24.3.21

COTONETES®


O sonho de qualquer empresa é ver sua marca tornar-se sinônimo de categoria. Dificilmente algum brasileiro irá à farmácia e pedirá hastes flexíveis. Pedirá COTONETES®, que sim, é uma marca registrada da Johnson & Johnson. Poucas marcas têm esse privilégio de serem reconhecidas como sinônimo de uma categoria de produto. E COTONETES® conquistou este posto ao inspirar confiança e credibilidade a milhões de brasileiros de várias gerações. 

A história 
Antes de contar a história da marca COTONETES® é preciso saber quem inventou o produto. Foi Leo Gersternzang, um polonês naturalizado americano. Depois de lutar pelo exército americano na Primeira Guerra Mundial, ele trabalhou para a Cruz Vermelha na Europa. Em 1922, ao retornar para os Estados Unidos, fundou uma pequena empresa especializada na venda de artigos para bebês, a Gerstenzang Infant Novelty Company. Um ano depois, ao observar a esposa limpando o ouvido de sua filhinha com um chumaço de algodão preso a um palito de dentes, Gersternzang teve a ideia de transformar aquela improvisação em um produto comercial e criar as hastes, que de início não eram tão flexíveis, mas sim de madeira com algodão em ambas as pontas. Após ter aperfeiçoado o produto, para torná-lo seguro, Leo tentou viabilizá-lo comercialmente. Por ser um produto destinado a manter as crianças felizes e cuidadas chamou-lhe “Baby Gays”. Em 1926 mudou o nome para “Q-tips® Baby Gays”, significando o “Q” qualidade.
  

Ainda na década de 1920 a tradicional Johnson & Johnson (conheça a história completa aqui) resolveu lançar o produto no mercado americano. No começo, o Wooden Applicator, uma haste de madeira com algodão em apenas uma das pontas, tinha seu uso restrito a hospitais, especialmente para a aplicação de remédios. Em 1947, o enorme sucesso do produto fez a empresa lançar o Johnson’s Cotton Tipped Applicator (depois seria conhecido como Johnson’s Buds®), disponível para venda direta ao consumidor e indicado para o público infantil, especialmente para limpar as orelhas e ouvidos. E foi somente em 1963, que as hastes foram modificadas, de madeira para plástico, e se tornaram ainda mais flexíveis e seguras. Rapidamente o produto conquistou a confiança de milhões de mamães e começou a ser comercializado em outros países ao redor do mundo.
  

Em 1956 a empresa americana, que já possuía a intenção de lançar o produto no Brasil e outros países latino-americanos, registrou a marca COTONETES®, provavelmente uma junção das palavras “cotton” (algodão em inglês) e bastonete. A empresa queria aproveitar o alto reconhecimento do público - em especial as mães brasileiras - por sua linha de produtos infantis na área de higiene e cuidados pessoais, com a marca Johnson’s Baby (conheça essa história aqui). Com isso, COTONETES® chegou oficialmente ao mercado brasileiro em 1965 e tornou-se sinônimo de hastes flexíveis destinadas à higiene, inicialmente direcionado para crianças. A primeira grande campanha publicitária da marca foi lançada em 1977 e era protagonizada por um bebezinho em desenho animado que recorria ao choro para mostrar à mãe que preferia que ela usasse COTONETES®, e não a toalha, para secar suas orelhas.
   

A marca ganharia ainda mais popularidade quando uma campanha publicitária de 1978 apresentaria a milhões de brasileiros o “Homenzinho Azul”, espécie de mascote de COTONETES®, que de tão famoso iria parar nas embalagens do produto. Essa campanha marcou uma mudança enorme na linha de comunicação de COTONETES®, mostrando aos consumidores que o produto tinha outros usos além dos cuidados infantis, ajudando na limpeza e higiene de áreas sensíveis e delicadas. A principal intenção da campanha era comunicar como as hastes flexíveis COTONETES® eram muito versáteis e proporcionavam higiene com segurança e conforto. Nos anos seguintes, a marca lançou novas embalagens, como por exemplo, o popular pote redondo com 150 unidades, e o produto também passou a ser utilizado até mesmo em aplicações estéticas.
  

Apesar de ganhar inúmeras marcas concorrentes nos últimos anos, COTONETES® continua com reputação em alta entre os brasileiros. Afinal, o produto passa por um rígido controle de qualidade. As hastes flexíveis COTONETES® são inquebráveis, proporcionando segurança e conforto. Suas pontas de algodão não soltam fiapos, pois sua base contém ranhuras que permitem uma fixação segura e higiênica. O puro algodão de COTONETES® recebe um tratamento especial antigerme que o mantém livre de contaminação. É mais um carinho da J&J para cuidar de milhões de brasileiros, ajudando na higiene de áreas sensíveis e delicadas.
   

Uma campanha memorável 
Em 1978 uma campanha para a marca COTONETES® apresentaria aos milhões de brasileiros um dos mais populares personagens da publicidade: o Homenzinho Azul. O carismático personagem foi criado pelo publicitário Edmar Salles, da agência Lowe Lintas, e animado por Walbercy Ribas. O comercial de estreia, que fazia parte de uma campanha com o objetivo de reforçar o conceito de hastes flexíveis, conquistou Leão de Bronze no Festival de Cannes do mesmo ano. O objetivo da campanha, que tinha como tema “Gente grande também precisa de carinho”, era mostrar que o produto tinha outros usos além dos cuidados infantis. Careca e gordinho é impossível se esquecer dele saindo do banho, de toalha laranja, rebolando e dançando ao embalo de jazz.
  

Desde então, a marca já produziu mais de 20 filmes publicitários com o personagem que ainda hoje ilustra a embalagem dos tradicionais COTONETES®. Com exceção do primeiro comercial - mais pudico - a marca registrada do personagem foi sempre deixar cair a toalha e ficar com a cara vermelha de vergonha no final do filme. Em decorrência das margens mais apertadas, COTONETES® acabou perdendo fôlego de investimentos em marketing e propaganda. Por essa razão, o Homenzinho Azul ainda está presente na embalagem do produto e na memória de muitos consumidores, mas fora da mídia, salvo em raras ocasiões. Mesmo assim, hoje em dia esse gordinho, careca e simpático é visto pelos consumidores brasileiros como uma figura bem resolvida por não ceder à pressão dos padrões estéticos. Assista abaixo o primeiro comercial do carismático personagem.
  

Dados corporativos 
● Origem: Brasil 
● Lançamento: 1965 
● Criador: Johnson & Johnson 
● Sede mundial: New Brunswick, New Jersey, Estados Unidos 
● Proprietário da marca: Johnson & Johnson Inc. 
● Capital aberto: Não 
● Presidente: André Mendes (Brasil) 
● Faturamento: Não divulgado 
● Lucro: Não divulgado 
● Presença global: 10 países 
● Presença no Brasil: Sim 
● Segmento: Higiene pessoal 
● Principais produtos: Hastes flexíveis 
● Concorrentes diretos: York Palinetes, Topz, Aponete, Cremer, Cotonela, Needs e Ever Care 
● Ícones: O homenzinho azul 
● Slogan: COTONETES® é para toda a família. 

A marca no mundo 
Apesar de comercializar um único produto, hastes flexíveis, COTONETES® continua com a liderança do mercado brasileiro. O produto é comercializado em embalagens de 75, 100, 150 e 300 unidades. A marca também é comercializada em outros países latino-americanos como Argentina, Paraguai, Venezuela, México, Colômbia e Uruguai. 

Você sabia? 
A marca foi parar nos dicionários: “cotonete” = haste flexível, cujas extremidades são recobertas de algodão
Se estéril, COTONETES® pode ser utilizado na área da saúde, principalmente para recolhimento de secreções e amostras. 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Exame, Isto é Dinheiro e Embalagem Marca), jornais (Meio Mensagem, Valor Econômico, Estadão e Folha), sites especializados em Marketing e Branding (Mundo do Marketing) e Wikipedia (informações devidamente checadas). 

Última atualização em 24/3/2021

14.3.21

PicPay


Pagar a conta da boate às 4h da manhã deixando a carteira em casa? Check. Mandar o dinheiro pra sua conta no banco e não pagar taxa nenhuma? Check. Fazer uma recarga de celular? Check. Tudo sem carteira, dinheiro ou cartão. Com PicPay é assim. Você paga tudo pelo celular, sem contato e de onde estiver. Mais do que uma nova forma de pagar, o PicPay oferece uma nova experiência entre o cliente e o seu dinheiro. 

A história 
Essa história começou dentro da TEC Vitória, uma incubadora de tecnologia no Espírito Santo, quando três empreendedores, Dárcio Stehling, Diogo Roberte e Anderson Chamon, resolveram apostar na ideia de levar um método de pagamento para dentro do smartphone, imaginando como isso poderia revolucionar a relação que as pessoas tinham com o dinheiro em nosso país. Era um período em que as pessoas começavam a ganhar intimidade com seus smartphones e transações bancárias online não eram comuns e geravam muitas incertezas. Mesmo diante dessas dúvidas, no dia 13 julho de 2012, os três jovens empreendedores fundaram o PicPay, uma startup para otimizar soluções do setor financeiro, e/ou introduzir novas soluções. O primeiro produto foi um aplicativo de pagamentos online, que nasceu com a proposta de descomplicar transferências de valores entre usuários.
   

Combinando tecnologia e segurança, o objetivo era facilitar a vida dos seus usuários em diversos momentos, como dividir a conta do bar, cobrar o dinheiro da viagem ou rachar o presente de aniversário do amigo. E isso começou a ser possível em 2013 com o lançamento da opção de pagamento em P2P (pagamento pessoa para pessoa). O PicPay permitia receber e realizar pagamentos para pessoas, de graça e instantaneamente, usando o cartão de crédito ou o saldo da carteira digital. O aplicativo tinha funcionamento simples: era só procurar o nome do usuário que iria receber o dinheiro, digitar o valor do pagamento e pronto, pagou. PicPay também chegou com uma novidade: foi uma das primeiras carteiras digitais do mundo a oferecer pagamento via QR Code.
   

Em 2014, a empresa ampliou os serviços oferecidos com o lançamento do PicPay Pro, solução para quem desejava receber pagamento sobre vendas realizadas (em até 12x no cartão de crédito e receber na hora, neste caso era cobrada taxa por pagamento recebido). A transação podia acontecer entre contas do PicPay ou por link de pagamento. O sucesso e crescimento do PicPay rapidamente despertou o interesse de grandes investidores e, em 2015, o Banco Original adquiriu significativa participação na empresa. Em 2016, o PicPay já atingia a marca de 500 mil usuários.
   

Com crescimento cada vez mais acelerado, foi então que o PicPay ofereceu, em 2017, a opção de pagamentos voltada para empresas, que acabou dando mais visibilidade ao aplicativo. Além disso, na PicPay Store era possível recarregar celular, cartão de transporte, e muito mais. No ano seguinte o PicPay realizou o lançamento do e-commerce (para pagamentos em sites) e assinaturas (perfeito para clubes de assinatura, financiamentos coletivos, criadores de conteúdo e muito mais). O ano de 2019 foi marcado pelo lançamento de novos serviços como a opção de saque na rede Banco24Horas (escaneando um QR Code na tela do caixa eletrônico usando o aplicativo do PicPay) e até o rendimento de carteira (o saldo rende 210% do CDI). Até este momento, em sete anos de operação, o PicPay acumulou 33 milhões de pagamentos realizados por seus usuários, dos quais 3.5 milhões foram feitos através de QR Codes.
  

Em novembro de 2019, já como maior carteira digital do país, com 12 milhões de usuários, o PicPay lançou sua primeira grande campanha publicitária com a assinatura “PicPay. É mais que dinheiro”. A campanha era composta por dois filmes estrelados por Fábio Porchat. Nas peças, o humorista resolve discutir sua relação com o dinheiro de papel e explica sua escolha por um “relacionamento moderno”, apresentando as facilidades do aplicativo e a fluidez das movimentações financeiras. Uma estratégia que tornou o aplicativo ainda mais popular foram ações de cashback (dinheiro de volta). Através dessas promoções, o PicPay devolve parte do valor gasto pelo usuário em compras ou pagamentos específicos.
  

Recentemente a empresa acelerou o lançamento de outros produtos para se posicionar no topo do mercado. Por exemplo, em 2020, a empresa lançou, em parceria com o banco Original, que é um dos seus controladores, o PicPay Card, que em poucos meses chegou a emitir 4 milhões de cartões para seus clientes. Sem anuidade, o produto é oferecido a toda base de milhões de usuários com a função débito ativada e, a depender perfil do cliente, o crédito também é concedido. Além de ser uma extensão do aplicativo no mundo físico, o PicPay Card se soma à iniciativa da empresa de se consolidar como marketplace financeiro, com uma gama completa de produtos e serviços, incluindo de outras instituições financeiras plugados à plataforma.
   

A pandemia de COVID-19 turbinou os pagamentos digitais e impulsionou definitivamente o PicPay, que começou 2020 com 14 milhões de usuários e fechou o ano com 38.8 milhões. Além disso, novos serviços entraram em operação em 2020, como a Central de Doações (para efetuar doações para várias instituições como Amigos do Bem, Instituto Ronald McDonald, Médicos Sem Fronteiras e Visão Mundial) e o PicPay Login (facilita as opções de login em sites e aplicativos de terceiros, além de oferecer gratuidade em serviços). Em dezembro de 2020, o PicPay anunciou a cantora Iza como a nova embaixadora da marca. A partir de então, todas as principais campanhas da marca são protagonizadas pela artista, e as maiores participações ocorrem no primeiro semestre de 2021, período em que o PicPay está em grande evidência com o patrocínio ao Big Brother Brasil, seguindo a edição passada do reality, que catapultou a marca para um enorme reconhecimento nacional.
   

O PicPay, visto pelo mercado como um grande player de meio de pagamentos, esta desenvolvendo novos produtos e serviços, que serão lançados nos próximos meses, como por exemplo, peer-to-peer lending (empréstimo de um usuário para o outro); publicidade em sua rede; uma plataforma aberta de investimentos; e até um serviço de mensagens ao estilo WhatsApp em sua plataforma. Apesar dos inúmeros serviços lançados nos últimos ano, o PicPay não quer ser um banco digital e nem concorrer com as fintechs badaladas. A ideia é ganhar cada vez mais espaço como uma carteira digital, batendo de frente com outros serviços concorrentes. Afinal, PicPay é o jeito mais fácil de enviar e receber dinheiro.
  

A evolução visual 
O logotipo da marca passou por uma única remodelação em sua história. E isto aconteceu em 2016 quando a identidade visual apresentou uma nova tipografia de letra e um tom de verde mais vívido.
  

Já o ícone do aplicativo também passou por remodelação, porém mais radical. Antes era representado por uma carteira com o tradicional P da marca. O novo ícone, adotado em 2013, passou a contar o P em um fundo verde claro. Este ícone seria atualizado em 2016 para se alinhar a nova identidade visual da marca.
   

O logotipo do PicPay pode ser aplicado de duas maneiras: em fundo branco com o nome no tradicional verde chamativo da marca; ou em um fundo verde com o nome em branco.
  

Os slogans 
Todo mundo usa, todo lugar aceita. (2020) 
É mais que dinheiro. (2019) 
Pague tudo com PicPay. Tudo mesmo. (2019)
Pague tudo com seu PicPay.
  

Dados corporativos 
● Origem: Brasil 
● Fundação: 13 de julho de 2012 
● Fundador: Dárcio Schwab Stehling, Diogo Brumas Carvalho Roberte e Anderson Andrade Chamon do Carmo 
● Sede mundial: São Paulo, Brasil 
● Proprietário da marca: Picpay Serviços S.A. 
● Capital aberto: Não 
● CEO: José Antônio Batista 
● Faturamento: R$ 1.3 bilhões (estimado) 
● Lucro: Não divulgado 
● Presença global: Não (presente somente no Brasil)
● Funcionários: 2.200 
● Segmento: Serviços financeiros 
● Principais produtos: Carteira digital e plataforma de pagamentos 
● Concorrentes diretos: PayPal, Mercado Pago, PagSeguro, Venmo, RecargaPay, Iti e Nubank 
● Ícones: A cor verde-clara
● Slogan: Toda mundo usa, todo lugar aceita.
● Website: www.picpay.com 

A marca no Brasil 
Atualmente o PicPay, a maior empresa de pagamentos digitais da América Latina, conta com mais de 47 milhões de usuários (maior número de um aplicativo de pagamentos no Brasil), movimenta mais de R$ 3 bilhões em transações por mês, é aceito em mais de 3.1 milhões de estabelecimentos pelo país e emprega 2.200 funcionários. Com faturamento estimado em R$ 1.3 bilhões, o valor movimentado pelo PicPay em 2020 chegou próximo a R$ 50 bilhões. Com o PicPay, que além de fazer pagamentos, transferências e armazenar dinheiro, é possível recarregar celular e cartão de transporte, colocar créditos para jogos online, pagar boletos e contas e muito mais. 

