Transgressora. Ousada. Polêmica. Irreverente. E acima de tudo, autêntica. Assim pode ser definida a marca e a moda da inglesa VIVIENNE WESTWOOD, a mais pura expressão da personalidade única de sua criadora. Roupas com motivos políticos, críticas sociais, temas eróticos, com abundância das cores preta e vermelha, couro, correntes e rasgos. Ao oferecer essa moda provocadora e despojada, mas com um toque de sofisticação, a marca se tornou uma das queridinhas do mundo da moda, também por seu caráter ativista.
A história
Nascida em 1941 em uma cidade rural de 1.500 habitantes na região de Derbyshire, a estilista inglesa Vivienne Isabel Swire (imagem abaixo) se mudou para Londres ainda jovem, aos 17 anos. Começou um curso na Harrow School of Art e, por acreditar que não tinha talento suficiente para as artes, largou a faculdade e virou professora de uma escola primária. Casou com seu primeiro marido, Derek Westwood, que lhe deu o sobrenome e o nome artístico mundialmente conhecido e adotado até os dias de hoje. Porém, foi somente após o divórcio e na segunda união, com o produtor e agente da banda Sex Pistols, Malcolm McLaren, que ela animou o mundo underground e se consagrou como a grande precursora do punk na moda. Isto porque, juntamente McLaren, ela inaugurou em 1971 sua primeira loja, a “Let it Rock” em King’s Road, na periferia de Londres e onde decolavam as novidades extravagantes da moda da época. A loja, que mudaria de nome várias vezes - (“Too Fast to Live, Too young to Die” e “Sex” seriam alguns) -, ainda está presente no número 430, com o nome de Worlds End.
A loja inicialmente vendia os antigos LPs de música, objetos vintage e peças de vestuário que ambos criavam em conjunto, pois, não eram adeptos do dominante estilo hippie à época. Entre as peças camisetas com imagens e slogans provocativos como forma de rebelar-se contra a estrutura social de classes britânica, o que os levou a responder a vários processos judiciais sob a legislação “anti obscenidade” britânica. A partir das criações fetichistas, repletas de peças em vinil, calças jeans rasgadas, couro, correntes, zíperes, alfinetes e botas militares, Vivienne e McLaren criaram os códigos de vestimenta do “punk rock” e os inscreveram no imaginário coletivo. A irreverente e revolucionária estilista começou a realizar seu sonho, criando com liberdade essas peças que eram dominadas pelo preto, vermelho e tartar (uma de suas marcas registradas até hoje). McLaren passou a vestir a banda Sex Pistols com as criações de Vivienne, aos poucos as tornando conhecidas.
Na década de 1980, o estilo subversivo e rebelde do punk rock se popularizou, virou mainstream e deixou de representar o anti-establishment e o inconformismo da década de setenta, para se tornar parte da cultura pop. Foi nesse momento que Vivienne, sempre uma iconoclasta, já prestes a se separar de Malcolm Mclaren, e desiludida com os rumos que tomou o movimento, abandonou o estilo que a consagrou. Por possuir muitas referências adquiridas durante os breves anos em que estudou arte, a estilista passou a lançar coleções que se tornaram sucesso na Inglaterra e na França, como a Pirates (1981), que apresentava looks com cortes inspirados nos século XVII e XVIII; algo mais romântico com um olhar histórico. No ano seguinte desfilou pela primeira vez em Paris, que desde Mary Quant não apresentava estilistas ingleses nas passarelas. Pouco depois, marcando a crescente reputação internacional de Westwood, sua coleção Hypnos (primavera/verão de 1984), feita de tecidos esportivos sintéticos, se tornou um sucesso. Foi ainda em 1984 que a estilista foi convidada a mostrar sua coleção em Tóquio, abrindo assim a porta para um importante mercado consumidor.
Depois, em 1985, lançou a coleção Mini-Crini, que marcou o que Westwood descreveu como uma “mudança fundamental” em direção à alfaiataria e um foco mais deliberado em reelaborar ideias inspiradas em roupas históricas. Repleta de referências à indumentária inglesa, essa coleção apresentou as saias com crinolina (armações usadas sob saias para lhes conferir volume) usadas no século 19 pelas mulheres e os casacos vestidos pela Rainha Elizabeth II quando criança. Tudo revisitado ao estilo Vivienne, é claro. Em 1987 a estilista criou sua primeira coleção para o público masculino mostrando muito erotismo, como não poderia deixar de ser. No ano seguinte, com o lançamento da coleção Time Machine, repleta de elementos históricos da pintura e artes decorativas do século XVIII, inaugurou seu ingresso no mundo da alta moda, sendo aclamada novamente pelo establishment contra o qual tanto lutou.
Embora muitas vezes fosse considerada “não comercial”, Westwood permaneceu impassível, impulsionada pela aclamação da indústria da moda, incluindo o prêmio de Designer de Moda Feminina do Ano entregue pelo British Fashion Council em 1990 e 1991. Suas ideias muitas vezes atingiram o público muito rapidamente, e ela começou a ganhar uma quantia significativa de dinheiro com suas lojas em Londres e também vendas internacionais. Em 1993 dividiu sua marca de roupas femininas em duas linhas diferentes: Gold Label (alta-costura) e Red Label (Prêt-à-Porter). Nos anos seguintes continuou causando polêmica, como por exemplo, em 1994, em que os bumbuns das modelos ficavam expostos na passarela. O estilo escocês virou um padrão em suas coleções, normalmente ironizado, como em 1997 quando criou baseado neles, roupas femininas sensuais e provocativas. Em 1998 a marca lançou no mercado sua primeira fragrância feminina (batizada de Boudoir). Nesse mesmo ano lançou uma nova linha chamada Anglomania (voltada para atender a uma demanda mais jovem e casual). Pouco depois, Vivienne começou a projetar uma linha completa de óculos. A segunda fragrância “Libertine” foi lançada em 2001.
A partir do início do novo milênio, VIVIENNE WESTWOOD cada vez mais se tornou uma marca de moda extremamente desejada, com pontos de venda (incluindo corners nas mais sofisticadas lojas de departamento) em todo o mundo e passou a oferecer uma série de linhas (Femme, Homme, Anglomania), bem como malharias, acessórios, jóias, perfumes e até objetos de decoração, além de inaugurar sua primeira loja em Moscou. O ano de 2002 foi marcado pela inauguração de lojas próprias em Hong Kong e Coréia do Sul, ampliando assim sua presença na Ásia. Na última década a marca ampliou sua presença no varejo com a inauguração de lojas próprias, como por exemplo, em 2011 quando estreou em Los Angeles ou em 2016 quando abriu uma sofisticada loja em plena Rue Saint-Honoré na cidade de Paris. Embora Vivienne Westwood já possuísse uma concessão na principal loja de departamentos da cidade, a Galeries Lafayette, essa foi a primeira incursão independente na cidade da moda para a renomada estilista e a terceira cidade continental europeia a ter uma loja da grife depois de Milão e Viena.
Além disso, em março de 2016 a estilista entregou as rédeas de sua linha Gold Label para o marido Andreas Kronthaler, que trabalhou ao lado dela por muitos anos. Eles continuam a projetar as linhas principais juntos, embora a Gold Label agora seja oficialmente chamada de Andreas Kronthaler for Vivienne Westwood. Nos últimos anos a estilista vem desenvolvendo coleções co-lab com outras marcas, como por exemplo, tênis com a Vans e a Asics; sandálias e calçados com a brasileira Melissa; mochilas com a Eastpak; e roupas com a luxuosa Burberry, em uma coleção que celebrava o estilo e herança britânica de uma maneira única.
Em pleno século 21, a estilista e sua marca continuam fiel ao tipo de moda que criou: exagerada, sem ajustes tradicionais, surpreendente e anárquica, combinando técnicas e materiais tradicionais com a modernidade e uma franca ironia. Iconoclasta, a marca de Vivienne Westwood tem por essência um estilo contestador, fazendo eco aos discursos da estilista. Seu grande mérito, aliás, é justamente esse equilíbrio entre o melhor da moda britânica - alfaiataria, padronagens clássicas e itens históricos, como o corset - e a sua rebeldia panfletária, vista, por exemplo, nas camisetas da linha Vivienne Westwood Anglomania. Atualmente, VIVIENNE WESTWOOD é mais do que apenas uma marca, é um símbolo de liberdade, identidade e exclusividade na moda.
Poucos nomes no universo da moda alcançaram o mesmo patamar que a estilista Vivienne Westwood. Também pudera. Desde os anos de 1970, ela é responsável por lançar e propagar algumas das principais tendências do mundo, incluindo verdadeiros movimentos culturais, como o punk e a moda engajada dos anos 2000. E ao longo desses anos, o seu lado punk foi transformado em um discurso ativista, pregando o consumo consciente e engajamento político. E é essa brincadeira despretensiosa de viajar entre passado e presente que torna a marca VIVIENNE WESTWOOD eterna. Hoje, seu terceiro marido, o estilista austríaco Andreas Kronthaler, está à frente da criação, mas a estilista não abandona a faceta de porta-voz de questões atuais. Das mudanças climáticas ao posicionamento sócio-político, “é preciso desconfiar do governo”, prega ela.
E, como o ativismo jamais a abandona, a designer utiliza sua marca e passarela para levar fortes mensagens em favor dos direitos humanos, da ecologia, e outros temas relevantes da contemporaneidade, traço peculiar de sua carreira como pioneira do fashion activism. As coleções recentes passam por temas que vão da liberdade de Julian Assange (fundador do WikiLeaks), às políticas de combate ao terrorismo (a camiseta com a frase “I am not a terrorist, please don’t arrest me”, em protesto a aprovação do governo britânico à lei antiterrorismo, ficou famosa), passando pelas mudanças climáticas que o planeta vem enfrentando (chegou a entrar com maquiagem de guerra e segurando um cartaz “Climate Revolution” no final do seu desfile) e pelo fim do uso das peles animais na moda. Tanto que no final de seus desfiles, as sacolas de brindes oferecem abaixo-assinados e formulários para doações a entidades como a PETA (abreviação de People for the Ethical Treatment of Animals). Tudo isso, claro, sem perder de vista a sofisticação e a ousadia das cobiçadas bolsas e dos saltos altíssimos, que já fizeram até a top model Naomi Campbell cair na passarela em uma cena histórica.
O tema da ecologia e a ameaça das mudanças climáticas são grande motivação atual de Vivienne, cuja marca há muitos anos luta contra o fast fashion e já incorporou diversos princípios de sustentabilidade em sua cadeia de produção: técnicas de cortes sem criar resíduos (zero waste), upcycling e fontes de energia renovável e materiais orgânicos. Além de banir o uso de pele e couros exóticos, eliminou o plástico das embalagens e proibiu o poliéster, derivado do petróleo.
A identidade visual da marca passou por uma pequena remodelação ao longo de sua história. Um dos elementos da identidade visual da marca que permaneceu praticamente estável ao longo dos anos é o icônico “Orb”, que surgiu em 1984, quando Vivienne se firmou como designer e ícone por conta própria. Esse incrível elemento de branding visual foi inspirado na iconografia real da Grã-Bretanha e pretendia representar a importância do passado, enquanto os anéis de Saturno significam o futuro.
● Origem: Reino Unido/Inglaterra
● Fundação: 1971
● Fundador: Vivienne Westwood e Malcolm McLaren
● Sede mundial: Londres, Inglaterra
● Proprietário da marca: Vivienne Westwood Srl
● Capital aberto: Não
● CEO: Carlo D’Amario
● Faturamento: £46 milhões (2019)
● Lucro: £2.7 milhões (2019)
● Lojas: 40
● Presença global: 80 países
● Presença no Brasil: Sim
● Funcionários: 450
● Segmento: Moda de Luxo
● Principais produtos: Roupas, calçados, perfumes e acessórios
● Concorrentes diretos: Alexander McQueen, Stella McCartney, Martin Margiela, Roberto Cavalli, Moschino, Fendi e Dolce & Gabbana
● Ícones: O ativismo na moda
● Website: www.viviennewestwood.com
A marca no mundo
A VIVIENNE WESTWOOD, uma das poucas grandes marcas de moda ainda independente, comercializa seus produtos (roupas, acessórios, joias e perfumes) em mais de 80 países ao redor do mundo. A marca, que vende sua moda através de uma exclusiva rede de 40 lojas próprias em cidades como Los Angeles, Nova York, Milão, Xangai, Paris e Londres, faturou £46 milhões em 2019. VIVIENNE WESTWOOD também comercializa seus produtos em mais de 700 pontos de venda dentro das mais sofisticadas lojas de departamento e multimarcas do mundo.
Você sabia?
● Em 1992 foi concedida a Vivienne Westwood a alta honraria da Ordem do Império Britânico. Como não poderia deixar de ser, Lady Vivienne apresentou-se na cerimônia real do Palácio de Buckingham com um vestido justo e sem roupas íntimas, o que foi desaprovado pela rainha. Vivienne receberia a honraria pela segunda vez em 2006.
● Em 2013 a estilista assinou e criou os uniformes dos comissários de bordo da companhia aérea Virgin Atlantic.
● A estilista é amiga íntima de Pamela Anderson, Kate Moss, do Príncipe Charles além, é claro, de Naomi Campbell.
● Um dos filhos de Vivienne Westwood, Joseph Corré, é o fundador da luxuosa marca de lingerie Agent Provocateur (conheça essa história aqui).
As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Elle, Vogue, BusinessWeek, Glamour e Exame), jornais (Diário da Indústria e Comércio), sites de moda (Farfetch), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas).
Última atualização em 16/12/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário