1.10.19

ALEXANDER MCQUEEN


O estilista britânico Alexander McQueen revolucionou o jeito de fazer moda. Com criatividade, aliada à sua habilidade, arquitetou roupas que foram além da utilidade do vestir. Seus desfiles dramáticos e suas peças irreverentes chocaram e encantaram o mundo. E deixou tudo como legado para sua luxuosa marca Alexander McQueen, na qual as estruturas das roupas transitam entre tradição e modernidade, passeando pela transgressão, um dos principais trunfos da grife britânica. A marca é distinta por sua expressão inovadora e intransigente de criatividade desenfreada. 

A história 
Caçula de seis filhos de um taxista e de uma dona de casa, nascido no dia 17 de março de 1969, em Londres, Lee Alexander McQueen (foto abaixo) começou a se interessar por moda desde pequeno. A primeira memória de que Alexander teve dele próprio foi a de desenhar um vestido em uma das paredes de sua casa, em 1972, aos três anos de idade. Aos 15 anos já tornava as suas visões realidade e fazia vestidos para as três irmãs irem à escola, de forma a ajudar os pais com as despesas. Pouco depois, aos 16 anos, o inglês deixou a escola, passou a se dedicar exclusivamente à sua grande paixão e começou a trabalhar na famosa rua da alfaiataria de luxo masculina de Londres - a Savile Row (sua escola primária na moda). Foi lá que durante quatro anos como aprendiz de alfaiatarias tradicionais como Anderson & Shephard, Gieves & Hawkes e Angels & Bermans, aprendeu as técnicas para a execução dos mais diversificados cortes de vestuários. Em 1989 foi para Milão trabalhar como assistente de Romeo Gigli. Toda esta incrível experiência contribuiu para que Alexander McQueen concluísse em 1992, com muito destaque, o mestrado em design de moda na conceituada Saint Martins College of Art and Design, o maior celeiro da cena fashion inglesa. Em seu desfile de formatura, batizado de “Jack the Ripper Stalks His Victims” (inspirado em Jack, o estripador), o visual dramático do britânico chamou a atenção de grandes players da moda: a lendária editora de moda da então revista Tatler, Isabella Blow, comprou toda a coleção (por £5.000) e persuadiu o estilista a usar apenas seu nome do meio, ou seja, Alexander McQueen (o primeiro nome, Lee foi abandonado).


Pouco depois, ainda em 1992, criou a sua própria grife, batizada é claro de Alexander McQueen. Ele passou então a unir as técnicas de alfaiataria com um estilo pautado pelas ruas de Londres, a maior referência para suas coleções. Em 1993 o estilista apresentou oficialmente sua primeira coleção feminina (batizada de “Taxi Driver”) no pomposo hotel Ritz. No ano de 1995, a coleção “Highland Rape”, apresentada em março, causou enorme rebuliço entre a imprensa da moda fazendo com que o estilista ganhasse o apelido de “Enfant Terrible” (criança terrível, em francês). Afinal, o estilista sempre dizia: “Você tem que conhecer as regras para poder quebrá-las. É por isso que estou aqui, para demolir as regras e manter a tradição ao mesmo tempo”. A coleção, cujo objetivo era homenagear seus ancestrais escoceses, apresentava tartã preto e vermelho, além de blusas de renda rasgadas. Não demorou muito para o sucesso encontrar McQueen. No ano seguinte, seu enorme talento foi recompensado com o prêmio British Designer of the Year. Além disso, assumiu o cargo de diretor criativo da tradicional Givenchy, deixado por seu colega de faculdade John Galliano, com a missão de reprojetar a marca francesa no cenário do mundo da moda de luxo. Ele permaneceu no cargo até 2001 e comandou, em paralelo, a marca que leva seu nome.


No ano de 1997, em sua principal coleção apresentou ao público a famosa jaqueta com chifres. Já celebrado e disputado pela indústria da moda, McQueen continuava o seu intenso e audacioso processo de criação, consolidando-se profissionalmente ao lançar tendências que marcaram o mundo, entre elas as calças de cintura baixa, as estampas de caveiras, as peças de alfaiataria, a estética gótica e os desfiles tratados como verdadeiras superproduções, que levavam a tecnologia, o drama e as artes cênicas para cima das passarelas. Em dezembro de 2000, sua grife passou a integrar o portfólio do grupo Gucci (atual Kering), que adquiriu 51% das ações, e ganhou a merecida expansão internacional, inaugurando luxuosas lojas em Nova York, Londres, Milão, Las Vegas e Los Angeles. Pouco depois, em 2003, a marca lançou Kingdom, sua primeira fragrância feminina. Nos dois anos seguintes a marca ampliou sua linha de produtos com o lançamento da coleção de óculos e roupas masculinas (2004) e bolsas (2005). No desfile da coleção de verão 2005, o estilista transformou as modelos em peças de xadrez, onde o jogo era pautado pela dualidade Oriente versus Ocidente e inspirado em uma das cenas de Harry Potter. Pouco depois, em julho de 2006, mais uma novidade com a introdução de sua linha mais jovem e acessível, batizada de McQ. Nesta época, a originalidade da construção de suas roupas era impressionante, sempre com um elemento surpresa: ombros de casacos remodelados, tecidos desgastados em roupas de alta-costura, padronagens típicas da moda inglesa, aumentadas e distorcidas, matérias-primas como cabelo e látex.


