A INDIAN MOTORCYCLE ganhou destaque como uma das marcas mais lendárias e emblemáticas de motocicletas através de uma história de sucesso em competições e inúmeras inovações, que contribuíram para o desenvolvimento deste segmento da indústria. Cada motocicleta da marca carrega uma rica história capaz de rivalizar com a lenda Harley-Davidson.
A história
Tudo começou no início do século passado, quando o jovem imigrante sueco Carl Oscar Hedstrom, um engenheiro e construtor de bicicletas de competição, elaborava um modelo com motor DeDion-Buton e carburador desenhado por ele próprio, a pedido do empresário George M. Hendee, da cidade de Springfield, estado de Massachusetts, que desde 1897 já produzia bicicletas. Juntos, em 1901, fundaram a Hendee Manufacturing Company, ergueram uma fábrica na cidade de Springfield e passaram a produzir a partir de 1902 pequenas motos de um cilindro - pouco mais que bicicletas - batizadas de INDIAN. Em sua estreia nas corridas, ainda este ano, a INDIAN venceu a prova de enduro disputada de Boston a Nova York. A combinação dos seus talentos - Hendee para os negócios e Hedstrom para a mecânica - foi frutífera desde o início: em 1903 surgiam às motocicletas INDIAN com dois cilindros em V, caixa de duas e três velocidades e suspensão traseira com braço oscilante. As primeiras motocicletas comercializadas eram na cor Royal Blue (azul) ou tinham a pintura preta como opcional, mas em 1904 a empresa lançou um vermelho escuro chamado Vermillion, que se tornou mais conhecido como “Indian Red”. Pouco depois, em 1906, a empresa produziu a primeira motocicleta equipada com motor V-Twin. As motos INDIAN foram escolhidas para formar o primeiro batalhão policial de Nova York em 1907. Nesse mesmo ano, com a mudança para uma fábrica maior e uma ampliação na mão de obra levou à INDIAN a começar a produzir seus próprios motores, encerrando assim seu contrato com a empresa Aurora, que antes era responsável pela fabricação dos motores.
Em 1910, a empresa introduziu diversos avanços em seus modelos, incluindo um amortecedor dianteiro e uma válvula automática de óleo. A marca não demorou muito para alcançar sucesso em competições, vencendo quase todas as modalidades sobre duas rodas nos Estados Unidos. E o sucesso se estendeu ao exterior: em 1912, conquistou os três primeiros lugares na famosa Tourist Trophy (TT) da Ilha de Man, na Inglaterra. Em 1913, desenvolveu a suspensão traseira com feixe de mola chamada Cradle Spring Frame. Apesar do ano recorde de vendas com 32.000 motocicletas comercializadas, Oscar Hedstrom se aposentou. No ano de 1914 o modelo Hendee Special foi lançado no mercado equipado com a primeira partida elétrica em uma motocicleta. No entanto, não havia um alternador e as baterias não eram recarregadas, de modo que o modelo ficou em produção apenas um ano. O modelo também contava com outra inovação, luzes elétricas. Antes da Primeira Guerra Mundial a empresa já era considerada a maior fabricante de motocicletas do mundo.
Sempre na vanguarda, em 1916, a empresa presenteou o segmento com várias novidades, entre as quais, o lendário motor V2 Powerplus de 1.000 cc (cujas válvulas laterais resultaram em uma operação mais limpa e silenciosa, produzindo mais força que seus antecessores, gerando assim uma velocidade máxima de 95 km/h) e um modelo de competição com quatro válvulas por cilindro, dois anos depois. Entretanto, com a saída dos fundadores da empresa ainda em 1916, por desentendimentos com outros diretores, a empresa enfrentaria tempos difíceis, inclusive financeiramente. Em 1917, com a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial a INDIAN MOTORCYCLE dedicou grande parte de sua produção para atender a demanda militar. Como resultado, as concessionárias tiveram estoques limitados e as vendas no varejo caíram significativamente. A empresa forneceu aos militares americanos aproximadamente 50.000 motocicletas, a maioria delas com base no modelo Powerplus. Este modelo era durável, confiável e com poderoso motor, servindo bem a necessidade das tropas.
Apesar das dificuldades do período, continuaram a sair das linhas de produção de Springfield motocicletas que se tornariam ícones do mercado americano. Lançada em outubro de 1919, a INDIAN SCOUT era uma criação do piloto Charles B. Franklin e vinha equipada com o motor Powerplus com cilindradas que variavam entre 600 e 1200 cm³. O modelo de médio porte era confiável e rápido, seduzindo muitos iniciantes do segmento na época. A primeira INDIAN CHIEF chegou ao mercado em 1922, equipada com motor de 1.000 cc, mais tarde ampliado para 1.200 cc no modelo INDIAN BIG CHIEF de 1923. Na época este modelo se tornou o mais vendido da indústria e levou a marca INDIAN MOTORCYCLE para o resto do mundo junto com o restante da linha que também incluía as motocicletas Scout, Chief e Standard. Em 1927 a empresa adquiriu a Ace Motor Corporation, para ter capacidade de produção do motor de quatro cilindros em linha com 1.260 cilindradas. A INDIAN FOUR, que utilizava este motor, foi comercializada entre 1927 e 1942. Somente em 1928 a empresa adotou o nome de Indian Motorcycle Manufacturing Company.
Embora com uma produção bastante reduzida durante quase duas décadas, a INDIAN resistiu ao crash da Bolsa de Valores em 1929 e, em 1934, lançou a SCOUT SPORT, que criou tendência com os pára-lamas alargados e com o logotipo Warbonnet da INDIAN MOTORCYCLE no tanque de combustível. A marca chegou a fornecer motocicletas para as Forças Armadas de diversos países durante a Segunda Guerra Mundial: os modelos SCOUT 500 (um tanto lentas, mas confiáveis), 750 (na verdade, uma SCOUT SPORT com menos potência) e CHIEF 1.200. Havia inclusive o modelo 841, com eixo de transmissão, câmbio acionado por pedal e embreagem de mão, o oposto do usual nas motos da marca. Mas a Harley-Davidson, já com enorme força no mercado, conseguiu contratos de maior volume e lucro por unidade, colocando a sua concorrente em sérias dificuldades financeiras.
Após a Segunda Guerra Mundial a INDIAN MOTORCYCLE acabou sendo vendida. O novo proprietário, Ralph Rogers, decidiu então pelo lançamento de modelos de menor cilindrada: a Arrow, de 250 cc e um cilindro, e a Warrior, de 440 cc e dois cilindros verticais. No entanto, modelos que poderiam salvar a marca da crise, tais como uma INDIAN FOUR de 880 cc e a ideia de uma versão civil da 841, foram cancelados. Apesar do enorme crescimento do mercado americano após a Segunda Guerra Mundial, o modelo CHIEF era considerado antiquado pela nova administração e saiu de produção em 1948. A nova linha de motocicletas utilizava tecnologia da inglesa Brockhouse, com motores com válvulas na cabeça, seletor de caixa no pedal e embreagem no punho. Mas a qualidade de produção estava além das expectativas. Em 1950 as áreas de fabricação e de vendas da INDIAN MOTORCYCLE foram separadas e vendidas ao grupo inglês Associated Motorcycles Ltd. (AMC), que detinha marcas como a Norton e a Royal Enfield. Com isso, a produção da CHIEF foi retomada, sendo o modelo BLACKHAWK CHIEF o mais famoso da marca. A “idosa” CHIEF ganhava assim um garfo telescópico hidráulico e um motor de 1.300 cc, mas permanecia com a já ultrapassada caixa de três velocidades. Em 1953, a CHIEF e o seu V2 davam lugar a uma versão da Royal Enfield de 700 cilindradas, calçada com pneus maiores, guidão largo e o logotipo da marca no tanque de combustível. Embora fosse uma motocicleta eficiente e confiável, os fãs da marca americana aguardavam o lançamento de um novo modelo legítimo, o que não aconteceu. Era o fim. A Indian Motorcycle Manufacturing Company pediu falência ainda este ano, cessou suas operações e descontinuou a produção de todos os modelos.
Nos anos seguintes a INDIAN MOTORCYCLE passou por muitas mãos, como por exemplo, em 1962, quando Joseph Berliner comprou todos os direitos, mas nunca usou o nome da marca; ou ainda em 1970, quando Alan Newman adquiriu a empresa e começou a vender pequenas motocicletas que possuíam a marca INDIAN. A maioria dessas motos foi produzida em Taiwan com motorização entre 50cc e 175cc. Alguns entusiastas foram processados, nos Estados Unidos e no Canadá, pelo uso de uma marca que não lhes pertencia. Até mesmo os aborígines da tribo Umpqua, no estado americano de Oregon, reclamaram direitos sobre o nome. Após muitas discussões sobre os direitos autorais da marca, em 1998, quando parecia definitivamente abandonada, a INDIAN ressurgiu no mercado através da fusão de nove empresas que investiram US$ 30 milhões para formar a Indian Motorcycle Company of America (IMCA), que inaugurou uma unidade de produção em Gilroy, estado da Califórnia. A IMCA produziu os modelos Chief, Scout e Spirit (na prática, uma versão menos potente da Chief e sem os exagerados para-lamas típicos da marca), equipados com motores adquiridos da empresa S&S Cycle. Mas devido à baixa procura pelos modelos da marca, a INDIAN MOTORCYCLE fechou novamente as portas em 2003.
No ano de 2008, uma nova tentativa de reativar a marca: a empresa Stellican Ltd., de capital privado com sede em Londres, comprou os ativos da INDIAN MOTORCYCLE e estabeleceu uma instalação para fabricação das motocicletas em Kings Mountain, no estado da Carolina do Norte. Foram produzidas poucas unidades da INDIAN CHIEF com motores de 1720 cc. Novo fracasso. Finalmente no dia 19 de abril de 2011 a Polaris Industries, produtora de quadriciclos, UTVs (espécie de quadriciclo com habitáculo) e snowmobiles (veículos para a neve), adquiriu todos os direitos sobre a marca INDIAN MOTORCYCLE, com o objetivo de preservar a herança e a importância histórica para o segmento de duas rodas, mas focando no futuro, com o desenvolvimento de produtos modernos e com tecnologia de ponta. Com isso, a marca ganhou novo fôlego e investimentos, tendo a produção transferida para Spirit Lake, em Iowa, mesmo local onde o grupo fabrica as motos com a marca Victory. No mês de março de 2013, durante o Daytona Bike Week, foi exibido o novo motor Thunder Stroke 111 V-Twin. “Honrando Nosso Passado. Pilotando Nosso Futuro” foi o tema do evento. O motor foi revelado em um palco durante a festa, na principal rua de Daytona Beach, e quando saiu, a multidão de pessoas estava emocionada. Finalmente o motor da INDIAN MOTORCYCLE voltava a roncar. Esse retorno tornou possível que os amantes de motocicletas pudessem finalmente realizar o sonho de ter um emblemático modelo da INDIAN MOTORCYCLE.
Em 2014, o Indian Motorcycle Riders Group™ (IMRG) foi lançado durante o Daytona Bike Week, onde foi oferecido uma série de benefícios especiais aos proprietários da marca. Além disso, em conjunto com as concessionárias da marca, também foram formados os I.M.R.G Chapters que colaboram na organização dos eventos locais, como as inaugurações das concessionárias, passeios e eventos de test ride. Com a volta das motocicletas da marca, começaram a ressurgir os elogios. Por exemplo, o renomado site americano Motorcycle.com nomeou a INDIAN CHIEF como “A Moto Cruiser do Ano” nos Estados Unidos. A premiação foi dedicada aos dois modelos, Indian Chief Classic e Indian Chief Vintage. O mercado premium americano se rendeu definitivamente quando no final de julho de 2014 apareceu a renovada INDIAN ROADMASTER, top de linha da marca com detalhes idênticos à versão original, de 1947. Ao mesmo tempo, trata-se de uma moto ultramoderna, com monitoramento de pressão dos pneus, piloto automático e bagageiros acionados por controle remoto. Levando o histórico nome da marca, o modelo atraiu aficionados para uma nova geração de motocicletas estradeiras premium. Equipada com itens importantes para maior conforto e que entregam uma incrível experiência na pilotagem: amplos bagageiros laterais e traseiros, com abertura por controle remoto e avançada tecnologia como o sistema de som de alta qualidade com conectividade Bluetooth.
