22.5.06

AL JAZEERA


Ela é o grande ícone da população árabe. Contestada em boa parte do ocidente. Adorada pelos fanáticos religiosos do oriente. Acusada por Israel de anti-semitismo e pelos Estados Unidos de antiamericanismo. Ela é uma janela do mundo árabe para o planeta e um desafio às perspectivas ocidentais da “guerra ao terror”. Mas o que poderia causar tamanha controvérsia? A rede de televisão AL JAZEERA, talvez o maior fenômeno recente da mídia mundial. 

A história 
A rede de televisão árabe AL JAZEERA, que se posiciona como a “CNN em língua árabe”, foi fundada exatamente no dia 1 de novembro de 1996, no pequeno país árabe do Catar pelo ambicioso emir local, o xeique Hamad bin Khalifa Al-Thani, com investimentos de US$ 150 milhões e que tinha a intenção de transformar seu país em centro cultural da região. Isto aconteceu logo depois que a rede britânica BBC encerrou as atividades de seu canal em versão árabe de conteúdo internacional, fechado devido a uma “pequena discordância” entre os ingleses e os patrocinadores sauditas: a tentativa de censura a um documentário sobre execuções judiciais na Arábia Saudita. A palavra “Al Jazeera” significa, em árabe, A Ilha ou A Península Arábica. Inicialmente chamada AL JAZEERA SATELLITE CHANNEL, transmitia apenas seis horas por dia de programação, recheada de telejornais e notícias jornalísticas. No ano seguinte, já havia passado para 12 horas, e, exatamente no dia 1 de janeiro 1999, chegou às 24 horas sem pausa na transmissão.


A popularidade da emissora foi quase instantânea entre os árabes, que nunca tinham visto reportagens sobre os próprios assuntos com tamanha ousadia de linguagem e conteúdo. Com isso, rapidamente o canal se destacou por alcançar um nível de liberdade de expressão e de oposição raramente visto no mundo árabe, acostumado a uma mídia controlada e dócil, mera porta-voz de comunicados oficiais, posicionando-se como a primeira rede de televisão árabe sem cunhos políticos, ou seja, totalmente independente. A liberdade de expressão incomodou e fez dela a pioneira também a sofrer censura por causa disso. Inovou ao denunciar casos de corrupção e irregularidades políticas na região, além de se opor editorialmente ao que considera ser a “manipulação norte-americana” em cobertura de guerras em locais.


A rede AL JAZEERA se tornou notícia mundial com sua excelente cobertura das operações americanas e britânicas no Iraque em 1998 e com a 2ª Intifada Palestina em outubro de 2000. Essas primeiras coberturas de guerra da emissora desencadearam mudanças nos demais canais árabes, que copiaram o formato. Mas diferenças persistiram, e uma delas era crucial: a AL JAZEERA entrevistava israelenses. Pouco conhecida no ocidente até o fatídico ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 em Nova York, a rede teve sua fama espalhada rapidamente pelo mundo depois de veicular imagens e vídeos do terrorista Osama Bin Laden escondido nas cavernas e da milícia Talibã. As mensagens enviadas pelo terrorista foram retransmitidas para o mundo inteiro e assistidas por milhões de pessoas. A partir deste momento o mundo passou a conhecer a AL JAZEERA. Depois vieram as guerras do Afeganistão (2002) e do Iraque (2003), onde sua cobertura fugiu do patriotismo exagerado que caracterizou as transmissões das grandes redes de TV americanas, além de constantemente divulgar cartas e vídeos, em primeira mão, atribuídos ao terrorista e então líder da organização Al-Qaeda. Em 2003, contratou os primeiros jornalistas de língua inglesa, demonstrando assim sua ambição de se tornar uma rede de televisão global.


Tornou-se o canal preferido dos militantes muçulmanos para divulgar suas ações, mostrando inclusive estrangeiros sequestrados no cativeiro no Iraque ou sendo executados, neste último caso não levando ao ar as cenas mais fortes. Contribuiu ainda para chocar a opinião pública ocidental com o uso de imagens que exploravam a emoção do telespectador ao exibir o drama dos alvos civis muçulmanos – algo que não era visto nos canais americanos e europeus. Mas talvez seu maior crime tenha sido o fato de que, pela primeira vez na história da mídia eletrônica, uma rede de televisão fora do alcance dos governos ocidentais noticiava ao vivo diretamente das zonas de combate. Isso tornou a AL JAZEERA objeto de perseguições generalizadas. Durante a guerra do Iraque, por exemplo, o governo americano não gostou de ver imagens de seus soldados capturados, mortos ou feridos e, em represália, proibiu seus membros mais graduados de falarem à emissora. Esta foi a reação mais visível. Clandestinamente, tentou destruir as instalações da emissora e mandou hackers invadirem sua página oficial na internet. Nos primeiros dias da invasão do Iraque, duas sedes provisórias da AL JAZEERA naquele país foram atingidas pela artilharia da coalizão, matando quatro jornalistas, entre eles o correspondente e produtor Tareq Ayyoub.


Desde 2000, a AL JAZEERA vem ampliando sua rede e produtos com o lançamento de canais locais e em diversos idiomas, sites de notícias, uma estação de rádio, uma revista digital mensal, além de canais que abordam temas específicos de entretenimento, como por exemplo, esportes (já vendido), documentários e até infantil. Além disso, a emissora passou a adotar uma posição mais de centro, ouvindo as duas partes envolvidas em um conflito ou documentário. Por tudo isso, a AL JAZEERA conquistou inúmeros prêmios internacionais. Nos últimos anos, a emissora teve um papel fundamental nas transmissões de uma série de conflitos políticos que se desencadearem em países árabes, do norte da África e do Oriente Médio. Não há dúvidas que a rede de televisão AL JAZEERA se tornou um dos grandes sucessos na história da mídia e uma marca muito forte não somente entre o povo árabe, chegando a incomodar os poderosos do ocidente.


A linha do tempo 
2001 
Lançamento de sua página na internet, em árabe. 
2003 
Lançamento de sua página da internet na língua inglesa. 
Lançamento em outubro do AL JAZEERA MOBILE, serviço de notícias via celular. 
Lançamento do seu canal de esporte chamado AL JAZEERA SPORTS. O novo canal foi ao ar pela primeira vez no dia 1 de novembro. Rapidamente se tornou o maior canal esportivo do oriente médio, principalmente em razão da transmissão dos campeonatos europeus de futebol. Em 2014, após ser vendido, o canal adotou o nome de beIN SPORTS. 
2005 
Lançamento em outubro do AL JAZEERA CHILDREN CHANNEL (JCC), um canal de televisão voltado exclusivamente para as crianças. Com uma programação a princípio apenas em árabe, a emissora infantil era uma iniciativa conjunta do governo do Catar e da multinacional francesa Lagardère Images. O público-alvo era crianças entre 3 anos e 15 anos. Atualmente conhecido como JeemTV, nome que adotou em 2013, tem 235 funcionários e escritórios no Cairo (Egito), em Beirute (Líbano), Amã (Jordânia), Rabat (Marrocos) e Paris. Seu sinal é aberto e transmitido para mais de 25 países árabes e a Europa. 
Lançamento do AL JAZEERA MUBASHER (atualmente conhecido como AL JAZEERA LIVE GENERAL), um canal que transmite eventos ao vivo, sem edições ou comentários. 
2006 
Lançamento mundial no dia 15 de novembro do seu canal de notícias em inglês, com objetivo de enfocar os acontecimentos do Oriente Médio sob uma visão árabe a um público acostumado a versões ditadas pelos interesses políticos de Washington e Londres. Inicialmente anunciado com o nome AL JAZEERA INTERNATIONAL, teve seu nome alterado para AL JAZEERA ENGLISH. Seus centros de transmissão estão localizados em Doha, Kuala Lumpur (Malásia), Londres e Washington. O slogan do canal é “Setting The News Agenda”
2007 
Lançamento em 1 de janeiro de seu canal especializado em documentários (especialmente história, política, tecnologia e ciências) conhecido como AL JAZEERA DOCUMENTARY CHANNEL
2011 
Lançamento em 11 de novembro do AL JAZEERA BALKANS, um canal local para os países dos Balcãs como Bósnia, Croácia e Sérvia. 
2013 
Lançamento no dia 20 de agosto do AL JAZEERA AMERICA, um canal específico para o mercado americano. A qualidade da cobertura da rede foi reconhecida de forma unânime e o canal ganhou vários prêmios de jornalismo, mas não consolidou uma audiência, razão pela qual nunca pôde alcançar seus objetivos em termos de receitas publicitárias. Em virtude disso, o canal cessou suas operações em abril de 2016. Para seguir presente no mercado americano, a rede reforçou sua presença online e nos dispositivos móveis. 
2014 
Lançamento do AL JAZEERA TÜRK, um canal local para a Turquia.


A identidade visual 
O logotipo da marca, cujo símbolo (uma gota de água estilizada) é uma representação decorativa do nome da rede escrita em caligrafia árabe, pode ser aplicado de duas maneiras: na vertical e na horizontal.


Os slogans 
The Opinion and the Other Opinion. 
Hear The Human Story. (2014) 
Setting The News Agenda. (2006) 
Every Story, Every Side. 
Every side every angle. 
Fearless Journalism. 
All The News All The Time. 
The right not to remain silent.


Dados corporativos 
● Origem: Catar 
● Fundação: 1 de novembro de 1996 
● Fundador: Xeique Hamad bin Khalifa Al-Thani 
● Sede mundial: Doha, Catar 
● Proprietário da marca: Al Jazeera Media Network 
● Capital aberto: Não 
● Chairman: Xeique Hamad bin Thamer Al-Thani 
● Diretor geral: Mostefa Souag 
● Faturamento: Não divulgado 
● Lucro: Não divulgado 
● Audiência: 270 milhões de lares 
● Presença global: 140 países 
● Presença no Brasil: Sim 
● Funcionários: 4.500 
● Segmento: Mídia 
● Principais produtos: Canais de televisão, revistas e sites de notícias 
● Concorrentes diretos: Al Arabiya, CNN, BBC, FOX News, Bloomberg, CNBC e C-SPAN 
● Slogan: The Opinion and the Other Opinion. 
● Website: www.aljazeera.com 

A marca no mundo 
A rede de televisão árabe, com sede na cidade de Doha, possui alcance de 270 milhões de lares em 140 países e acabou se tornando uma das mais fortes grifes do mundo árabe. Hoje, a emissora emprega aproximadamente 4.500 pessoas (de 70 nacionalidades diferentes), entre as quais mais de 1.000 jornalistas e correspondentes internacionais, alocados em aproximadamente 80 escritórios espalhados pelo mundo. A audiência da emissora, que hoje possui mais de 10 canais de TV e sites de internet, está em constante crescimento e é prioritariamente de telespectadores localizados no chamado mundo árabe, mas também nas populações de imigrantes da Europa, principalmente na Alemanha e na França. Atualmente sua programação inclui talk shows que discutem religião, documentários sobre as mazelas dos governos vizinhos, cenas do cotidiano de guerra. Tudo isso provoca a ira de governantes, autoridades e oposicionistas. Seu slogan “uma opinião, outra opinião” parece irritar todos os lados da notícia. 

Você sabia? 
Em recentes pesquisas feitas pela consultoria britânica Interbrand, a marca AL JAZEERA é apontada como uma das mais influentes do mundo. 
Foi pelas telas da AL JAZEERA que, pela primeira vez na história, um judeu israelense falou hebraico em uma TV árabe. 
A AL JAZEERA não atrai o ódio somente do Ocidente. O regime islâmico radical da Arábia Saudita somente a tolera porque sabe que tomar medidas mais drásticas contra a emissora só fará aumentar a impopularidade da monarquia. 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Newsweek, BusinessWeek e Super Interessante), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers). 

Última atualização em 6/5/2016

Um comentário:

logomarcas disse...

Marca forte de verdade