Epidemias. Terremotos. Tufões. Guerras civis. Inundações. São em cenários como esses que os profissionais da organização Médicos Sem Fronteiras atuam, proporcionando que milhões de pessoas tenham ao menos uma chance de sobrevivência. Seus voluntários levam socorro às populações em perigo e às vítimas de catástrofes de origem natural ou humana e de situações de conflito, sem qualquer discriminação racial, religiosa, filosófica ou política. Trabalhando com neutralidade e imparcialidade, os Médicos Sem Fronteiras reivindicam, em nome da ética médica universal e do direito à assistência humanitária, a liberdade total e completa do exercício da sua atividade.
A história
A organização Médecins Sans Frontières (conhecida no Brasil de Médicos Sem Fronteiras) foi criada no dia 20 de dezembro de 1971 por um grupo de 13 jovens médicos franceses (conhecidos então como French Doctors), liderado pelo médico Bernard Kouchner, e jornalistas, liderados por Raymond Borel, editor chefe do jornal médico Tonus, que, em sua maioria, tinham trabalhado como voluntários da Cruz Vermelha em Biafra, região no sudeste da Nigéria, que, no final dos anos de 1960, estava sendo destruída por uma guerra civil brutal. Enquanto trabalhavam para socorrer as vítimas do conflito, eles perceberam que as limitações da ajuda humanitária internacional da época eram fatais. Para tratar dos doentes e feridos era preciso esperar por um entendimento entre as partes em conflito ou pela autorização oficial das autoridades locais. Além dos entraves burocráticos e políticos, os grupos de ajuda humanitária não se manifestavam diante dos fatos testemunhados, ainda que diante de situações gritantes.
Ao retornarem à França, estimaram que a política de neutralidade e de reserva da Cruz Vermelha havia sido um erro, e que era necessária a criação de uma associação que aliasse ajuda humanitária e ações de sensibilização junto à mídia e às instituições políticas. A organização surgiu com o objetivo de levar cuidados de saúde para quem mais precisa, independentemente de interesses políticos, raça, credo ou nacionalidade. Na verdade era uma organização humanitária que associava ajuda médica e sensibilização do público sobre o sofrimento de seus pacientes, dando visibilidade a realidades que não podiam permanecer negligenciadas. Seus fundadores acreditavam que todas as pessoas tinham o direito a tratamento médico, e que essa necessidade era mais importante que as fronteiras nacionais (princípio de ingerência). No ano seguinte, o MSF fez sua primeira intervenção, na Nicarágua, após um terremoto que devastou a capital do país, Manágua, matando entre 10 e 30 mil pessoas.
Ainda nesta década a organização atuou em Honduras, depois da passagem de um furacão em 1974; nos campos de refugiados da Tailândia, em 1975; estabeleceu o primeiro programa médico de grande escala durante a crise de refugiados no Camboja, em 1975; e no Líbano, em 1976, durante sua primeira missão de guerra. Pouco depois, em 1980, após a ocupação do Afeganistão pelos Estados Unidos, o MSF forneceu proteção e estrutura para as vítimas da guerra. No final desta década, em 1988, a organização levou ajuda às vítimas de um grande terremoto na Armênia. A atuação da organização nesses anos culminou com o recebimento do Prêmio Nobel da Paz em 1999 em reconhecimento ao trabalho humanitário pioneiro em diversos continentes e para honrar seus profissionais médicos, que haviam atuado em mais de 80 países, tendo tratado dezenas de milhões de pessoas. A partir desse ano, a organização começou a promover a Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais, visando chamar a atenção para doenças negligenciadas, como a malária, doença de Chagas e a doença do sono, que matam milhões de pessoas a cada ano. Além disso, a campanha também visava proporcionar o acesso a medicamentos para tratamento da AIDS nos países mais atingidos.
Neste momento a organização já possuía escritórios regionais em vários países, inclusive no Brasil, onde havia desembarcado no começo da década. A partir de 2005, o MSF começou a recrutar profissionais brasileiros para trabalhar em seus projetos pelo mundo. Nos últimos anos, algumas das crises nas quais o MSF esteve presente ativamente foram: o Terremoto no Haiti (2010), a Guerra da Síria (2011), o Tufão nas Filipinas (2013), a Epidemia de Ebola na África ocidental (2014), o Conflito do Iêmen (2015) e o Terremoto no Nepal (2015). Em 2015, um bombardeio dos Estados Unidos ao centro de trauma do MSF na cidade de Kunduz, no Afeganistão, fez o maior número de vítimas em ataques a instalações da organização: 42 pessoas foram mortas, sendo 14 profissionais do MSF.
Nos últimos anos, o MSF proporciona também ações de longo prazo, na ajuda a refugiados, em casos de conflitos prolongados, instabilidade crônica ou após a ocorrência de catástrofes naturais ou provocadas pela ação humana. Também é missão do MSF chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos pacientes atendidos em seus projetos. Além disso, em situações em que a atuação médica não é suficiente para garantir a sobrevivência de determinada população – como ocorre em casos de extrema urgência –, a organização pode fornecer água, alimentos, saneamento e abrigos. Esse tipo de ação se dá prioritariamente em períodos de crise, quando o equilíbrio anterior de uma situação é rompido e a vida das pessoas é ameaçada.
A linha do tempo
1984
● Grande projeto de nutrição intensiva para vítimas da fome na Etiópia, na África.
1985
● A organização é expulsa da Etiópia depois de ter denunciado o desvio da ajuda humanitária e a migração forçada das populações locais.
1987
● Primeiros projetos médico-sociais em países desenvolvidos, começando pela França.
1989
● Lançamento de programas de saúde na Europa Oriental, depois do colapso do bloco comunista.
1991
● Primeira intervenção no Brasil, para conter uma epidemia de cólera na Amazônia. Depois de 10 anos, o MSF finalizou atuação na região, uma vez que os povos indígenas atendidos passaram a ter acesso a cuidados básicos de saúde com a criação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI).
● Denuncia a limpeza étnica e crimes contra a humanidade, na Bósnia-Herzegovina.
1993
● Chegada ao Rio de Janeiro, iniciando trabalhos com crianças de rua.
1994
● Presença antes, durante e depois do genocídio em Ruanda, na África, onde aproximadamente 800 mil ruandeses da etnia tutsi foram assassinados por milicianos hutus.
1996
● Vacinação de 4.5 milhões de pessoas contra a meningite, na Nigéria.
1997
● Intervenção em epidemia de cólera no oeste da África.
1998
● Assistência e envio de medicamentos e de material médico para as vítimas do furacão que varreu a América Central (Honduras, Nicarágua e Guatemala).
● Causou polêmica ao retirar-se da Coréia do Norte, acusando o regime de Pyongyang de malversar a ajuda humanitária vinda do exterior.
1999
● Assistência humanitária aos refugiados durante a guerra do Kosovo.
2000
● Denuncia a negligência em relação ao povo angolano em meio à guerra entre governo e rebeldes.
2001
● Critica a operação pão e bombas durante ataque dos Estados Unidos ao Afeganistão.
2002
● Amplia presença em Angola, que, após o fim do conflito que durou anos, vivia a pior crise de desnutrição da África na última década.
2003
● Durante pesados conflitos entre forças do governo e tropas rebeldes na capital da Libéria, o MSF oferece assistência a milhares de deslocados e transforma casas em hospitais.
2010
● Após o terremoto que devastou o Haiti, a organização tratou mais de 173 mil pacientes e realizou mais de 11 mil cirurgias.
2011
● Concentra esforços no atendimento às pessoas afetadas pelo conflito na Síria e atua em três hospitais no norte do país transformando casas e uma granja em hospitais. Impedido de acessar outras áreas da Síria, o MSF inicia apoio a mais de 50 unidades de saúde espalhadas pelo país.
2013
● A República Centro-Africana alcança status de emergência humanitária crônica após o golpe de Estado e a violência chega a níveis sem precedentes. O MSF mantém sete projetos regulares e seis de emergência, em quase todo o país, além prestar assistência a refugiados nos países vizinhos. É das poucas organizações que levam cuidados a essa população.
2014
● Início de uma epidemia de Ebola sem precedentes: em seis países, o MSF tratou quase 5 mil pacientes no ano, aproximadamente 25% de todos os casos declarados na África Ocidental.
Missões do bem
Atualmente, as principais ações do MSF no mundo são:
+ Campanhas de vacinação
+ Ações de prevenção de doenças
+ Assistência a campos de refugiados
+ Nutrição terapêutica e suplementar
+ Distribuição de alimentos em regiões em situação de fome aguda
+ Distribuição de medicamentos
+ Assistência médica dentro de instalações públicas pré-existentes
+ Reforma de estruturas de saúde - reabilitação de hospitais e clínicas
+ Cirurgias
+ Campanhas de sensibilização da opinião pública
+ Projetos de saneamento e provisão de água
+ Construção de hospitais e postos de saúde
+ Formação de agentes comunitários
+ Formação de pessoal de saúde
+ Apoio à reinserção social
+ Acompanhamento epidemiológico de um país ou região
A ajuda em números
A cada ano, aproximadamente 7.700 médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde da organização Médecins Sans Frontières, partem de diferentes países, em direção a quase 470 projetos de ajuda humanitária em mais de 70 países, levando atendimento para mais de 30 mil pessoas diariamente. O trabalho sério da organização realmente salva milhões de vidas anualmente: são aproximadamente 9.1 milhões de consultas ambulatoriais; 3 milhões de crianças vacinadas; 43 mil cirurgias de guerra; tratamento para mais de 180 mil casos de desnutrição severa e moderada; mais de 250 mil partos; 30.600 imigrantes e refugiados resgatados do mar; mais de 55 mil internações; tratamento para casos de malária (2.5 milhões de pessoas), HIV/AIDS (mais de 220 mil pacientes), tuberculose, sarampo, meningite e cólera; milhões de atendimentos psicológicos; além da distribuição de milhares de kits de higiene e cozinha e lonas plásticas.
Dados corporativos
● Origem: França
● Fundação: 20 de dezembro de 1971
● Fundador: Bernard Kouchner e Raymond Borel
● Sede mundial: Genebra, Suíça
● Proprietário da marca: Médecins Sans Frontières
● Capital aberto: Não (organização não-governamental)
● Presidente: Joanne Liu
● Secretário Geral: Jérôme Oberreit
● Arrecadação: €1.5 bilhões (2016)
● Presença global: 71 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários/voluntários: 36.000
● Segmento: Terceiro setor
● Principais produtos: Assistência médica e humanitária
● Concorrentes diretos: Red Cross (Cruz Vermelha), Médecins du Monde, The Salvation Army e Anistia Internacional
● Slogan: Hope without borders.
● Website: www.msf.org.br
A marca no Brasil
Em 1991, o Médicos Sem Fronteiras iniciou sua primeira intervenção no Brasil no combate a uma epidemia de cólera na Amazônia, em parceria com o Ministério da Saúde. Depois que a epidemia foi controlada, o MSF passou a desenvolver um trabalho de saúde preventiva com tribos indígenas, impulsionada pelo alto índice de mortalidade e morbidade provocadas principalmente pela malária. Nos anos seguintes, a organização implantou vários projetos, como por exemplo, em 1996 quando criou o Programa Local de Prevenção a DST/Aids, através da implantação de bancos de preservativos e atividades educativas de prevenção em comunidades carentes do Rio de Janeiro, em parceria com associações de moradores; o Dentemania em 1998, onde realizava um trabalho com crianças de rua e de comunidades carentes, para ensinar, de maneira lúdica, como manter a higiene bucal; e constituiu, em 1998, uma rede de médicos voluntários que se preocupam com a questão da exclusão social e oferecem atendimento gratuito à população excluída. Atualmente, o MSF do Brasil envia 150 brasileiros de diversas especialidades para seus projetos pelo mundo e conta com aproximadamente 260 mil doadores.
A marca no mundo
Hoje, mais de 36 mil profissionais, dos quais mais de 7.700 são médicos, trabalham com a organização internacional não-governamental sem fins lucrativos que oferece assistência à saúde, em casos como conflitos armados, catástrofes naturais, epidemias, fome e exclusão social em mais de 70 países. Aproximadamente 95% da arrecadação provém de doações particulares (são mais de 6 milhões de doadores individuais), enquanto o restante é proveniente de governos e empresas. Atualmente é a maior organização de ajuda humanitária não governamental do mundo, na área da saúde.
Você sabia?
● A organização, mundialmente conhecida pela sigla MSF (abreviação da frase em francês “Médecins Sans Frontières”), também adota os nomes MÉDICOS SEM FRONTEIRAS (no Brasil) e DOCTORS WITHOUT BORDERS (nos Estados Unidos).
● Em junho de 2016, após o acordo firmado entre a União Europeia e a Turquia, o MSF decidiu não receber mais recursos financeiros dos países-membros do bloco em protesto contra a vergonhosa política migratória imposta a refugiados e migrantes.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Exame), jornais (Valor Econômico, Folha e Estadão), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 16/11/2017
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