Seus carros ficam estacionados e espalhados por grandes cidades como Washington, Nova York, Boston, Chicago, San Francisco, Toronto e até Londres, e podem ser alugados e utilizados por dia ou até mesmo por poucas horas, usando apenas um código e um cartão. Tudo feito online, sem burocracia e de forma rápida. Com novidades tecnológicas aqui (como destravar um carro apertando um simples botão do iPhone), uma pitada de marketing ali e uma dose enorme de inovação capaz de colocar um setor inteiro de pernas para o ar, a ZIPCAR está roubando a cena no setor de aluguel de automóveis nos Estados Unidos. Afinal, mostrou que criar uma comunidade de pessoas interessadas em compartilhar carros, com reserva pela internet e flexibilidade suficiente para usá-los apenas por algumas horas, pode ser um excelente negócio.
A história
Tudo começou em janeiro de 2000 quando as amigas e empreendedoras, Robin Chase e Antje Danielson, fundaram a empresa americana ZIPCAR em Cambridge, região da cidade de Boston, estado americano de Massachusetts, tendo como objetivo montar uma locadora de automóveis diferente da maioria que estavam estabelecidas no mercado. Elas se inspiraram em um conceito de compartilhamento de carros (“carsharing”, em inglês) que existia na cidade de Berlim depois de uma viagem a Alemanha. Lá, grupos de motoristas conhecidos utilizavam um único carro num dia, em vez de seus próprios automóveis, e este ficava em locais de fácil acesso. Em vez do esquema convencional, os veículos da ZIPCAR ficariam espalhados por diversos pontos da cidade, como em estacionamentos e postos de gasolina parceiros. Os clientes não precisariam enfrentar espera ou atendentes. Teriam apenas de agendar, por telefone ou pela internet, os horários de utilização do automóvel desejado. Depois, era só ir até o carro alugado e abri-lo com um cartão de associado para sair dirigindo.
Também seria possível alugá-lo por períodos mais flexíveis, não apenas por diárias, mas pelo intervalo de 1 hora, por exemplo. Os primeiros carros (modelo VW Beetle) foram colocados nas ruas centrais de Boston em abril de 2000. Depois de seis messes a frota já era de 27 veículos. Em setembro de 2001 o serviço foi disponibilizado para a capital Washington, e no início de 2002 a cidade de Nova York ganhou uma filial. Muita gente aderiu ao novo modelo de locação e, no início de 2003, a empresa tinha cerca de 5.000 clientes e incorporou a sua frota seus primeiros modelos híbridos. Boa parte deles era formada por pessoas entusiasmadas com a proposta das empreendedoras americanas. Alguns arcavam com despesas que nem faziam parte do contrato, como mandar lavar o carro antes de devolvê-lo.
O problema era que o aumento da legião de fãs não se refletia no crescimento econômico da ZIPCAR. Quatro anos depois de começar, a empresa ainda faturava US$ 2 milhões, atuando nas cidades de Boston, Nova York e Washington. Uma porção de pequenos problemas operacionais emperrava o desenvolvimento da empresa. Faltava uma solução, por exemplo, para a confusão logística que acontecia quando algum cliente atrasava para entregar o automóvel, o que não era tão raro. Era preciso pôr em prática uma série de reformulações. A empresa começou pelo caminho aparentemente mais drástico, o afastamento de Robin do comando.
Para o lugar da fundadora foi convidado Scott Griffith, um consultor que tinha sido executivo da Boeing e também passara por outras duas pequenas empresas. A partir de 2003, Griffith assumiu o controle operacional da ZIPCAR. Começava então uma verdadeira revolução na empresa. As mudanças começaram com um recuo tático. Uma pesquisa constatou que alguns potenciais consumidores não usavam o serviço porque nem sempre encontravam automóveis próximos a eles. A ZIPCAR tinha carros espalhados por vários pontos das cidades de Washington, Nova York e Boston, mas a distribuição parecia um tanto quanto arbitrária. Para corrigir esse problema foi realizado um mapeamento por zonas e começou a se investir em uma de cada vez, criando garagens e estacionamentos pequenos nos bairros onde os vizinhos podiam retirar e deixar também os carros contratados. Só depois de conquistar de verdade um bairro, a ZIPCAR partia para outro. Ao mesmo tempo, a empresa também foi sintonizando as características dos automóveis com o gosto dos clientes. Bairros com um público mais jovem, por exemplo, tendiam a ganhar carros mais esportivos como os modelos Mini. Bairros nobres e antigos ganharam automóveis clássicos como Volvo.
O próximo movimento foi mirar os clientes corporativos com o lançamento em 2004 do plano Z2B e inserir, aos poucos, mais veículos híbridos e até elétricos em sua frota. Outra estratégia foi incentivar os administradores de cada cidade a assumir os lucros e prejuízos de suas unidades. Ninguém queria perder dinheiro e começaram a pipocar boas ideias de divulgação. Um escritório de Boston, por exemplo, levou funcionários até o pátio da universidade de Harvard para fazer desafios de matemática envolvendo os carros da locadora. Em sua reestruturação, a ZIPCAR mirou, também, a partir de agosto de 2004, em jovens e universitários com o serviço ZIPCAR U. Foi uma inovação ousada. Como se trata de um público que as estatísticas revelam ser de maior risco, quase nenhuma locadora de automóveis americana que ria alugar carros para menores de 21 anos, e quem tem menos de 25, geralmente tinha que pagar uma tarifa mais alta (são cobradas taxas adicionais de risco). O raciocínio: jovens, nessa idade, não têm dinheiro para ter um bom carro, mas conseguem pagar para tê-los por um dia ou algumas horas eventuais – e impressionar uma garota com um modelo bacana. Para viabilizar a iniciativa, a empresa negociou tarifas menores de seguro para jovens. Foram feitas parcerias com 140 universidades para colocar carros nos estacionamentos dos cursos, por um aluguel mais barato. Hoje, cerca de dois terços dos usuários da ZIPCAR têm menos de 35 anos.
As mudanças colocaram a empresa no caminho do crescimento. Em 2005, a ZIPCAR conseguiu um aporte de US$ 10 milhões. Começou então uma fase de forte expansão inaugurando serviços em outras grandes cidades como San Francisco, Toronto e Londres (2006), Vancouver (2007) e Filadélfia. Em 31 de outubro de 2007, em uma atitude agressiva, a ZIPCAR comprou sua principal concorrente, a Flexcar. Em 2009 a ZIPCAR criou um aplicativo para iPhone que permitia ao cliente realizar diferentes tipos de busca de acordo com suas necessidades, como por exemplo, pesquisar pela locadora mais próxima (com auxilio de mapas), pelo dia e hora da retirada e devolução do carro, pela categoria e modelo do veículo, e até mesmo “destravar” o carro alugado pelo próprio aparelho.
Em 2011, ano em que abriu seu capital na Bolsa de Valores, a ZIPCAR tinha 500 mil clientes cadastrados. No ano seguinte a empresa iniciou uma forte expansão com o início de seus serviços nos três principais aeroportos da cidade de Nova York (Newark, JFK e La Guardia). No início de 2013 a empresa foi adquirida pela Avis Budget Group por US$ 500 milhões. Ainda nesse ano a marca lançou sua primeira campanha na televisão nos Estados Unidos. Além disso, a empresa se expandiu pelo continente europeu inaugurando operações na Espanha e Áustria. Mais recentemente, em 2014, a marca lançou o ZIPCAR ONE>WAY, um novo serviço que permite aos membros alugar carros para viagens curtas entre cidades e até mesmo devolvê-los em aeroportos. O novo serviço utiliza exclusivamente o modelo Honda Fit.
O funcionamento
O processo ocorre da seguinte forma: pela internet o cliente se cadastra e recebe mediante o pagamento de uma taxa anual de US$ 60, o ZIPCARD, um cartão semelhante ao de crédito, com uma identificação via rádio frequência. Depois, quando quiser alugar um carro, o associado (chamado pela empresa de ZIPSTER) basta entrar no site, incluir o endereço onde se encontra, a data, a hora e a duração do aluguel e imediatamente uma lista de carros disponíveis naquela região surgirá na tela. Então, é só dirigir-se ao ponto indicado, localizar o carro (identificado com um adesivo com o logotipo da ZIPCAR), passar o cartão sobre o para-brisa e “clique” – a porta irá se abrir. Lá dentro estarão as chaves. O tanque estará cheio e o seguro incluso. A partir daí, é só dirigir e ainda se quiser pode deixar o veículo em outras zonas da cidade atendidas pela ZIPCAR. Os preços do aluguel variam entre US$ 8.33 (no plano Extra Value) e US$ 9.25 (no plano Occasional Driving) por hora, ou de US$ 75 à US$ 84 a diária em média.
A evolução visual
A identidade visual da marca passou por duas acentuadas modificações ao longo dos anos. A primeira ocorreu em 2003 quando o logotipo ganhou um novo símbolo: a silhueta de um automóvel em substituição ao original Z (que indicava um caminho). Pouco depois, em 2004, uma nova alteração: o símbolo passou a ser uma letra Z estilizada com uma roda.
Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 2000
● Fundador: Robin Chase e Antje Danielson
● Sede mundial: Boston, Massachusetts
● Proprietário da marca: Zipcar, Inc.
● Capital aberto: Não (subsidiária da Avis Budget Group, Inc.)
● Presidente: Kaye Ceille
● Faturamento: US$ 390 milhões (estimado)
● Lucro: Não divulgado
● Frota: 10.000 automóveis
● Associados: 870.000
● Presença global: 6 países
● Presença no Brasil: Não
● Funcionários: 700
● Segmento: Locadoras de veículo
● Principais produtos: Aluguel de carro compartilhado
● Concorrentes diretos: I-GO, Getaround, Hertz on Demand, Enterprise’s WeCar e Car2Go
● Ícones: Seu revolucionário sistema de aluguel de carro
● Slogan: Wheels when you want them.
● Website: www.zipcar.com
A marca no mundo
Atualmente, a ZIPCAR, que faturou estimados US$ 350 milhões por ano, possui filiais espalhadas pelo Reino Unido (atendendo a cidade de Londres, Bristol, Cambridge, Brighton, Edinburgh e Oxford), Canadá (Vancouver e Toronto), Espanha (Barcelona) e Áustria (em várias cidades). Nos Estados Unidos, a empresa está presente em mais de 2.500 locais (alguns com apenas um carro) em mais de 25 grandes cidades, e em 300 universidades e 30 aeroportos, contando com uma frota superior a 10 mil veículos (que abrange mais de 30 marcas e modelos diferentes, como por exemplo, BMW, Volvo, Mini Cooper, Toyota Prius, além de picapes). A empresa possui mais de 870 mil associados cadastrados, metade dos quais estão na faixa entre 18 e 44 anos. A média de aluguel na ZIPCAR costuma durar por apenas duas ou três horas. No ano de 2013 o usuário gastou em média US$ 390.
Você sabia?
● Cerca de 10 milhões de pessoas vivem a dez minutos a pé de algum de seus carros, segundo a empresa, que escolhe os locais com base em dados sobre a densidade populacional, nível educacional e porcentagem de proprietários de carros.
● Segundo dados divulgados pela empresa, 40% dos clientes venderam seus carros ou chegaram a pensar nesta decisão depois que alugaram veículos na ZIPCAR.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Time), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers).
Última atualização em 26/7/2014
2 comentários:
Meu irmão, parabéns pelo post, achei sensacional. Alias, não só achei sensacional, como me deu boas idéias de negócio, já que aqui no brasil "ainda" não existe um conceito semelhante.
Adorei a postagem. Gostaria de saber se a Zipcar é uma operadora logística ou uma prestadora de serviços logísticos?
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