O verdadeiro espírito francês de viver, da elegância e do bom gosto. Assim pode ser definida a centenária rede de lojas de departamento GALERIES LAFAYETTE, uma verdadeira instituição francesa e principalmente da cidade de Paris. Suas lojas oferecem tudo o que o dinheiro pode comprar em termos de moda e novidades. Hoje, é uma marca de notoriedade mundial, sinônimo de estilo parisiense e de elegância à francesa.
A história
Tudo começou em 1894 quando dois primos da região da Alsácia, Théophile Bader e Alphonse Kahn, decidiram abrir uma modesta loja em um pequeno armarinho de apenas 70 m², localizado na esquina da rue La Fayette com a rue de la Chaussée d’Antin. Devido à localização e à configuração da loja, que vendia fitas, rendas, chapéus e outros pequenos acessórios de moda, cuja circulação se dava ao longo das seções, surgiu o nome “Aux Galeries Lafayette”. Com isso, um novo conceito de compras encorajava os clientes a caminhar ao longo das suas seções. Se a aposta era audaciosa, a localização era ideal: a loja se beneficiou da proximidade da Ópera Garnier e das grandes avenidas da região. A partir da vizinha estação Saint Lazare chegava todos os dias uma multidão de parisienses e pessoas do interior, atraídas pelo comércio. Pouco depois, em 1896, a empresa adquiriu o imóvel inteiro da rue La Fayette número 1, e, a seguir, em 1903, os imóveis do Boulevard Haussmann nos números 38, 40 e 42, bem como o da rue de la Chaussée d’Antin número 15. Os anos iniciais do negócio foram caracterizados pela “estratégia da pedra”, que acabou criando um importante quadrilátero imobiliário, unificado por uma arquitetura adaptada às necessidades do comércio.
Théophile Bader encomendou as primeiras reformas significativas no Boulevard Haussmann, concluídas em 1907, ao arquiteto Georges Chedanne. Porém, foi de fato em 1912, através dos esforços de seu pupilo Ferdinand Chanut, que a loja adquiriu sua nova dimensão. Inaugurada oficialmente no dia 8 de outubro de 1912, a loja principal da GALERIES LAFAYETTE ganhou naquela época a sua imagem mais espetacular. Théophile sonhava com um “empório de luxo”, em que a abundância e a sofisticação das mercadorias atraíssem a atenção dos clientes. Uma luz dourada, difundida pela cúpula, inundaria a grande galeria e faria brilhar as mercadorias. A aposta deu certo. Ferdinand Chanut convocou os principais artistas da École de Nancy para decorar este monumento que marcou a Paris Art Nouveau. O corrimão da escadaria monumental, inspirada na Ópera de Paris, foi projetado por Louis Majorelle, que também assinou os ornamentos em ferro das sacadas. A cúpula, que se erguia a 43 metros de altura, se tornou o símbolo da GALERIES LAFAYETTE. A área de vendas foi duplicada, mas a inovação não parou por aí. Às 96 seções existentes, acrescentaram-se espaços não comerciais como um salão de chá, uma sala de leitura e uma área para fumantes. Devido ao impulso das lojas de departamento, as compras se tornaram uma atividade de lazer. Na cobertura do edifício, o terraço oferecia uma vista panorâmica de Paris. Eventos extraordinários foram organizados, para divertir uma clientela ávida por espetáculos, dentre eles a célebre aterrissagem de Jules Védrines em 1919. O aviador foi obrigado a pagar uma multa por ter sobrevoado Paris a baixa altitude, mas deixou seu nome gravado para a posteridade como o primeiro infrator da história da aviação. Nesta época as vitrines possuíam um importante papel na teatralização da área de vendas: elas despertavam todas as aspirações e todos os desejos, uma vocação que prossegue desde então.
A loja do Boulevard Haussmann se tornou o segundo monumento mais visitado, depois da Torre Eiffel. Tratava-se de uma parada obrigatória para as celebridades mundiais. Por ali passou a Duquesa de Windsor, a esposa do Aga Khan, a Begum, e, em março de 1960, em plena guerra fria, a senhora Khrushchev. Ao se deparar com as escadas rolantes, ela teria exclamado: “Parece o metrô de Moscou!”. Desde sua origem, a GALERIES LAFAYETTE deixou clara a sua vocação: a moda e as novidades. Com a intenção de se diferenciar de seus concorrentes, Théophile tomou a decisão de colocar as roupas mais desejadas da época ao alcance de todos. Foi assim que ele criou ou adquiriu unidades de produção para fabricar com exclusividade roupas comercializadas por sua marca própria. Ele sabia também que a moda, os gostos e os desejos de seus clientes mudavam rapidamente. Para sempre acompanhar o gosto do público, ele colocou em prática um método engenhoso. Ele ia às compras, às corridas de cavalo e à ópera acompanhado de uma estilista, que copiava discretamente os modelos trajados por elegantes senhoras, assinados pelos maiores costureiros da época. Então, esses modelos eram confeccionados com pequenas adaptações nos prazos mais curtos possíveis.
A democratização da moda ganhava espaço e o sucesso não tardou a aparecer. Em pouco tempo, todos corriam para a GALERIES LAFAYETTE, desde as parisienses mais abastadas até as humildes costureiras. Na fachada da rue La Fayette, foi instalada uma imensa faixa, onde se lia: “Galeries Lafayette, a casa que oferece as melhores ofertas de Paris”. A loja diversificava a sua oferta de produtos com frequência: aos mostruários tradicionais, uniram-se a moda masculina, mobiliários, brinquedos e artigos de casa. Fiel à sua missão de tornar a criatividade acessível, a GALERIES LAFAYETTE estendeu às artes aplicadas e ao design o empenho que já dedicava à moda. Em 1922, a loja de departamento inaugurou sua oficina de artes aplicadas, batizada de “La Maîtrise”, confiada ao decorador Maurice Dufrêne, que se tornou seu diretor artístico. A vocação destas oficinas era a produção de “obras” (móveis, tecidos, tapeçaria, papéis pintados, cerâmicas, etc.) “ao alcance tanto dos pequenos quanto dos grandes orçamentos”. Apesar da crise econômica e financeira de 1929, a empresa fez novas ampliações no Boulevard Haussmann. Em 1932, renovada por Pierre Patout, conhecido como o arquiteto dos transatlânticos, a loja principal adotou o estilo Art Déco, com bow-windows (janela semicircular que se projeta para fora das paredes) de autoria de renomado vidraceiro René Lalique.
De 1941 a 1944, a loja passou por um difícil período: a família fundadora foi afastada durante a ocupação, e a empresa foi posta sob a administração do regime de Vichy. Passados os anos sombrios da Segunda Guerra Mundial, teve início a retomada econômica da empresa. Para enfrentar os desafios do pós-guerra, a GALERIES LAFAYETTE adotou um novo visual. A modernização da loja principal teve início com a inauguração das escadas rolantes mais extensas da Europa, no Natal de 1951. Em seguida, os corredores internos foram suprimidos e, entre 1957 e 1959, o imóvel teve o acréscimo de dois andares. A modernização arquitetônica veio acompanhada da ampliação da oferta de produtos, devida, em especial, à criação, em 1952, de uma área de estilo e do cargo de Fashion Director, assim como de contatos com fornecedores estrangeiros e novas operações promocionais. Esta nova diretriz de desenvolvimento levou à organização de grandes exposições estrangeiras. A primeira delas, em maio de 1953, teve como tema “A flor da produção italiana”. Em 1962, a estilista Sonia Rykiel inaugurou um corner dentro da loja, seguida por Christian Lacroix e Jean Paul Gaultier. Em 1969, do outro lado da rue de Mogador, foi inaugurada uma nova loja, cujo foco era os jovens. Este espaço reunia, pela primeira vez, diversas categorias de produtos (como roupas, farmácia, música) adaptadas a um estilo de vida. Logo depois, o LAFAYETTE 2 (atual LAFAYETTE HOMME), foi tomado pela moda masculina, com o acréscimo do LAFAYETTE LE GOURMET (espaço dedicado a gastronomia, onde é possível encontrar itens para o preparo de uma refeição, como legumes, frutas, verduras, até queijos finos, os melhores cortes de carne, pães e criações delicadas de pâtisserie francesa, além de poder consumir produtos, almoçar ou jantar em diversos locais), em 1990. A loja se tornou, desta forma, o primeiro “centro urbano de serviços”, reunindo butiques, serviços, estacionamento e acesso direto ao metrô. Em 1980, a loja criou o “Festival da Moda”. Até 1999, esse prêmio selecionou os melhores modelos criados para a GALERIES LAFAYETTE, que convidava os mais célebres diretores artísticos para expor suas produções. Nos anos seguintes a rede iniciou a abertura de lojas em diversas cidades francesas. Curiosidade: a primeira loja da rede inaugurada
fora de Paris ocorreu em 1916 na cidade de Nice.
Em 2001, a marca ampliou seu alcance com a contratação dos serviços de Jean-Paul Goude para sua estratégia de comunicação. Sua primeira campanha publicitária, “As aventuras de Laetitia Casta no país das Galeries Lafayette”, marcou o início de uma longa e frutífera colaboração. O fotógrafo deu ares a um novo espírito, com campanhas iconoclastas que davam corpo aos valores da marca. Em 2010, aconteceu um fato histórico, quando os brasileiros ultrapassaram os russos como os maiores compradores estrangeiros na GALERIES LAFAYETTE, em Paris. Pouco depois, em 2014, a rede inaugurou a primeira unidade GALERIES LAFAYETTE OUTLET (com produtos que custam de 30% a 60% menos), em Clayes-sous-Bois a 30 minutos do centro de Paris.
A partir da década de 1990 a rede iniciou um processo de internacionalização com a inauguração de unidades em cidades como Berlim (1996), Dubai (2009), Jacarta (2013) e Pequim (2013). Mas nem todos os seus planos de expansão deram certo, por exemplo, em 1920 com a inauguração de uma loja em Londres (fecharia em 1972); ou em 1991 quando inaugurou uma loja em Nova York na Trump Tower, mas teve pouco sucesso e fechou ao fim de três anos; ou a unidade de Casablanca no Marrocos, inaugurada em 2011 e fechada pouco depois. A empresa já anunciou novas unidades internacionais nos próximos anos, localizadas nas cidades de Istambul (Turquia), Doha (Catar) e Milão (Itália). A GALERIES LAFAYETTE é uma empresa familiar há cinco gerações. Elas atravessaram eras, guerras e crises financeiras, o que comprova sua capacidade de inovação.
Curiosidade da loja Galeries Lafayette Haussmann
● Com mais de 120 anos de tradição, a GALERIES LAFAYETTE foi a primeira loja de departamento da Europa e com mais de 65.000 m² em três edifícios, recebe, atualmente, mais de 100.000 visitantes/dia. O complexo é formado por mais duas lojas, além da Lafayette Haussmann (10 andares): Lafayette Homme (4 andares) e Lafayette Maison et Gourmet (5 andares), este último um espaço onde além de produtos para casa e bem-estar, reúne itens ligados à arte da culinária e da degustação. Internamente, são 15.000 m² dedicados à moda, com 3.500 marcas renomadas, como Louis Vuitton, Chanel, Prada, Gucci, Burberry, Lancôme, Dior e Sisley. E, mesmo que venda essas marcas de luxo (dentre tantas outras), a loja ainda faz questão de atender um público diverso com marcas mais acessíveis e menos luxuosas. A todos os clientes oferece serviços sob medida de alta qualidade, que inclui personal shoppers e atendentes que falam português, salões privativos, entrega de compras no hotel e orientação no serviço de reembolso de impostos. A GALERIES LAFAYETTE é o segundo lugar mais visitado de Paris depois do Museu do Louvre.
● Em 1913, a creche para os filhos dos funcionários ficava no último andar da loja, pois se acreditava, na época, que quanto mais alto estivessem, mais o ar era puro.
● Em uma campanha publicitária de 1921 e voltada para o público infantil, cada criança podia escrever seu nome dentro de um balão, que depois foi solto nos céus de Paris. O dono do balão encontrado mais distante da loja ganharia um prêmio. O vencedor foi uma criança cujo balão foi encontrado na cidade espanhola de Barcelona.
● Gabrielle Chanel comprava as formas/moldes de seus chapéus na GALERIES LAFAYETTE. Ainda sobre Chanel, em 1921 o famoso perfume n. 5 era vendido com exclusividade na loja.
● La Suite é o nome de um espaço privativo, com 400 m² e localizado no sexto andar da GALERIES LAFAYETTE. Este local oferece serviços sob medida, onde os clientes são recebidos em total privacidade e contam, entre uma prova e outra, com cabines individuais, mimos diversos e permanente acompanhamento e orientação de estilistas e personal shoppers. Do lado de fora da La Suite, um brinde extra: uma estupenda vista dos telhados parisienses e da Basílica de Sacré-Coeur.
A ligação com as artes
Ao longo de toda a sua história a Galeries Lafayette Haussmann teve uma forte ligação com as artes. Você sabia que há uma ótima galeria de arte dentro da sua icônica loja? Durante toda a sua história a loja, ainda que de forma esporádica, promovia salões de arte e exposições apresentando os artistas da época aos seus clientes e à população parisiense em geral. A loja acolheu eventos de prestígio, apresentando os principais criadores de sua época e revelando ao público os artistas que logo se tornariam referências de seu tempo. Mas foi somente em 2001, com a abertura da Galerie des Galeries, que a loja formalizou o seu papel como influência cultural na cidade de Paris. O espaço permanente, localizado no 1° andar do prédio principal da loja, tem como objetivo a divulgação de artistas contemporâneos já conhecidos e aqueles com futuro promissor. Essa galeria apresenta 4 exposições por ano com temáticas que tentam, na medida do possível mas não imperativamente, ligar os universos da arte, do design e da moda. As obras apresentadas vêm emprestadas de galerias comerciais, de acervos particulares ou dos próprios artistas. Algumas são feitas especialmente para a mostra em questão. Além disso, a empresa dá suporte a instituições que apoiam os artistas da atualidade, como o Centre Pompidou, o Musée d’Art Moderne e a Villa Noailles em Hyères.
A evolução visual
A identidade visual da marca passou por algumas remodelações ao longo dos anos. Em 1900, a marca Aux Galeries Lafayette foi arquivada e a loja adotou um novo logotipo apenas com o nome GALERIES LAFAYETTE. Esse logotipo seria remodelado nas décadas seguintes. Depois de adotar uma nova identidade visual no início dos anos de 1990, com o objetivo de ser tradicional e contemporânea ao mesmo tempo, a marca apresentou em 2015 seu novo logotipo, que ganhou visual mais moderno e ousado para conquistar um público mais jovem.
Os slogans
Le Nouveau Chic. (2015)
La mode vit plus fort aux Galeries Lafayette. (2009)
Ici, la mode vit plus fort. (Aqui, a moda vive mais forte)
Il se passe toujours quelque chose aux Galeries Lafayette.
Dados corporativos
● Origem: França
● Fundação: 1894
● Fundador: Théophile Bader e Alphonse Kahn
● Sede mundial: Paris, França
● Proprietário da marca: Groupe Galeries Lafayette
● Capital aberto: Não
● Chairman: Philippe Houzé
● CEO: Nicolas Houzé
● Faturamento: €3 bilhões (estimado)
● Lucro: Não divulgado
● Lojas: 61
● Presença global: 5 países
● Presença no Brasil: Não
● Funcionários: 10.000
● Segmento: Lojas de departamento
● Principais produtos: Roupas, acessórios, perfumes, móveis e comidas
● Concorrentes diretos: Le Printemps, Le Bon Marché, El Corte Inglés e Harrods
● Ícones: A loja Galeries Lafayette Haussmann
● Slogan: The New Chic. (Le Nouveau Chic)
● Website: www.galerieslafayette.com
A marca no mundo
A rede de lojas de departamento GALERIES LAFAYETTE possui 57 unidades espalhadas pelas principais cidades francesas, além de quatro unidades internacionais, localizadas em Berlim (Alemanha), Dubai (Emirados Árabes Unidos), Jacarta (Indonésia) e Pequim (China). Aproximadamente 700.000 pessoas passam diariamente pelas lojas da GALERIES LAFAYETTE, sendo que 100.000 delas são acolhidas pela emblemática loja da Boulevard Haussmann. Além disso, mensalmente mais de 4.6 milhões de visitantes acessam o site da rede. A rede de lojas de departamento pertence ao grupo Galeries Lafayette, também proprietário da BHV Marais (lojas de departamento), Guérin (rede de joalherias) e Louis Pion (marca de relógios).
Você sabia?
● Em 1951, a cantora Edith Piaf se apresentou na frente da loja, quando foi inaugurada, à época, a maior escada rolante da Europa.
● O estilista Christian Lacroix assinou o cartão de Natal da GALERIES LAFAYETTE em 1998.
● Em 2008, a empresa criou um departamento de patrimônio, cuja missão principal é preservar, conservar e valorizar o patrimônio arquitetônico da marca e seus arquivos históricos, disponíveis para consulta mediante agendamento. Com isso, a empresa revive a história da GALERIES LAFAYETTE, em sua complexidade e singularidade.
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Time), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers).
Última atualização em 24/4/2017
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