Se por um lado não era simpático com a mídia e não se preocupava em explicar suas coleções, alimentando o mito de menino mau da moda inglesa, McQueen era fiel aos seus amigos. Por exemplo, em 2006, foi um dos primeiros a defender a modelo Kate Moss após ser flagrada por uma tabloide consumindo cocaína. A modelo viu sua carreira entrar em decadência. Todos tomaram alguma distância dela, exceto McQueen, que provocador e num gesto de apoio à amiga, projetou um holograma tridimensional da modelo dentro de uma pirâmide, em seu desfile na cidade de Paris. No fim, entrou com uma camiseta onde estava escrito “Nós te amamos, Kate!”.


A vida do polêmico estilista começaria a desmoronar emocionalmente em 2007 quando a grande amiga e parceira, Isabella Blow cometeu suicídio, em outubro. Nesse mesmo ano McQueen dedicou sua coleção a leal amiga. A sua última coleção, Plato’s Atlantis, previa uma espécie de retorno à origem das espécies, tendo Charles Darwin como ponto de partida. Passado e futuro se misturavam, criando mulheres com vestidos que lembravam águas-vivas e sapatos Alexander McQueen do icônico modelo tatu, com saltos de 25 centímetros. A marca lançou uma loja online nos Estados Unidos em 2008, que mais tarde seria expandida para o mercado do Reino Unido e outros países. Nove dias após a morte de sua mãe, Joyce, no dia 11 de fevereiro de 2010 Alexander McQueen cometeu suicídio devido a uma forte depressão em seu apartamento no elegante bairro de Mayfair, em Londres, chocando e comovendo o mundo da moda. Sua precoce morte aos 40 anos colocou fim à carreira de um dos mais talentosos e iconoclastas estilistas. As passarelas do mundo da moda nunca mais seriam as mesmas sem ele. Se olhava para o passado, viajava para a Inglaterra eduardiana, recriava corsets que faziam as modelos perderem o fôlego (Abbey Kee Kershaw desmaiou em um desfile), era também uma ponte para o futuro: o último desfile, do verão 2010, tinha looks anos-luz à frente da concorrência e sapatos com saltos de 30 cm.


Em Fashion Victim: The Killing of Gianni Versace, documentário produzido em 2001, McQueen deu a seguinte declaração: “Não acho que a marca (Versace) deva continuar após a morte de Gianni. Um designer tão autoral como ele não pode ser substituído. Quando eu morrer, não quero que ninguém continue por mim”. Mas sua grife sobreviveu sem seu mentor, apesar dele não concordar. Isto porque, desde maio de 2010, o desafio de continuar a marca sem seu criador coube à estilista Sarah Burton, que foi assistente de McQueen por 14 anos. Em setembro desse ano, Sarah apresentou a primeira coleção de sua autoria e, em 2011, foi escolhida pela duquesa de Cambrige, Kate Middleton, para fazer seu vestido de casamento com o príncipe William. Ainda em 2011, a marca inaugurou sua primeira loja na cidade de Pequim com um enorme desfile. Aclamada pela crítica, Sarah Burton manteve vivo o estilo de McQueen, ressaltando o aspecto artesanal das roupas e adicionando toques de feminilidade, inclusive em sua segunda marca, McQ (que começaria a ganhar lojas próprias nos anos seguintes). Em 2012, a estilista foi condecorada com a Ordem do Império Britânico em retribuição a sua contribuição para a moda inglesa, mostrando que estava mesmo à altura de perpetuar a tradição de Alexander McQueen. Nos anos seguintes, a marca inaugurou lojas em grandes cidades cosmopolitas do mundo e ingressou fortemente no mercado asiático e Oriente Médio.


Integral à cultura, a marca sempre foi a justaposição entre os elementos contrastantes: a fragilidade e a força, tradição e modernidade, fluidez e intensidade. A mistura de cortes clássicos, materiais invulgares, design extravagante, ousadia nas cores, composições surrealistas e carisma sempre fizeram parte de suas coleções. Coleções essas que combinam conhecimento profundo e trabalho de alfaiataria britânica sob medida, o fino acabamento dos ateliês franceses de alta-costura e o acabamento impecável da fabricação italiana. Por isso, ao longo dos anos, o DNA exclusivo da marca Alexander McQueen conquistou clientes famosos e fiéis como Beyoncé, Fergie, Rihanna, Lady Gaga, Naomi Campbell, Sarah Jessica Parker, Cameron Diaz, Sandra Bullock, Cate Blanchett, Michelle Obama e até o Príncipe Charles.


Shows midiáticos 
Outra grande contribuição do designer Alexander McQueen à moda inglesa e mundial foi a concepção de desfiles dramáticos, que seguiam uma narrativa e desafiavam a fórmula das passarelas. Os desfiles do estilista na Semana de Moda de Paris tinham mesmo o dom de se destacar frente às dezenas de coleções de outras marcas. Teatral e único, o polêmico estilista enclausurou o público e a imprensa num armazém claustrofóbico, recheado apenas de sons de pássaros e acidentes de carros (1994), colocou nas passarelas modelos com peças rasgadas, como se tivessem sido violentadas (1995), colocou robôs tingindo vestidos na passarela (verão de 1999), recriou A Noite dos Desesperados, de Sidney Pollack, com modelos dançando até a exaustão (verão 2004), montou um xadrez humano (verão 2005), homenageou Hitchcock (inverno 2005), projetou na passarela um espectro de Kate Moss (inverno 2006) e trouxe às passarelas modelos com bocas que em quase nada lembravam lábios humanos (2009). Criou peças que muitas vezes se aproximavam da arte - e nem sempre eram compreendidas. Não eram somente as passarelas que serviam de palco para as criações de McQueen. Cate Blanchett e Sarah Jessica Parker eram duas entusiastas de seus tartãs e vestidos excêntricos. Já as cantoras Björk e Lady Gaga usaram figurinos dele em vídeos e aparições públicas.


A evolução visual 
A identidade visual da marca passou por algumas alterações ao longo dos anos, adquirindo uma grafia mais moderna e atraente. Há alguns anos atrás o novo logotipo apresentou uma nova tipografia de letra. Mas a principal mudança foi o nome da marca escrito por inteiro (sem a letra C dentro do Q).


Dados corporativos 
● Origem: Inglaterra 
● Fundação: 1992 
● Fundador: Alexander McQueen 
● Sede mundial: Londres, Inglaterra 
● Proprietário da marca: Alexander McQueen Trading Limited 
● Capital aberto: Não (subsidiária da Kering S.A.) 
● CEO: Emmanuel Gintzburger 
● Diretor criativo: Sarah Burton 
● Faturamento: €350 milhões (estimado) 
● Lucro: Não divulgado 
● Lojas: 50 
● Presença global: 55 países 
● Presença no Brasil: Sim 
● Segmento: Moda de luxo 
● Principais produtos: Roupas, acessórios, calçados e perfumes 
● Ícones: A extravagância e transgressão 
● Website: www.alexandermcqueen.com 

A marca no mundo 
As marca de luxo Alexander McQueen, que oferece coleções de roupas masculinas e femininas, acessórios, óculos e fragrâncias, é vendida através de 50 lojas próprias e luxuosas lojas de departamentos em mais de 55 países ao redor do mundo. O faturamento anual estimado da marca é de €350 milhões. 

Você sabia? 
Se o estilista não se rendia aos apelos comerciais (sua marca quase sempre operou no vermelho), era capaz de transformar produtos banais em itens de colecionador através de parcerias: os tênis da Puma (2005), a coleção cápsula para a varejista Target (2009) e as malas da Samsonite (2009) são provas disso. 
Alexander McQueen foi eleito o melhor estilista da moda britânica em 1996, 1997, 2001 e 2003, além de angariar o posto de melhor designer do ano, em 2003, concedido pelo CFDA (Conselho da Fashion Designer of America). 
Durante sua existência criativa, McQueen esteve em contato com o Brasil em diversas oportunidades. Em um desses encontros, ajudou a lançar a nossa maior representante: Gisele Bündchen. Em 1998, começando na carreira, a brasileira desfilou para a marca do britânico. Ela usaria três looks durante o desfile, sendo o primeiro um maiô prateado, o segundo um vestido e o terceiro uma saia. A modelo perguntou onde estava a blusa do último look e ouviu como reposta: “não tem blusa”. Desesperada, pediu a uma maquiadora que pintasse seus seios de branco e assim entrou na passarela. 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Elle, BusinessWeek, Vogue e Exame), sites de moda (Farfetch), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas). 

Última atualização em 1/10/2019

Um comentário:

Anônimo disse...

Poderiam fazer um post sobre a Linx, empresa de software.