Os céus europeus estão lotados de pequenos pontos nas cores laranja e branco. Não, não são objetos voadores não identificados. São aviões da companhia aérea easyJet, que se transformou em uma das novas febres da aviação no continente europeu porque vende passagem barata, é pontual e eficiente. E ao que parece pretende tornar o velho continente completamente laranja.
A história
O conceito de transporte aéreo de baixo-custo (conhecido em inglês como low cost) não foi introduzido na Europa com a mesma facilidade encontrada nos Estados Unidos. Quebrando as barreiras protecionistas dos governos do velho continente, uma das primeiras empresas a atuar neste segmento na Europa foi a easyJet. Fundada no mês de março de 1995 pelo magnata cipriota baseado no Reino Unido, Stelios Haji-Ioannou (foto abaixo), que investiu US$ 15 milhões no novo negócio, iniciou suas atividades no dia 10 de novembro com dois aviões Boeing 737-200 arrendados, voando a partir da sua primeira, e principal base, o aeroporto de Luton em Londres, para as cidades escocesas de Glasgow e pouco depois Edimburgo. A passagem foi lançada a £29 e o marketing do serviço apoiava-se em um slogan quase irresistível: “Making flying as affordable as a pair of jeans - £29 one way” (algo como “Voe para a Escócia pelo preço de uma calça jeans”).
O modelo de baixo-custo da nova companhia aérea era baseado na americana Southwest Airlines, mundialmente conhecida como a pioneira neste mercado. A nova companhia aérea foi um sucesso imediato com seus poucos voos saindo todos com lotação máxima. Em menos de dois meses a easyJet já havia transportado 30.000 passageiros. Rapidamente a nova companhia aérea acabou criando - finalmente - uma saudável concorrência para empresas tradicionais que por décadas operaram praticamente em monopólio. Nos anos seguintes, a jovem companhia aérea teve um crescimento moderado, mas estável, estabelecendo mais rotas a partir da base de Luton e abrindo novas rotas para cidades no continente europeu. A primeira dessas rotas para fora do Reino Unido, inaugurada no mês de abril de 1996, foi para Amsterdã na Holanda. Ainda nesse ano lançou voos para Nice e Barcelona. Pouco depois, em abril de 1997, a easyJet lançou seu site na internet onde, a partir do ano seguinte, seria possível comprar passagens aéreas. Ainda em 1997, o aeroporto de Liverpool se tornou a segunda base de operação da empresa, oferecendo voos diretos para Amsterdã.
Em março de 1998 a empresa adquiriu 40% da TEA SWITZERLAND, mudando seu nome para easyJet Switzerland anos mais tarde, que passou a oferecer o mesmo conceito de transporte acessível, desta vez para destinos no sul da Europa, a partir de Genebra e Basiléia. Nesta época, a Ryanair, companhia aérea de baixo custo irlandesa, ainda não era a sua principal rival e havia acordos de entendimento, de não competirem nas mesmas rotas. Tudo isto mudou, quando a maior companhia aérea britânica, a poderosa British Airways, criou a Go Fly, uma empresa low-cost que voava a partir do aeroporto de Londres Stansted (a base principal da Ryanair) para destinos populares na Europa. Houve grande oposição por parte da easyJet, que lançou campanhas de boicote à Go Fly. E não foi só isso. Stelios comprou passagens para o voo inaugural da Go Fly e compareceu ao evento acompanhado de alguns de seus executivos. Já dentro do avião da Go Fly, eles começaram a distribuir passagens de graça para voos da easyJet. Era o início de uma “guerra sangrenta”, onde a easyJet utilizava de todas as técnicas de marketing e competição com muita agressividade e ousadia. Em 1999 a companhia aérea rompeu a barreira de 1 milhão de passageiros transportados. No mês de setembro de 2000, a empresa anunciou que 4 milhões de bilhetes aéreos tinham sido comercializado pela internet, representando aproximadamente 85% do volume total. Neste mesmo ano, iniciou as rotas para as cidades italianas de Nápoles e Milão.
Pouco depois, em 2001, o aeroporto de Amsterdã passou a ser sua quarta base na Europa e novas rotas foram adicionadas a sua malha aérea. Em 2002, ocorreu a grande e definitiva cartada: a empresa adquiriu sua rival Go Fly por £374 milhões e transformou-se em uma das maiores empresas aéreas de baixo-custo da Europa. Foi também o ano em que a empresa decidiu expandir-se agressivamente e abrir novas bases com novos destinos em toda a Europa, especificamente na Alemanha, depois viriam França, Itália e Espanha. No ano seguinte, a divulgação da compra de mais de 100 aeronaves modelo A319-100 causou furor no mercado, ajudando a Airbus a tornar-se o maior fabricante de aeronaves comerciais do mundo. Nos anos seguintes a easyJet foi uma das companhias aéreas que registrou maior crescimento em termos de expansão de frota e destinos na Europa, recebendo seu centésimo avião em 2005. Pouco depois, em março de 2006, a companhia aérea se expandiu para novos mercados fora da União Europeia, com o início de voos para Marraquexe, Istambul e Rijeka.
Em outubro de 2007, a easyJet anunciou a compra da companhia aérea GB Airways, adicionando mais rotas e aeronaves a sua rede de transporte. Quando o processo de integração da GB Airways foi concluído em 2009, em apenas seis horas, seus 15 aviões, balcões de aeroportos e instalações foram pintados nas cores e já apresentavam o logotipo da easyJet. No mês de fevereiro de 2010 celebrou a marca de 500 rotas servidas com o lançamento dos serviços entre a cidade de Milão na Itália e Porto em Portugal. Em 2017, respondendo rapidamente ao BREXIT, criou a subsidiária easyJet Europe, baseada em Viena na Áustria para operar como companhia comunitária, e assim evitar eventuais problemas depois da saída do Reino Unido da União Europeia (UE). Ainda este ano, a companhia aérea recebeu sua primeira aeronave Airbus A320 neo (“new engine option”, ou nova opção de motor), um modelo com várias melhorias técnicas, que consome menos 15% de combustível e gera metade do ruído da versão original na descolagem e aterragem, devido a um aperfeiçoamento aerodinâmico das asas e das nacelas (que abraçam os motores e estão ligadas às asas).
Atualmente, a companhia aérea mantém mais de 25 bases em aeroportos por toda a Europa, possuindo como principal concorrente a companhia irlandesa Ryanair. Ambas já competem em muitos destinos e temporariamente lançam agressivas e polêmicas campanhas de publicidade comparativas para cativar passageiros, gerando queixas em tribunais europeus. Nesta “guerra” particular entre as súditas da Rainha, a easyJet, que voa para aeroportos principais das cidades, enquanto a Ryanair opta pelos aeroportos secundários, desfruta de um maior nível de satisfação no Reino Unido por parte dos passageiros, principalmente no que diz respeito ao atendimento de cliente e compensação aos passageiros em casos de cancelamentos de voos.
Um modelo de sucesso
A sede mundial da companhia aérea fica no “EasyLand”, um edifício de cor alaranjada adjacente à pista principal de manobras do Aeroporto de Luton, em Londres. Em uma indústria onde as sedes corporativas são geralmente consideradas seu maior símbolo de status, o edifício é a própria personificação da filosofia de baixo custo da easyJet.
O conceito operacional: mantém sua cultura eliminando os custos desnecessários que caracterizam as linhas aéreas tradicionais. Isto é feito de variadas formas: uso da internet para reduzir custos de distribuição; maximização da utilização dos seus ativos principais; não utilização de bilhetes tradicionais (somente eletrônicos); não utilização de refeições gratuitas; uso eficiente dos aeroportos; e desenvolvimento de atividades administrativas sem uso de papel.
Operação: possui bases de operação em todo o Reino Unido bem como na Europa Continental.
Cultura: favorece a informalidade em sua cultura com a adoção de uma estrutura bastante enxuta de níveis gerenciais, o que elimina custos desnecessários com os mesmos. Todos os empregados de escritórios são estimulados a usar roupas casuais. Ternos e gravatas estão banidos, com exceção para os pilotos. O trabalho remoto tem sido característica da easyJet desde sua fundação.
Toda essa cultura pode ser comprovada na prática: até hoje a easyJet só aceita reservas pela internet e não serve refeições durante os voos. Os passageiros podem comprar lanches rápidos e bebidas a bordo através do easyKiosk, além de cosméticos e pequenos presentes. Além disso, com novíssimos aviões em sua frota, a empresa pode tirar proveito da eficiência no consumo de combustível e baixos custos de manutenção. O serviço espartano é compensado pelo preço convidativo de suas passagens. São oferecidos descontos de até 90% em compras antecipadas. Graças a essa filosofia, a easyJet tornou-se a quinta maior companhia de aviação comercial da Europa, atrás apenas de gigantes como Ryanair, Lufthansa, British Airways e Air France.
A evolução visual
A identidade visual da marca passou por pequenas alterações ao longo dos anos. A principal delas foi a retirada da palavra “com.” do logotipo.
Já a pintura de seus aviões também evoluiu com o passar dos anos. A primeira mudança de visual do icônico branco e laranja da companhia aérea baseou-se na substituição do número do call center pelo logotipo easyJet.com, em 1998, ano em que a companhia aérea passou a vender passagens pela internet. Em 2015 ganhou novo design, quando a easyJet completou 20 anos de atividade. O atual design das aeronaves aboliu a utilização do “.com” e estendeu a cor laranja, da cauda para a fuselagem, para criar mais espaço para o logotipo, que aumentou em 15%.
Os slogans
This is Generation easyJet. (2013)
To Fly, To Save. (2011)
Europe by easyJet. (2011)
Come on, let’s fly! (2000)
The web’s favourite airline. (1995)
Dados corporativos
● Origem: Inglaterra
● Fundação: Março de 1995
● Fundador: Stelios Haji-Ioannou
● Sede mundial: Londres, Inglaterra
● Proprietário da marca: EasyJet plc
● Capital aberto: Sim (2000)
● Chairman: John Barton
● CEO: Johan Lundgren
● Faturamento: £5.04 bilhões (2016/2017)
● Lucro: £408 milhões (2016/2017)
● Valor de mercado: £5.74 bilhões (dezembro/2017)
● Frota: 279 aeronaves
● Destinos: 130
● Passageiros transportados: 80.200.000 (2016/2017)
● Presença global: 30 países
● Presença no Brasil: Não
● Funcionários: 12.000
● Segmento: Aviação
● Principais produtos: Aviação comercial de baixo custo
● Concorrentes diretos: Ryanair, Wizz Air, Norwegian, Vueling, Eurowings, Iberia Express e British Airways
● Ícones: A cor laranja
● Slogan: This is Generation easyJet.
● Website: www.easyjet.com
A marca no mundo
Atualmente a easyJet oferece à seus passageiros mais de 130 destinos diferentes, voando para quase toda a Europa, além de Marrocos, Tunísia e Egito. A novíssima frota operada pela companhia aérea, com média de apenas 4 anos de idade, conta com 279 aviões, exclusivamente baseada em aeronaves Airbus A319 e A320. No ano fiscal de 2016/2017, a easyJet transportou mais de 80 milhões de passageiros através de 862 rotas entre 138 aeroportos europeus e do norte da África. Aproximadamente 95% de suas vendas de passagens são feitas pela internet e a taxa de ocupação de suas aeronaves é de 91.6%. A easyJet emprega 12 mil pessoas, das quais mais de 3.200 são pilotos. A empresa possui mais de 25 hubs principais na Europa, entre os quais: Londres (Gatwick, Luton e Stansted), Edimburgo, Glasgow, Berlim (Schönefeld), Liverpool, Newcastle, Belfast, Dortmund, East Midlands, Paris (Charles de Gaulle e Orly), Milão (Malpensa), Bristol, Madrid (Barajas), Lyon e Manchester.
Você sabia?
● A primeira venda de passagem feita pelo call center da easyJet ocorreu no dia 23 de outubro de 1995.
● A easyJet revelou que 4 de setembro de 2015, foi um dos dias mais movimentados da sua história, com 1.544 voos que transportaram mais de 235.600 passageiros.
● A easyJet é a maior operadora do mundo de aeronaves Airbus A319.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek, Time e Isto é Dinheiro), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers).
Última atualização em 7/12/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário