No mundo dos pequenos e médios negócios vigora a crença de que é preciso fazer de tudo para fugir da concorrência com grandes empresas. E foi justamente o contrário que a americana NEWTON RUNNING fez ao ingressar na fabricação e venda de tênis de corrida, e literalmente bater de frente com nomes poderosíssimos como Nike, Adidas e Asics. Surpreendentemente, a NEWTON RUNNING vem dando certo, e com seus tênis de cores vibrantes e cheios de tecnologia, desenvolvidos por uma equipe de atletas, está começando a “tirar o sono” de marcas que outrora reinavam absolutas neste segmento lucrativo de mercado.
A história
Tudo começou quando Brian Russell, ao fazer seu habitual treino de corrida, divagou embalado pelos próprios passos, sobre a biomecânica dos pés. Durante boa parte do percurso ele refletiu sobre quais ossos pisavam primeiro, como o tornozelo rotacionava, qual seria a forma mais rápida de correr e como um pé descalço reagia à um solo macio. Com base nessas divagações, cogitou desenvolver um novo tênis que tivesse o sistema de amortecimento no centro e na frente do calçado, e não no calcanhar, como na maioria dos modelos disponíveis no mercado, destinado a quem corre pisando primeiro com a frente do pé. Russell, um inventor profissional, já tinha criado várias geringonças, entre as quais uma turbina eletromagnética movida a vento e um aparelho de ginástica para as pernas. Graças a este último, havia participado de uma feira de corrida, onde conheceu algumas pessoas praticantes do esporte.
Por intermédio da neozelandesa Lorraine Moller, medalha de bronze nas Olimpíadas de Barcelona, ele foi apresentado ao empresário do ramo imobiliário Danny Abshire, que viria a ser seu parceiro na execução do novo tênis. Abshire era um profissional conhecido no meio esportivo, trabalhava fornecendo produtos ortopédicos para aliviar dores causadas por lesões. Quando viu os primeiros esboços do tênis pensado por Russell, reconheceu, ali, uma inovação. O mecanismo de amortecimento consistia em uma membrana aliada a um sistema de câmaras que, no momento da pisada, diminuía o impacto da frente do pé e, a seguir, impulsionava o corredor. Abshire gostou tanto da ideia que convenceu Jerry Lee, proprietário do imóvel onde funcionava seu escritório, a investir US$ 100.000 no novo negócio.
A proposta inicial era desenvolver a tecnologia, patenteá-la e vender a licença aos grandes fabricantes do setor. Com os protótipos e as patentes registradas, durante três anos os sócios tentaram vender a proposta. Algumas empresas, como a Adidas, até ouviram suas explicações, mas acharam que a execução poderia sair cara demais. Havia ainda os obstáculos da falta de escala de um público restrito. Os três empreendedores decidiram então prosseguir sozinhos. Abshire procurou um consultor que já tinha trabalhado com a alemã Adidas e que podia auxiliá-lo a encontrar designers freelancers de calçados. O primeiro tênis, batizado de Bri-tek, era meio esquisito, com o calcanhar e a ponta dos pés exagerados. Mesmo assim, o trio decidiu apostar nele e criou um site para comercializá-lo.
Poucas pessoas apareceram. Na falta de consumidores, o calçado não pôde ser confeccionado em escala. Quem já tinha encomendado o produto recebeu seu dinheiro de volta. Nesse momento, Lee pensou em desistir. A cartada seguinte foi drástica: Lee e Abshire decidiram continuar o negócio - mas não sem antes tirar Russell da sociedade. “Eu meio que fui expulso”, disse Russell, que vendeu as patentes à dupla e firmou um contrato de consultoria de cinco anos com os empreendedores remanescentes do negócio. Outra mudança radical ocorreu no design. O calçado foi completamente redesenhado pelos próprios empreendedores. A essa altura, eles já entendiam muito sobre tênis de corrida. O resultado foi um produto mais leve, bonito e funcional.
Os modelos foram enviados a uma fábrica chinesa que confeccionou os calçados. O nome da marca também mudou. De Bri-tek, passou a se chamar NEWTON RUNNING. A ideia era fazer uma alusão à Terceira Lei do físico inglês Isaac Newton, segundo a qual “para toda ação há uma reação de igual intensidade, mesma direção e sentido contrário“, que estava na base do mecanismo e cuja tecnologia foi batizada de Action/Reaction™ (“ação/reação”, em inglês). O novo nome evocava não apenas movimento, mas também ciência e pesquisa. Muitos detalhes, como embalagens e logotipo da marca, foram pensados com base nesse conceito. Os calçados começaram a ser vendidos em março de 2007, inicialmente pela internet. Com design diferente para homens e mulheres, estavam disponíveis modelos de amortecimento e de controle de movimento, cada um com versão para treino e para competição. Somente nesse ano foram vendidos aproximadamente 30.000 pares da marca, cada um por mais de US$ 150, faixa de preço alta para esse segmento de mercado.
E não demorou muito para que vários atletas profissionais americanos e estrangeiros, como o australiano Craig Alexander, campeão do Ironman Triatlon, aprovassem a qualidade dos tênis da NEWTON RUNNING. Com o passar do tempo, alguns outros atletas, como a australiana Michellie Jones e a suíça Natascha Badmann, aderiram ao revolucionário calçado. Outras novidades da marca foram os tênis para treinamento Sir (masculino) e Lady Isaac (feminino), indicados para um período de transição na alteração da pisada (ao invés de encostar primeiro o calcanhar no chão, passa a tocar no solo primeiro com a parte anterior do pé).
Em 2009 a NEWTON RUNNING voltou a chamar a atenção do mercado. Mas, desta vez pela embalagem: uma caixa extremamente inovadora, feita 100% com material reciclado pós-consumo, que possui um formato que se encaixa diretamente no tênis, fazendo com que o uso de papel de seda seja desnecessário. Os fundadores da empresa garantem que o melhor mesmo é pisar primeiro com a frente dos pés, pois esse hábito evitaria lesões nos joelhos. Eles também gostam de dizer que, embora a maior parte das pessoas corra pisando primeiro com o calcanhar, o percentual de quem pisa primeiro com a frente dos pés cresce bastante quando se observam os atletas mais rápidos. A proposta parece estar convencendo muita gente. A empresa começou a ficar otimista e acelerou os planos de levar os tênis a mais lojas especializadas e até outros países. Pouco depois, em 2012, a marca apresentou o MV2, um tênis completamente plano (“zero pitch”), com apenas 165 gramas e voltado para a velocidade. O MV2 é um tênis que, segundo a empresa, deve durar entre 150 a 250 milhas (ou seja, uma média de 300 km), sendo recomendado para provas com distâncias entre 5 a 21K. Um dos mais recentes lançamentos da marca é o tênis All Weather Gravity V (por incrível que parece todo na cor preta), que além de toda a tecnologia é ideal para correr na chuva, lama, granizo ou neve, mantendo os pés sempre confortáveis.
Com o passar dos anos, e com o avanço em sua tecnologia, a NEWTON RUNNING passou a ganhar muito mais aceitação, especialmente entre atletas. Por exemplo, em 2014, no Ironman, realizado no Havaí, a marca foi a 3ª mais usada pelos triatletas. Já em 2015, a NEWTIN RUNNING foi a 9ª mais utilizada pelos atletas na tradicional Maratona de Boston. Outro fator que contribui com o crescimento da marca são os triatletas e maratonistas profissionais patrocinados por ela. Atualmente a marca classifica seus modelos como POP3 (para iniciantes), POP2 (para quem já teve uma primeira experiência e busca um modelo para treinos mais longos) e POP1 (para os atletas já adaptados à tecnologia e que buscam performance).
Como funciona o revolucionário sistema
O que promete: reduzir o impacto sofrido pelo corpo durante o exercício e melhorar o desempenho do atleta na corrida.
Como funciona: por meio de um sistema mecânico, o tênis altera a pisada: em vez de o atleta encostar primeiro o calcanhar no chão, caso de 80% das pessoas, ele passa a tocar a pista com a parte anterior do pé. Esse tipo de movimento imita a corrida com os pés descalços, de menor impacto.
O que dizem os especialistas: antes de encarar longas distâncias com esse tênis, o mais indicado para o corredor é que tente se adaptar a ele gradativamente – sem isso, o esforço exigido de músculos e ligamentos que não costumam ser acionados pode causar lesões. Com um treino prévio, o calçado de fato diminui o impacto do exercício no corpo. Quanto à melhora no desempenho, ela será insignificante para atletas amadores.
Para entender melhor o sistema e o conceito dos produtos da NEWTON RUNNING, assista ao vídeo tutorial abaixo.
Porque tão colorido?
As cores vibrantes e contrastantes são a primeira coisa que se nota nos calçados de corrida da NEWTON RUNNING. Mas um tênis da marca americana não se escolhe pela cor, mas sim pela função – velocidade, distância, neutro, supinado, treino ou corrida. Cada finalidade tem uma cor apenas. Ao ver um atleta com um tênis NEWTON RUNNING nos pés, é possível saber imediatamente qual a sua pisada e especialidade – supondo que tenha escolhido o modelo correto.
Os slogans
Run Better. (Corra Melhor)
Science in Motion. (Ciência em movimento)
Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 2007
● Fundador: Danny Abshire e Jerry Lee
● Sede mundial: Boulder, Colorado, Estados Unidos
● Proprietário da marca: Newton Running Company, Inc.
● Capital aberto: Não
● CEO: Joe O’Neil
● Presidente: Craig Heisner
● Faturamento: Não divulgado
● Lucro: Não divulgado
● Lojas: 1
● Presença global: 40 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 100
● Segmento: Material esportivo
● Principais produtos: Tênis para corrida e acessórios
● Ícones: As cores vibrantes dos tênis
● Slogan: Run Better.
● Website: www.newtonrunning.com
A marca no mundo
Hoje a NEWTON RUNNING, principal marca de calçados com o conceito Natural Running Form (Forma Natural de Corrida) e que possui uma linha de tênis para treino e outra para competição, já comercializa seus produtos mais de 40 países ao redor do mundo. Por fabricar produtos para um nicho muito restrito de mercado, seus tênis e acessórios (meias, viseiras, bonés, moletons e camisetas) são encontrados em apenas 900 lojas nos Estados Unidos. A marca possui um forte sistema de venda pela internet e uma única loja própria, chamada Newton Running Lab, localizada na cidade de Boulder no estado do Colorado. No Brasil os tênis da marca já chegaram a ser comercializados nas lojas da Track & Field, e agora são vendidos pela Netshoes.
Você sabia?
● A empresa cobra bastante pelo que oferece: o modelo All Weather Gravity V, para uso em treinos, custa ao algo em torno de US$ 175. Aproximadamente 40% mais caro que os principais concorrentes.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Time), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 6/12/2016
4 comentários:
Muito bom tenis , mas infelizmente de difícil acesso
Gostaria muito de adquirir saluahamdan@hotmail.com
Alguém conhece um lugar onde posso adquirir o Newton distance 38,5 com confiança, sem ser na track and field?
daniel@nw3.com.br
Boa tarde. Também tenho usado o tênis Newton, que foi o único se adaptou ao meu tipo de pisada. No entanto, só tenho comprado nos EUA, na Track, os modelos não eram os mais atuais, e agora não trabalham mais com ele.
Gostaria de saber onde posso comprá-los atualmente. Vi um site, Running warehouse mas ainda não o utilizei.
Abraços
Esta marca é uma das minhas preferidas, veja onde encontrar http://bit.ly/2rcFX6o
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