A revista americana TIME parece ter estilo único no mundo. A liberdade de expressão é defendida e seguida com afinco. Os direitos civis, não apenas de cidadãos americanos como também de outras nacionalidades, constituem uma tradição nas páginas de sua revista. O mesmo caminho segue quando o assunto são as mulheres, homossexuais, refugiados e outras minorias. Tudo sem que se perca a perspectiva da importância da notícia.
A história
Henry Robinson Luce (imagem abaixo) e Brit Hadden faziam parte da tradição Wasp, os americanos brancos, anglo-saxões e protestantes que compunham a elite do país. Amigos de adolescência, ambos se formaram pela mesma seletiva e exclusivista universidade de Yale, onde serviam como editor-gerente e presidente, respectivamente, da Yale Daily News, uma revista feita pelos alunos da universidade. E foi a ética deste segmento que se implantou na revista que ambos viriam a lançar. Luce, nascido na China em 1898, seguiu até sua morte, no dia 28 de fevereiro de 1967, os padrões morais do pai, um missionário evangélico. Em sua formação ideológica, foi incorporada também a visão intervencionista do presidente Theodore Roosevelt. O resultado foi uma ideologia devotada a Deus e aos Estados Unidos, com ambições doutrinárias, que ele acreditava civilizadoras, e tendências conservadoras. Já Hadden impôs o estilo leve e descontraído à revista.
Ambos tiveram a ideia de lançar a revista TIME no ano de 1918 ao perceberem a desinformação do povo americano. Estavam decididos a criar uma revista que resumia as notícias da semana no menor espaço possível. Em 1922 fundaram a empresa Time Inc., e no ano seguinte publicaram a primeira edição da revista no dia 3 de março de 1923, com Joseph Gurney Cannon (imagem abaixo), da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos na capa, e tiragem de 3.700 exemplares. A revista, primeiro semanário de informações gerais do mundo, praticamente inventou as publicações semanais, e marcou o que se convencionou chamar de “newsmagazines” ou “newsweeklies”, a revista semanal de notícias. Nesta época o que povoava bancas e livrarias eram somente arrazoados com resumos de notícias paroquiais e de leitura indigesta. Somente com o lançamento da revista TIME o mundo se viu ocupado por uma publicação inteligente, cobrindo os eventos importantes do mundo, em uma releitura analítica, mais minuciosa e atenta.
Provava-se, também, que estilo e conteúdo não apenas podem como devem conviver harmonicamente. O que pouco se comenta é que essa fórmula se valia da leitura dos mais importantes jornais americanos da época. Ou seja, a revista organizou o país e o mundo, em suas principais áreas de interesse, a partir do que era publicado nos jornais mais importantes. E apresentava o resultado dessa compactação em 28 páginas editoriais, que podiam ser lidas em meia hora. O estilo em que os textos eram escritos também fazia parte da novidade: frases curtas, em forma de narrativa, com informações pesquisadas e checadas. O sucesso da revista veio rapidamente: em 1924 a circulação de TIME já alcançava os 107 mil exemplares semanais.
No final desta década, em 1927, a revista lançou o tradicional prêmio Man of the Year (homem do ano) tendo como destaque Charles Lindbergh, um dos pioneiros da aviação. No seguinte, com a morte de Briton Hadden, Henry Luce, que foi editor chefe da revista até 1964, passou a ser o homem dominante dentro da TIME, tornando-se uma das grandes personalidades da mídia no século XX. Durante as próximas décadas a revista se firmou como uma das mais importantes dentro dos Estados Unidos, transformando-se em um verdadeiro ícone da comunicação. O sucesso da revista se deveu em boa parte a fórmula mágica de dividir a semana em assuntos específicos e embalá-los em uma publicação que deixava o leitor a par do que estava acontecendo nos Estados Unidos e no mundo. A TIME tornou-se parte da Time Warner em 1989 quando a Warner Communications e a Time, Inc. realizaram um processo de fusão. Em 1993 a TIME se tornou a primeira revista publicada online, inaugurando seu site no ano seguinte, transformando-se na revista mais acessada do mundo pela internet, tendo mais de 49 milhões de acessos mensais atualmente. Em 1999, a revista lançou outra de suas populares listas: TIME 100, com as 100 pessoas mais influentes do ano no mundo. Nos anos seguintes, a TIME lançou a versão digital da revista, além de incrementar consideravelmente seu site.
No final de 2017, o grupo norte-americano de mídia Meredith Corporation comprou a Time Inc., editora de populares revistas como TIME, People, Sports Illustrated e Fortune, em um acordo de US$ 1.84 bilhões. Parte do sucesso da revista TIME pode ser creditado à sua proposta jornalística de trazer textos claros, contextualizados e de fácil leitura. Atualmente a missão da TIME é contar as histórias que mais importam, estimular conversas que impulsionam a mudança global e fornecer contexto e compreensão aos problemas e eventos que acontecem no mundo.
Além da revista normal a TIME também publica, desde 1995, a Time for Kids, que surgiu como uma divisão da revista principal produzida especialmente para crianças e pré-adolescentes, contendo algumas notícias nacionais, uma charge semanal e outras matérias em suas oito páginas semanais. A revista infantil também produz edições especiais e elege suas próprias Pessoas do Ano. No site, também promove um programa de “repórter infantil”. A Time for Kids envolve os estudantes com um jornalismo autêntico, inspira-os a participar do discurso nacional sobre tópicos atuais e fornece aos professores recursos valiosos para a sala de aula. A TFK, como ficou conhecida, tem sido uma fonte confiável de notícias e atualmente alcança mais de 2 milhões de alunos nas salas de aula do ensino fundamental nos Estados Unidos.
A pessoa do ano pela TIME
A principal e mais conhecida característica da revista é sua nomeação de Pessoa do Ano (Person of the Year), que já é realizada há mais de 90 anos, na qual a TIME reconhece o indivíduo ou grupo de indivíduos que teve impacto e influência em assuntos importantes, “para o bem ou para o mal”, como gosta de frisar a revista. A partir de então, ser escolhido passou a ser meta de políticos, empresários, artistas e celebridades em geral. A primeira nomeação ocorreu em 1927 com o aviador Charles Lindbergh, que realizou um histórico voo transatlântico. Apesar do título, quem o recebe não é necessariamente humano. No passado, até mesmo ideias e máquinas tiveram essa honra. Por exemplo, em 1982, o IBM PC/AT (computador pessoal) foi considerado pela revista o Homem do Ano. A escolha frequentemente gera polêmica. Em 1938, o escolhido foi Adolf Hitler. Já em 1939 e 1942, Josef Stalin recebeu a honra.
No decorrer dos anos pessoas e grupos ilustres foram indicadas, entre elas:
1930 - Mahatma Gandhi (primeiro não americano nomeado)
1932 - Franklin D. Roosevelt (ganharia o prêmio outras duas vezes, em 1934 e 1941)
1936 - Wallis Simpson (primeira mulher nomeada)
1940 - Winston Churchill (nomeado novamente em 1949)
1944 - Dwight Eisenhower (nomeado novamente em 1959)
1952 - Elizabeth II
1958 - Charles de Gaulle
1960 - Cientistas Americanos (um grupo de 15 cientistas)
1961 - John F. Kennedy
1962 - Papa John XXIII (primeiro Papa nomeado)
1963 - Martin Luther King Jr.
1968 - Os Astronautas da Apollo 8 (William Anders, Frank Borman e Jim Lovell)
1971 - Richard Nixon (nomeado novamente em 1972)
1974 - Rei Faisal da Arábia Saudita
1976 - Jimmy Carter
1977 - Amwar Sadat
1979 - Ayatollah Khomeini
1980 - Ronald Reagan (nomeado novamente em 1983)
1981 - Lech Walesa
1987 - Mikhail Gorbachev (nomeado novamente em 1989)
1991 - Ted Turner
1992 - Bill Clinton (nomeado novamente em 1998)
1994 - Papa João Paulo II
1999 - Jeff Bezos (criador do site amazon)
2000 - George W. Busch (nomeado novamente em 2004)
2001 - Rudolph Giuliani
2003 - Os soldados americanos
2006 - YOU (isso mesmo, você)
2007 - Vladimir Putin
2008 - Barack Obama (que voltaria a ser eleito em 2012)
2010 - Mark Zuckerberg (criador do Facebook)
2011 - Manifestante (um reconhecimento às pessoas de todo o mundo, em particular do Oriente Médio e norte da África, que saíram às ruas para lutar por seus direitos)
2013 - Papa Francisco
2015 - Angela Merkel
2016 - Donald Trump
2017 - The Silence Breakers (representando mulheres e homens que divulgaram histórias pessoais de assédio sexual)
A partir de 1999, o título foi alterado de “Homem do Ano” para “Pessoa do Ano”, para evitar a sugestão sexista, demonstrando que a edição não se limitava somente á homens, mas qualquer tipo de pessoa ou celebridade.
O ícone
A revista TIME é amplamente conhecida no mundo por sua tradicional borda vermelha (Red Border), uma espécie de moldura vermelha que adorna sua capa, introduzida pela primeira vez em 1927. A borda vermelha sofreu apenas duas modificações desde que foi introduzida. Uma delas ocorreu na edição extra publicada depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, quando a bordas ganharam a cor preta para simbolizar o luto pela terrível tragédia. Outra modificação ocorreu na edição de 28 de abril de 2008, quando em comemoração ao Dia da Terra (Earth Day) a borda adotou a cor verde.
Além disso, durante a sua história, por cinco ocasiões, a TIME lançou uma edição especial com uma capa mostrando um X (vermelho) rabiscado no rosto de um homem ou um símbolo nacional. A primeira edição com uma capa assim foi lançada no dia 7 de maio de 1945, mostrando um X vermelho sobre o rosto de Adolf Hitler. A segunda em 20 de agosto de 1945 cobrindo a bandeira do Japão, representando a rendição dos japoneses e que sinalizou o fim da Segunda Guerra Mundial. As outras três foram: em 21 de abril de 2003 (Saddam Hussein), em 13 de junho de 2006 (Abu Musab al-Zarqawi, após sua morte em um ataque aéreo norte-americano no Iraque) e no dia 2 de maio de 2011 (Osama bin Laden, após sua morte).
Campanhas que fizeram história
Em meados da década de 1990 as revistas de notícias e variedades eram consideradas dinossauros destinados a extinção. Com o surgimento de novas tecnologias, como por exemplo, a internet, o desinteresse do público pelas antigas publicações impressas começou a aumentar. Aqueles velhos profetas do apocalipse, os mesmos que “previram” o fim do rádio e do papel, diziam: “É o fim das revistas como fonte de informação”. Bobagem, como sempre. Mas nem por isso a audiência das revistas deixou de cair. A TIME sentiu então que era hora de se reposicionar e recuperar o mercado pedido. Criaram um conceito que refletisse a essência da revista: diversidade de comunicação aliada à profundidade de discussão sobre diversos temas, passando pelo social, cultural e comportamental. Para representar isso, foi escolhido um elemento gráfico bastante característico da revista: a borda vermelha. Os anúncios traziam imagens contendo apenas uma pequena parte envolta pela borda vermelha. Abaixo de cada peça, um texto reflexivo e desafiador sobre determinado assunto. Essa linha de comunicação da revista TIME se estendeu por anos. Começou nos Estados Unidos, mas logo foi levada até a Europa e a Ásia, sendo relançada com novos anúncios em 2003. No início, a assinatura utilizada era: “The world’s most interesting magazine” (em tradução livre “A revista mais interessante do mundo”). No relançamento da campanha passou a ser: “Join the conversation” (“Participe da conversa” em português).
A evolução visual
A identidade visual da TIME passou por algumas remodelações ao longo dos anos. A primeira delas ocorreu em 1972, quando o logotipo ganhou uma nova tipografia de letra e adotou a tradicional cor vermelha. Pouco depois, em 1977, a identidade visual adotou uma nova tipografia de letra. O atual logotipo foi adotado em 1992, baseado na segunda identidade visual da marca, porém com letras mais finas.
A identidade visual da Time for Kids também passou por uma atualização mais recentemente.
Os slogans
Trust. Influence. Access.
Join the conversation (2003)
The world’s most interesting magazine. (década de 1990)
Make time for Time.
Understanding comes with TIME.
The most important magazine to the world’s most important people.
Take Time-It’s Brief. (1923)
Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Lançamento: 3 de março de 1923
● Criador: Henry Luce e Briton Hadden
● Sede mundial: New York City, New York, Estados Unidos
● Proprietário da marca: Meredith Corporation
● Capital aberto: Não
● Editor chefe: Edward Felsenthal
● Faturamento: Não divulgado
● Lucro: Não divulgado
● Circulação semanal: 3 milhões de cópias
● Presença global: 130 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 1.000
● Segmento: Mídia
● Principais produtos: Revistas de notícias gerais
● Concorrentes diretos: Newsweek, The Week, The New Yorker, U.S. News e Bloomberg Businessweek
● Ícones: A borda vermelha de sua capa
● Slogan: Trust. Influence. Access.
● Website: www.time.com
A marca no mundo
A TIME, revista semanal de maior circulação no planeta (segundo muitos observadores da imprensa mundial), é distribuída em mais de 130 países, com circulação semanal superior a 3 milhões de cópias que atingem mais de 26 milhões de leitores, dos quais 20 milhões nos Estados Unidos. Atualmente existem várias edições internacionais da revista: edição europeia (TIME EUROPE, antes conhecida por Time Atlantic), publicada em Londres, e que cobre o Oriente Médio, a África e desde 2003 a América Latina; edição asiática (TIME ASIA), editada em Hong Kong; e a edição South Pacific, cobrindo Austrália, Nova Zelândia e Ilhas do Pacífico, editada em Sidney.
Você sabia?
● Apenas oito brasileiros foram capa da revista: seis presidentes (Júlio Prestes, Getúlio Vargas, Café Filho, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Artur da Costa e Silva), um diplomata (Osvaldo Aranha), e um jogador de futebol (Neymar Jr.).
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Time), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 7/8/2018
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