Você sabia? 
O PicPay é controlado pela J&F Investments, também proprietária da JBS (conheça essa história aqui), do Canal Rural e do Banco Original. 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Exame, Isto é Dinheiro e Época Negócios), jornais (Meio Mensagem, Valor Econômico, Folha e Estadão), sites gerais (CNN), sites especializados em Marketing e Branding (Mundo do Marketing), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers). 

Última atualização em 14/3/2021

1.3.21

DR. MARTENS


Com suas costuras amarelas e solado característico marcante, elas conseguem transformar qualquer visual. Estão presentes nos pés mais famosos do mundo da música. Elas são presença constante em grandes festivais. São símbolos de força, resistência e rebeldia, sem nunca perder o conforto. Hoje, são calçados perfeitos para sair chutando lata ou companheira confiável para qualquer tarefa, seja ela qual for. Você as usa como quiser. Você faz delas o que quiser. Elas mudam com a moda, à medida que a moda muda. Assim são as icônicas botas e coturnos da inglesa Dr. Martens. 

A história 
A história de um dos mais fortes ícones do setor de calçado começou na década de 1940, com um médico alemão chamado Klaus Märtens. Ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945 e auge de seus 25 anos de idade, enquanto se recuperava de uma fratura no tornozelo e como as botas do uniforme oficial o incomodavam naquela situação, ele resolveu criar um calçado, que fosse mais confortável e que ajudasse na sua recuperação, utilizando para isso um couro mais macio e sola acolchoada. Ele então idealizou uma sola com amortecimento aerado para substituir as tradicionais solas de couro. Utilizando uma forma de sapateiro improvisada, ele desenvolveu um protótipo e despertou o interesse de um antigo colega de faculdade, o engenheiro mecânico Dr. Herbert Funk. Reaproveitando excedentes de guerra e material reciclado, incluindo restos de borracha da Força Aérea Alemã (a temida Luftwaffe), os dois desenvolveram uma técnica para unir o cabedal e a sola, criando compartimentos de ar que amorteciam o impacto nos pés. Os dois amigos então firmaram uma parceria e começaram a vender calçados (botas e coturnos) de porta em porta. A produção começou oficialmente em 1947, um ano perfeito para isso. Afinal, os europeus haviam passado cinco anos com botas militares nos pés. Conforto era o que mais desejavam.
  

Em 1952 o negócio prosperava e a operação saiu de uma acanhada cabana para uma fábrica, inaugurada na cidade de Munique. Nesta época, o mercado alemão se tornou pequeno demais para os produtos da empresa, e a dupla resolveu que estava na hora de vender seus inovadores calçados para outros países. Um acontecimento iria mudar os rumos da empresa alemã. Isto porque, Bill Griggs, terceira geração de sapateiros e que administrava um negócio familiar que fabricava botas desde 1901 na Inglaterra, estava folheando uma revista inglesa especializada em calçados quando viu um anúncio promovendo uma sola feita na Alemanha. Interessado, ele entrou em contato com Klaus e Herbert e adquiriu uma licença de exclusividade para produzir o calçado.
  

A vasta experiência calçadista dos ingleses trouxe algumas mudanças importantes para o produto alemão. A sola ganhou um novo design, com o salto que conhecemos hoje. O cabedal ficou mais alto e simples, lembrando um sapato mais tradicional. A famosa costura amarela, bem como os vincos e sulcos no solado também foram ideias de Bill Briggs. Para finalizar, todas as solas eram marcadas com “AirWair” (sistema patenteado pela empresa inglesa), além do puxador preto e amarelo com o slogan “With Bouncing Soles” (algo como “Com solas que saltam”). Fruto da colaboração entre a tecnologia alemã e a tradição calçadista inglesa, exatamente no dia 1º de abril de 1960, era lançada a icônica bota/coturno Dr. Martens 1460. Essa primeira versão oficialmente britânica era feita em couro napa (pele fina e macia), como o couro de carneiro ou de cabra por meio de um curtimento especial, e com 8 ilhoses na cor vermelho-cereja.
   

Desde o começo as botas da marca inglesa foram um grande sucesso tanto entre homens quanto mulheres. Os primeiros clientes foram carteiros, policiais, fazendeiros e operários que trabalhavam no chão de fábrica, e precisavam de um calçado resistente e confortável. Eles gostaram do conforto durante as longas caminhadas e jornadas e da resistência que a sola possuía a óleos (escorregadios). Um fato curioso e surpreendente foi que as donas de casa (na época, não era tão comum uma mulher sair para trabalhar) também aderiram ao calçado.
  

Mas um fator foi determinante para o sucesso inicial das botas Dr. Martens. A década de 1960 vivenciava uma onda de mudança sem precedentes na sociedade. Foram anos de novas ideias, agitação cultural e, eventualmente, revoluções sociais. Esta atmosfera radical trouxe também uma moda mais extravagante. Os jovens não queriam ser como seus pais, vestindo roupas de cor cinza conformista dos anos de 1950. E foi em meio a toda essa confusão que algo incrível aconteceu: jovens rebeldes excluídos da camada alta da sociedade começaram a usar a bota Dr. Martens como um símbolo da classe trabalhadora. E durante anos as botas Dr. Martens carregaram a credibilidade dessa classe. Um bom exemplo era um político do partido trabalhista, chamado Tony Benn, que só usava botas Dr. Martens na tentativa de expressar solidariedade com os sindicatos.
  

Outro fator importante para a popularidade da botas Dr. Martens foi o movimento skinhead (não confundir com o significado atual). Eram jovens multi-culturais, amantes do gênero musical ska, que defendiam orgulhosamente o estilo da classe trabalhadora britânica, antes do movimento ser sequestrado por forças racistas. Os jovens adeptos a esse movimento começaram a comprar as botas da marca por um motivo: o modo como o couro era cortado na parte da frente da bota para revelar os bicos de aço, as faziam serem vistas como armas, dando mais segurança para quem as usava.
  

Quando as botas Dr. Martens já eram calçadas por grupos de jovens ingleses da classe trabalhadora, uma grande revolução aconteceu em 1967 e impulsionou-as para os holofotes dos festivais de rock e para a visibilidade dos movimentos de contra-cultura. Um fato contribuiu para isto: em Londres, um homem esguio, magro e narigudo, entrou em uma loja de roupas para trabalho, comprou um macacão azul escuro e ao avistar uma bota com sola de borracha da Dr. Martens, resolveu levá-la também. Este homem era Pete Townshend, líder da banda The Who, uma das personalidades mais influentes da época (e na história do rock). O guitarrista do The Who foi uma das primeiras celebridades a calçar a bota Dr. Martens como um símbolo de orgulho da classe trabalhadora. A atitude agressiva da bota proporcionava força e confiança para todos os que as usavam, e talvez tenha sido esse principal elemento responsável por democratizar a Dr. Martens. A música “Uniforms”, de Peter Townshend, tem um trecho que representa bem este sentimento: “It don’t matter where you’re from, what matters is your uniform. Wear your braces ’round your seat, Dr. Martens on your feet”.
  

Essa iniciativa mudou a história da marca, que deixou de ser um acessório para o trabalho, e se tornou essencial para a cultura da época. Ao final da década de 1970, as botas da Dr. Martens haviam se tornado um forte símbolo de expressão pessoal no coração da cultura juvenil britânica. Nos anos de 1980, foi notado um crescimento na venda dos tamanhos masculinos menores, mostrando que as mulheres também eram fãs do estilo britânico. Foi então que a Dr. Martens iniciou a venda dos coturnos e botas femininos. Além disso, populares bandas americanas começaram a levar a moda e as botas da marca para a costa leste, criando tendência entre os consumidores americanos. Já na década de 1990, o grunge transformou o mundo da música e levou a Dr. Martens para milhões de jovens ao redor do mundo. Foi nesta década que a marca inaugurou suas primeiras lojas próprias na Inglaterra. A partir dos anos de 2000, a marca ampliou sua oferta de produtos ao lançar sapatos, sandálias e botas steel-toed, feitos exclusivamente com os solados AirWair.
  

Mais de 50 anos após o lançamento da marca em solo britânico, a Dr. Martens precisou se reinventar. A juventude moderna passou a ter mais consciência ambiental e, portanto, evitando qualquer tipo de pele, camurça, pelo, lã ou seda, além de não utilizar colas que contenham produtos animais ou derivados. Retornando às raízes da marca, de que todos pudessem usar os seus produtos, em 2011 foi lançada a coleção vegana Dr. Martens com os modelos clássicos da marca. Mantendo a mesma qualidade de produção, mas com materiais cruelty free: o calçado é feito com sarja, um tecido leve, mas duradouro. Além da bota clássica, outras opções veganas surgiram, como por exemplo, os sapatos femininos Polly T-Bar e botas de plataforma, ambos feitos com “Cambridge Brush”, um material sintético brilhante que dá a aparência final de couro natural. O ano de 2011 também foi marcado por uma tentativa mal-sucedida de lançar uma linha de vestuário.
  

Em 2013, a família Griggs vendeu a Dr. Martens para o grupo de participações privadas Permira em uma transação avaliada em US$ 410 milhões. Além disso, a marca lançou uma linha de acessórios composta por meias, além de bolsas e mochilas em couro. Antes da pandemia, a Dr. Martens estava investindo cuidadosamente em sua expansão internacional. A empresa incorporou Miami e Houston à rede de lojas nos Estados Unidos em setembro de 2019 e estava concentrando sua presença física na França e na Alemanha. Porém, durante a pandemia - com a maioria de suas lojas e grandes varejistas de calçados fechados por meses em virtude de lockdowns - a operação digital da marca impulsionou as vendas, e a Dr. Martens comercializou 700 mil botas/coturnos a mais nos seis meses até o final de setembro em comparação com o mesmo período do ano anterior.
  

As botas e coturnos Dr. Martens já superaram associações passadas negativas, pois eram calçados símbolos nos pés de hooligans e fascistas. Os conceitos de auto-expressão e rebeldia ainda são o cerne da marca, e o grande apelo de seus calçados é justamente o seu histórico riquíssimo. Mas em sua essência, a Dr. Martens está totalmente vinculada à música. Sem a música, e as subculturas que existem ao redor dos gêneros musicais, ela seria apenas mais uma bota de trabalho.
  

Os slogans 
Tough as you. (2019)
Stand for Something. (2013) 
Forever. (2007) 
Outside of ordinary. (2004) 
With Bouncing Soles. (1960)
   

Dados corporativos 
● Origem: Inglaterra 
● Fundação: 1 de abril de 1960
● Fundador: Bill Griggs 
● Sede mundial: Londres, Inglaterra 
● Proprietário da marca: Dr. Martens Plc 
● Capital aberto: Sim (2021) 
● CEO: Kenny Wilson
● Faturamento: £672 milhões (2019/2020) 
● Lucro: £74.8 milhões (2019/2020) 
● Valor de mercado: £4.9 bilhões (março/2021) 
● Lojas: 130
● Presença global: 65 países 
● Presença no Brasil: Sim 
● Funcionários: 1.500 
● Segmento: Moda casual 
● Principais produtos: Botas, calçados e acessórios 
● Concorrentes diretos: Timberland, Wolverine, CAT, Red Wings Shoes, Oak Street, L.L. Bean, Hunter e Steve Madden 
● Ícones: O coturno 1460 
● Slogan: Tough as you.
● Website: www.drmartens.com 

A marca no mundo 
A Dr. Martens vende anualmente mais de 11 milhões de pares de calçados, incluindo seus tradicionais coturnos e botas, em mais de 65 países ao redor do mundo. Apesar de contar com 130 lojas próprias em todo o mundo, a maior parte da receita vem da venda por meio de outros varejistas. Em 2020, a loja online, que espera ser “o principal motor de crescimento nos próximos anos”, foi responsável por um quinto das vendas, que totalizaram £672 milhões. 

Você sabia? 
A influência das botas Dr. Martens é histórica. Por exemplo, Viv Albertine, guitarrista da banda punk Slits, quebrou as normas e inovou ao se tornar, provavelmente, a primeira mulher a usar a bota tradicionalmente masculina com um vestido. Já Elton John ousou ao utilizar botas Dr. Martens gigantes em uma ópera rock, do The Who. 
A marca frequentemente é referida como Doc Martens


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Exame), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas). 

Última atualização em 2/3/2021