A grande maioria dos americanos tem dificuldades em pronunciar seu nome. Mas, isso não serviu de empecilho para que a SAMBAZON transformasse o açaí, um pequeno fruto amazônico, em um verdadeiro sucesso entre os americanos. Através de produtos diferenciados a SAMBAZON, uma das empresas que mais crescem nos Estados Unidos no segmento de bebidas e alimentos, fez com que o açaí se transformasse em uma verdadeira febre na Califórnia e passasse a ser “cool” em Nova York.
A história
A história começou quando dois jovens surfistas amadores americanos, Ryan Black e Edmund Nichols, queriam apenas curtir a virada do milênio no Brasil. Durante sua estada no país, eles foram apresentados ao açaí por surfistas da região do balneário de Porto de Galinhas, litoral pernambucano, e ficaram fascinados com aquela maçaroca roxa, gelada e servida em tigelas, que carregava um incrível valor nutritivo, sendo muito popular entre os esportistas. Antes do fim de suas férias os jovens vislumbraram uma grande oportunidade que beneficiaria as comunidades locais e preservaria a Floresta Amazônica e começaram a montar um plano para repartir o açaí com os americanos. Juntamente com o irmão de Ryan (que era jogador de futebol americano), Jeremy Black, eles fundaram em 20 de abril de 2000 na cidade de San Clemente, estado da Califórnia, a empresa SAMBAZON (cujo nome é uma abreviatura de “Saving and Managing the Brazilian Amazon” - algo como “Manejo Sustentável da Amazônia Brasileira”) com a intenção de introduzir o pequeno fruto da palmeira amazônica na América do Norte, sendo pioneira em exportar o produto legalmente e a registrar o açaí no FDA (Food and Drug Administration, respeitada agência que controla o comércio de alimentos e remédios nos Estados Unidos). Em abril de 2001, após algumas visitas ao Pará, principal produtor de açaí no Brasil, Ryan levou um contêiner com 20 toneladas de polpa congelada ao seu país de origem. Seria o primeiro de vários.
Os jovens californianos, que cresceram com os campeões e ídolos mundiais Kelly Slater e Rob Machado, inicialmente fizeram um trabalho de formiguinha. Distribuíam a polpa de açaí na tigela para os amigos experimentarem. Se gostassem, pediam que divulgassem usando camisetas da SAMBAZON, colando adesivos no carro, dizendo que aquela era a melhor coisa do mundo. Enquanto Travis Baumgardner, outro americano que já havia tentado introduzir a fruta nos Estados Unidos e também fundador da empresa, organizava as cooperativas, os certificados e a produção sustentável aqui no Brasil, os outros três distribuíam a pasta do açaí em bares e em academias do sul da Califórnia. Apesar destes esforços, o açaí teve um começo penoso nos Estados Unidos. Pelo aspecto exótico, a cor escura e o sabor que remete a terra, poucas distribuidoras se interessaram em comprar a fruta trazida do Brasil pelos irmãos Black. Mesmo após investimentos de marketing, alguns chefs badalados de Los Angeles foram convencidos a fazerem receitas com o produto, o açaí ficou relegado, por um tempo, à marginalidade nas casas de suco americanas.
Até que, em 2002, a empresa recebeu uma ligação do badalado dermatologista Nicholas Perricone, autor de best-sellers sobre tratamentos contra envelhecimento, que buscava mais informações sobre o açaí para incluir em seu novo livro. No começo de 2003, o livro “A promessa Perricone: três passos para você ficar mais jovem e viver melhor” foi lançado, contendo uma lista de alimentos ricos em antioxidantes, fibras e vitaminas. No topo desses ingredientes estava o açaí. O livro atingiu o primeiro lugar entre os mais vendidos no mercado americano. E o açaí alçou o estrelato, e não apenas entre jovens esportistas. Foi uma grande reviravolta na história da SAMBAZON. Rapidamente, o “sorvete cremoso do Pará” começou a superar a venda de shakes protéicos e a fazer o maior sucesso. Até uma tenda em Sundance, o mais importante festival de cinema independente do mundo, a empresa montou para divulgar o açaí.
Outros fatores importantes para o sucesso inicial da SAMBAZON foram: o açaí ser muito saboroso e dos americanos valorizarem o fato de ser um produto orgânico, certificado, que vinha da Amazônia. Além disso, o produto foi divulgado como emagrecedor e rejuvenescedor, pois o açaí é muito rico em poderosos antioxidantes, gorduras ômega, aminoácidos, fibras, proteínas, vitaminas e minerais. Em poucos meses, os quatro garotos vendiam açaí como nunca. O sucesso inicial levou a criação de outros produtos feitos com a pequena fruta, alguns misturados à outros frutos tropicais. Em 2004, a SAMBAZON já possuía uma linha composta de quatro produtos à base de açaí, incluindo sucos naturais e sucos em garrafas (que duravam até 100 dias nas prateleiras).
A partir daí, o açaí deixou de ser um produto natural para disputar lugar no competitivo segmento de bebidas prontas para o consumo. Nos anos seguintes, a SAMBAZON presenciou cenas que há anos atrás seriam surreais: garotas saradas tomando açaí nas belas praias de San Diego, naturebas de São Francisco pra lá e pra cá com tigelas de açaí nas mãos, ou estudantes de Berkeley se lambuzando com o creme do Pará. E gastou milhões de dólares para estar presente nos principais eventos musicais e esportivos, além de distribuir milhões de amostras grátis para convencer os americanos das propriedades e do delicioso sabor do açaí. Em meados de 2006, com uma demanda muito maior do que a capacidade industrial do Pará, onde trabalha com quatro cooperativas, a SAMBAZON investiu para montar uma indústria de beneficiamento de açaí em Santana, no estado do Amapá, onde emprega 80 brasileiros. É lá que toda fruta é transformada em polpa, até 36 horas após a colheita (período máximo que o açaí suporta antes de apodrecer). De cada fruto recolhido, 95% são descartados, em função do tamanho do caroço. O que sobra é moído, congelado e enviado para os Estados Unidos. Além disso, a SAMBAZON fez questão que toda produção se encaixasse em um padrão que abrange certificado de origem e conservação do solo, biodiversidade e comércio justo. Ou seja, sem agrotóxicos, nada de monocultura e nada de exploração de mão-de-obra.
Entre 2007 e 2008, as vendas aumentaram 70%, de US$ 62 milhões para US$ 106 milhões. O comércio foi impulsionado por estratégias de marketing polêmicas, como por exemplo, quando o site da influente apresentadora de TV Oprah Winfrey publicou artigos nos quais médicos descreviam as “maravilhas” do açaí para o emagrecimento. Nos anos seguintes a marca também lançou várias bebidas com misturas de ingredientes naturais como açaí, acerola, erva mate e guaraná. Em 2011, a empresa inaugurou o primeiro SAMBAZON AÇAÍ CAFÉ, localizado em uma praia próxima a San Diego na Califórnia. O estabelecimento oferece verdadeiras delícias feitas de açaí, além de cafés e chás. Posteriormente, uma segunda unidade seria inaugurada em Newport Beach, também na Califórnia. Mais recentemente a marca adotou a estratégia de abrir cafés temporários em pontos estratégicos para divulgar seus produtos e principalmente os benefícios do açaí para a saúde. Além disso, a empresa iniciou seu processo de internacionalização ao introduzir seus produtos em outros países, como por exemplo, Coréia do Sul, Japão e Canadá. Finalmente em 2013, a SAMBAZON iniciou as vendas, ainda que de forma tímida, do creme de açaí no mercado brasileiro.
A linha do tempo
2006
● Lançamento de uma linha de sucos de açaí em garrafinhas misturado com outros ingredientes saudáveis como romã, acerola, maracujá, morango e guaraná.
● Lançamento de um sorbet de açaí, um tipo de sorvete feito à base de água, mais macio e granuloso que os sorvetes tradicionais.
2007
● Lançamento das cápsulas e do açaí em pó.
2008
● Lançamento do AMAZON ENERGY, um energético à base de açaí, acerola e guaraná, disponível também na versão diet. Outro componente da linha é um energético feito à base de ervas naturais.
2009
● Lançamento do ANTIOXIDANT ELIXIR, uma deliciosa e refrescante mistura de açaí, acerola e ervas da Amazônia.
2015
● Lançamento do SAMBAZON 100, um suco em pequenas garrafas feito de 100% de açaí com exatas 100 calorias.
Os slogans
Energize Your Soul.
From the Amazon to the World.
Get with the purple berry.
Dados corporativos
● Origem: Estados Unidos
● Fundação: 20 de abril de 2000
● Fundador: Jeremy Black, Ryan Black, Ed Nichols e Travis Baumgardner
● Sede mundial: San Clemente, Califórnia, Estados Unidos
● Proprietário da marca: Sambazon Inc.
● Capital aberto: Não
● CEO: Ryan Black
● Faturamento: US$ 200 milhões (estimado)
● Lucro: Não divulgado
● Presença global: 8 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 200
● Segmento: Alimentos e bebidas
● Principais produtos: Sucos, smoothies, polpas, sorvetes e bebida energética de açaí e outras frutas
● Concorrentes diretos: Naked Juice, Ocean Spray, Snapple, Old Orchard e Zola
● Slogan: Energize Your Soul.
● Website: www.sambazon.com
A marca no mundo
Atualmente a empresa, uma das que mais crescem nos Estados Unidos em seu segmento, comercializa nacionalmente inúmeros produtos feitos do açaí, como sucos, smoothies, polpas, sorvetes de açaí e bebidas energéticas, faturando aproximadamente mais de US$ 200 milhões ao ano. Os produtos são vendidos em mais de 20 mil pontos de distribuição, incluindo lojas de alimentos naturais, mercearias convencionais, lojas de sucos e sorvetes, além de máquinas de suco em todo o país. A empresa também comercializa seus produtos no Brasil, Japão, Coréia do Sul, Taiwan, México, Austrália e Canadá.
Você sabia?
● A SAMBAZON compra somente frutos diretamente de agricultores devidamente certificados do Amapá e do Pará, importando anualmente mais de 15.000 toneladas de açaí (estimado).
● SAMBAZON é a quinta maior marca de sucos na categoria premium do mercado americano.
● Açaí é pronunciado em inglês como “Ahhh... I See”.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, BusinessWeek, Época Negócios e Exame), jornais (O Globo), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers).
Última atualização em 27/3/2015
4 comentários:
ótimo post. Muito interessante, além de uma ótima gestão de marcas, esses caras foram bastante empreendedores.
Abraço
Já conhecia essa empresa - vi uma reportagem sobre sua história. A tristeza, nisso tudo, é que o Brasil fornece a matéria prima e os lucros substanciosos ficam no exterior. Os fornecedores de açai são arcáicos e não se interessam mehorar - a Sambazon treinou pessoal, mas esses benefícios não são assimilados pelos "nativos". O chocante é que mudas de açai foram levadas e plantadas na Austrália - lá o pessoal é mais sofisticado e não demora assumirem a produção mundial.
Gostei muito do post. Há um tempo vi uma reportagem recente sobre a empresa no Mundo SA.
Hoje, me deparei com outro exemplo semelhande de produto latino sendo disponivél nos EUA. Trata-se da empresa Guayaki http://guayaki.com/ que vende mate no EUA. Seria isto uma tendencia? Enquanto estamos fechados em nosso mundinho, estão globalizando o Brasil para nós.
Paulo Sergio , como eles conseguiram levar acai para australia ??
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