Já em 2015, a marca apresentou seu novo modelo: INDIAN CHIEF DARK HORSE, que segue as tendências dos projetos clássicos dos modelos da marca, mas com destaque para o predomínio da tonalidade preto fosco, com detalhes cromados apenas em pequenos itens, proporcionando um visual ainda mais agressivo e atual. Além disso, para ganhar ainda mais mercado e acirrar a briga com a Harley-Davidson no segmento custom, a marca apresentou uma nova versão da Scout, batizada de INDIAN SCOUT SIXTY. Esteticamente idêntica ao modelo original, a nova custom da marca americana traz no nome sua novidade: o numeral faz referência à capacidade do motor V2 em polegadas cúbicas – 60 c.i. – ou exatos 999 cc.
A INDIAN MOTORCYCLE foi a responsável ao longo de um século de história por desenvolver soluções inovadoras que vieram a se tornar bastante comum para o segmento de motocicletas, como por exemplo, a suspensão dianteira ajustável, a partida elétrica, a iluminação elétrica, a suspensão traseira tipo “Swinging-arm”, o acelerador rotativo no punho e a transmissão com duas velocidades.
O ícone
Um dos maiores ícones da história da marca e que guiou a INDIAN MOTORCYCLE nas estradas desde o início de sua lendária história. E continuará iluminando o caminho das futuras gerações de motocicletas da marca. Esse é o War Bonnet, a iluminação auxiliar encontrada ao longo da história no para-lama dianteiro das autênticas INDIAN MOTORCYCLE. Seja nas pistas de corridas, nas estradas de terra, nos combates em tempos de guerra ou nas ruas, o War Bonnet sempre esteve presente (sendo marca registrada desde 1947). Aceso reflete a força e o orgulho da marca INDIAN MOTORCYCLE, representando a lembrança que não existe um verdadeiro substituto da herança histórica da marca e nenhuma outra experiência de pilotagem pode ser comparada com a emoção de conduzir uma autêntica INDIAN.
A evolução visual
A identidade visual da marca passou por algumas remodelações ao longo dos anos e foi sendo cada vez mais simplificada.
A marca sempre utilizou um logotipo secundário com o perfil de um chefe indígena. Este logotipo também foi remodelado ao longo dos anos.
Os slogans
Choice is here in American Motorcycles. (2013)
New heart. Same soul. (2012)
Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 1901
● Fundador: George M. Hendee e Oscar Hedstrom
● Sede mundial: Medina, Minnesota, Estados Unidos
● Proprietário da marca: Indian Motorcycle International, LLC
● Capital aberto: Não (subsidiária da Polaris Industries Inc.)
● CEO: Scott Wine
● Faturamento: Não divulgado
● Lucro: Não divulgado
● Presença global: 40 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 2.300
● Segmento: Motocicletas
● Principais produtos: Motocicletas, acessórios e roupas
● Ícones: O modelo Indian Chief®
● Slogan: Choice is here in American Motorcycles.
● Website: www.indianmotorcycle.com/pt-br
A marca no mundo
Atualmente a INDIAN MOTORCYCLE, uma subsidiária integral da Polaris Industries, vende sua linha de motocicletas (composta por aproximadamente 10 modelos) em mais de 40 países ao redor do mundo. Somente nos Estados Unidos a marca possui mais de 250 concessionárias. No Brasil a marca desembarcou oficialmente no ano de 2015. A marca também comercializa roupas e acessórios para seus aficionados.
Você sabia?
● Em 1903, o co-fundador da empresa e engenheiro chefe Oscar Hedstrom pilotou uma de suas motocicletas a um novo recorde mundial de velocidade de 90 km/h. No mesmo ano, ele também venceu uma corrida de resistência saindo de cidade de Nova York até Springfield e retornando.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, BusinessWeek, Isto é Dinheiro e Exame), jornais (Meio Mensagem, Valor Econômico, Folha e Estadão), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 6/8/2016
4 comentários:
Esqueceu-se de falar Burt Munro.
Veja sua importância histórica no comercial da própria Indian Motorcycles:
https://www.youtube.com/watch?v=Ss3FpDy3bD4
Há o filme c/ Anthony Hopkins The World's Fastest Indian (Desafiando os limites), um relato da trajetória de Munro. Muito bom.
Essas montadoras de motos americanas podiam se arriscar montar outros estilos tipo Touring,Naked ou Trail para testar alguma tecnologia ou mecânica e depois empregar nas custom ou apenas para se testar diante das outros montadoras.
Uma lenda viva...
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