mil veículos, faturou mais de US$ 31 bilhões e lucrou US$ 721 milhões (o primeiro resultado positivo na história da TESLA). A empresa tem ainda mais de 400 showrooms e centrais de serviços espalhados pela América do Norte, Ásia, Oceania, Oriente Médio e continente europeu, onde os mecânicos podem ser vistos na oficina, já que os carros não emitem fumaça tóxica, não fazem poças de óleo, nem têm motor barulhento. A empresa, que também fabrica baterias e painéis solares, ainda presta serviços de desenvolvimento e componentes elétricos para outras montadoras.
Você sabia?
● Em um documentário de 2013 veiculado pelo canal National Geographic (conheça a história dessa marca aqui), a TESLA revelou que a tinta vermelha exclusiva que usa em seus carros tem uma infusão de flocos de vidro para que brilhe.
● Elon Musk foi a inspiração para a adaptação do gênio bilionário Tony Stark para o cinema, no filme Homem de Ferro. Por isso, ele permitiu que o cineasta Jon Favreau usasse sua fábrica de foguetes para filmar algumas cenas do filme “Homem de Ferro 2”, no qual um bilionário inventa um traje voador, cheio de armas, para combater criminosos, interpretado pelo ator Robert Downey Jr. Jon pensou então que devia um favor ao seu grande amigo. Por isso, comprou um TESLA MODEL S. O que ele não esperava é que iria gostar tanto do carro que acabaria vendendo sua Mercedes-Benz (conheça a história deste ícone alemão aqui).
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, BusinessWeek, Exame, Época Negócios, Isto é Dinheiro e InfoMoney), jornais (Valor Econômico, Meio Mensagem, Folha e Estadão), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel, Interbrand e Mundo do Marketing), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers).
Última atualização em 1/6/2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário