9.3.22

SUPREME


Imagine uma marca de streetwear que se tornou desejada por flertar com o luxo, algumas vezes exagerado. Assim é a nova-iorquina SUPREME. E o sucesso começou com parcerias firmadas justamente com grandes estilistas, atletas, músicos, designers e renomadas marcas do mundo da moda. A partir de então a SUPREME se estabeleceu como uma marca conhecida pela qualidade, estilo e autenticidade de suas coleções de acessórios e roupas, virando símbolo de uma subcultura, causando alvoroço por suas coleções limitadas e se tornando ícone de ostentação entre famosos e endinheirados ao redor do mundo. 

A história 
O nome por trás do império chamado SUPREME é James Jebbia (imagem abaixo), uma americano de origem britânica por parte de mãe. Criado na cidade inglesa de Crawley, Jebbia voltou aos Estados Unidos em 1983, quando tinha 19 anos. O seu primeiro trabalho em solo americano foi na loja de roupas Parachute, localizada no badalado bairro do SoHo. E o primeiro empreendimento de moda foi com a criação da butique Union NYC, em 1989, que vendia labels mais experimentais e esportivas inglesas. Após passar três anos colaborando com o veterano do streetwear Shawn Stüssy, no mês de abril de 1994 ele resolveu investir US$ 12 mil para inaugurar uma pequena loja para skatistas na Lafayette Street, um então quarteirão decadente com imóveis vazios, escondido atrás da parte comercial da Broadway, em Lower Manhattan. O nome da nova loja, SUPREME, foi escolhido em homenagem à música “A Love Supreme” (“Um amor supremo”, em tradução livre) de John Coltrane. Jebbia enxergou um nicho bem específico no mercado de skatewear, que parecia até então ter como público alvo apenas uma turma de garotos de 13 anos. Resolveu então criar uma marca com peças de visual mais cool e amadurecido, sem deixar de lado a essência daquele gênero.
    

O espaço em si era diferente de qualquer outra loja de skate da época. Bem iluminado, com paredes brancas e teto alto, remetia a um ambiente de galeria, com as prateleiras de produtos (como sneakers, camisetas, moletons e acessórios de skateboard) impecavelmente expostos lembrando uma butique de moda de luxo. Além disso, o design do ambiente, com piso de madeira e amplos espaços no centro, foi pensado para que os skatistas pudessem entrar direto com seus skates na loja e circular sem preocupação com suas mochilas. Já a vitrine exibia os vídeos mais recentes de skate ao lado de imagens clássicas de antigas lutas de boxe e filmes de gângsters de Nova York. Até a equipe para administrar o local foi escolhida a dedo: o skatista Gio Estevez foi o primeiro funcionário contratado pela loja. Já a primeira parceria da SUPREME foi com o artista Rammellzee que grafitou a parte interna da loja. Além disso, a marca também investiu para montar uma equipe patrocinada de skatistas, entre os quais Gio Estevez, Ryan Hickey, Justin Pierce, Peter Bici, Mike Hernandez, e os irmãos Jones e Chris Keefe, e Loki e Paul Leung.
  

A SUPREME nasceu com o intuito de atuar no cenário da moda “skate/streetwear” e ganhou destaque pelas suas vendas em formato de “Drops” de peças exclusivas, autênticas e extremamente limitadas. Como por exemplo, suas icônicas camisetas estampadas, cuja primeira trazia o personagem Travis Bickle, interpretado por de Robert De Niro no filme Taxi Driver. Frequentado por skatistas e mentes criativas anti-establishment, o espaço rapidamente se tornou também clube underground e galeria de arte, tornando-a símbolo de uma subcultura. A SUPREME lançou seu primeiro vídeo promocional em 1995, intitulado “A Love Supreme”. Molentons com capuz e camisetas que estampavam o logotipo vermelho retangular da marca rapidamente se tornaram uma espécie de uniforme entre os skatistas de Nova York.
  

Em 1998, através de um acordo de licenciamento, a marca inaugurou suas três primeiras lojas no Japão. Aos poucos, a SUPREME começou a ganhar destaque no mainstream da moda, se tornando desejada por uma juventude cheia de estilo. E muito disso se deve as colaborações com artistas, fotógrafos, estilistas, músicos, atletas, designers e grandes marcas. Se hoje as colaborações são muito mais constantes entre marcas de moda, a SUPREME foi uma das pioneiras neste tipo de parceria (em inglês chamado “Collab”). Então surgiram os sneakers em colaboração com a Nike (2002), jaquetas com The North Face (conheça essa outra história aqui) e os hoodies com a Comme des Garçons (saiba mais aqui). Além das parcerias, a SUPREME também sempre usou a imagem de celebridades para transformarem suas camisetas. Não há nada de básico: a lista de quem topou participar vai de grandes nomes da música a desenhos infantis: Lou Reed, Kate Moss, Neil Young, Morrissey, Raekwon, Mike Tyson, Lady Gaga e Kermit, o sapo dos Muppets. Outra estratégia adotada pela SUPREME: manter a oferta baixa era uma maneira efetiva de criar demanda e desejo. E assim a marca foi sendo construída.
   

Nos anos seguintes a marca conquistou fãs em todo Estados Unidos e, em 2004, decidiu que era hora de se expandir fisicamente. Com isso, dez anos após a inauguração da loja original em Nova York, uma segunda unidade, com o dobro do tamanho e que possuía uma pista de skate coberta, foi inaugurada em Los Angeles, na área desabitada da Avenida North Fairfax. A partir deste momento, os fãs da marca na costa oeste americana, região com forte e pulsante cultura streetwear, podiam comprar produtos SUPREME diretamente da loja, ao invés de fóruns que os revendiam a um preço mais alto. Durante alguns anos, a SUPREME era uma marca de nicho, do underground, das ruas - só quem realmente estava por dentro da cena conhecia e entendia o valor, a exclusividade. Porém, com o estouro do hip hop e artistas como Kanye West usando peças da marca, a SUPREME atingiu um novo patamar e ganhou ainda mais força por, novamente, ser atrelada às figuras mais cool do momento.
  

Em março de 2016, a SUPREME foi se aventurar na capital da moda, Paris. Era a segunda loja da marca no continente europeu (a primeira havia sido inaugurada no mês de setembro de 2011 na cidade de Londres), aninhada no tranquilo bairro da Rue Barbette. No final desse mesmo ano, a SUPREME estarreceu o mundo da moda ao anunciar uma colaboração com a badalada Louis Vuitton (conheça essa outra história aqui). Lançada em meados de 2017, a coleção “SUPREME x Louis Vuitton” enlouqueceu os fãs. Para vender as peças da colaboração, que incluíam jaquetas, camisetas, óculos de sol, bolsas, pochetes, etiquetas de mala e até chaveiros, a marca francesa apostou em pop-up stores (lojas temporárias) em cidades estratégicas - algumas delas geraram tanto tumulto que tiveram de ser controlados pela polícia. E pensar que no ano de 2000, a LV (conheça essa outra história aqui) processou a SUPREME por usar seu tradicional monograma sem autorização em pranchas de skate, camisetas e bonés. Quase duas décadas depois, foi a LV que pagou para usar o logo e as cores da SUPREME.
   

Em 2018, a SUPREME anunciou duas colaborações de grande porte: uma de malas de luxo com a alemã Rimowa (conheça essa história completa aqui) e outra de camisas polo com a francesa Lacoste (saiba mais aqui). Ambas, seguindo o histórico da marca, se esgotaram imediatamente, especialmente a mala no tom vermelho característico da SUPREME usada por Neymar ao embarcar para a Copa da Rússia (e que custava R$ 18 mil). Além disso, James Jebbia foi premiado como “Melhor Design de Moda Masculina” pelo Council of Fashion Designers of America. Era o designer e sua marca conquistando o mundo da moda.
   

Pouco depois, outubro de 2019, a SUPREME inaugurou sua 12ª loja, localizada na Market Street em San Francisco, outro importante mercado cultural e de streetwear. Toda histeria consumista em torno da SUPREME chamou a atenção da VF Corporation, detentora de marcas como The North Face, Timberland (conheça essa outra história aqui), Vans (clique aqui para saber mais), que em setembro de 2020 comprou a marca por U$ 2.1 bilhões. No dia 6 de maio de 2021, em mais uma atitude ousada, a marca nova-iorquina inaugurou uma moderna loja na cidade de Milão.
  

O encontro entre arte, música e moda 
O chamativo logotipo da SUPREME - que aparece sem cerimônia em seus produtos - mostra como a marca fez do uso de referências culturais parte de seu DNA. A relação com o mundo da arte pode ser percebida também nas pranchas de skate produzidas pela marca. Os trabalhos de Jeff Koons e Damien Hirst já foram usados nos modelos da SUPREME. O título de cult ficou cada vez mais forte pelos posicionamentos políticos e ideológicos da marca, pelo resgate da essência nova-iorquina nas coleções e pelo constante contato com a música (Black Sabbath, KRS One e Lady Gaga, para citar alguns nomes) e com a arte, através de ícones como Peter Saville, Roy Lichtenstein, David Lynch, Robert Crumb e Takashi Murakami, que já assinaram colaborações da marca. As camisetas são outro caso à parte: a equipe por trás da marca tradicionalmente escolhe algumas de suas celebridades favoritas ou até ícones pops para ilustrarem suas T-shirts. A lista de quem topou participar impressiona, tanto pela relevância quanto pelo ecletismo do grupo: Michael Jackson, Lou Reed, Kate Moss, Neil Young, Morrissey, Raekwon, Mike Tyson, Gucci Mane, Michael Jordan, Three Six Mafia, Velvet Underground, Lady Gaga e até Kermit, o sapo dos Muppets.
   

Porque tanto sucesso 
O segredo do sucesso da SUPREME está na exclusividade. Apesar de seus produtos não terem preços estratosféricos, a SUPREME é desejada e muito disputada. A marca (cujos produtos são vendidos apenas em suas lojas próprias e comércio online) fabrica tudo em quantidades limitadas - é o luxo pela escassez e não pela cifra. As entregas são feitas em pequenas doses ao longo de cada estação, sem grande alarde, o que eles chamam de “drops”, palavra que ficou conhecida na indústria da moda muito por influência da SUPREME. Você nunca ouvirá a respeito de uma festa de lançamento de coleção, por exemplo. Até porque elas não existem na SUPREME. E essa é uma das características mais inteligentes da marca, porque o seu valor não está no material usado, no artesanato ou no trabalho envolvido. O preço de seus produtos é até acessível no lançamento, mas as peças são tão exclusivas que acabam sendo tratadas como objetos colecionáveis. E alcançam altos valores nos mercados de revenda (chegam a alcançar 10 vezes o preço original).
   

Outro fator importantíssimo para esse sucesso e para a construção e idolatria da marca foram colaborações com grandes nomes do cenário urbano, cultural e do mundo da moda, cuja lista é longa e parece não ter fim, como por exemplo, Nike, Vans, Clarks, The North Face, Hanes, Playboy (conheça essa história aqui), Levi’s, Timberland, Comme des Garçons, Stone Island, Undercover, Kangol, Emilio Pucci, AntiHero Skateboards, New Era (saiba mais aqui), True Religion, Spitfire Wheels, Champion e até a rede de alimentação rápida White Castle. Além disso, a SUPREME ainda é conhecida por lançar produtos bem aleatórios (pra não dizer estranhos), como martelos, tijolos, calculadoras, potes de ração para pets, pastas de dentes, isqueiros, canivetes, bolas de basquete (em parceria com a Spalding) e até caiaques, bonecos (Chucky Supreme, isso mesmo, o principal antagonista do filme “Brinquedo Assassino”, embalado em uma caixa de brinquedos clássica e vestido com um macacão SUPREME) e biscoitos (em colaboração com a Oreo). Tudo estampado com o inconfundível logotipo e a cor vermelha da marca. E assim, a SUPREME foi se tornando muito mais do que uma simples marca de roupas. Cresceu, criou raízes, uma comunidade e virou um símbolo de contracultura nos anos de 1990. Isso explica em parte porque hoje a marca não tem apenas clientes e fãs, mas também pessoas que a cultuam, a veneram.
   

Vestir uma peça SUPREME significa fazer parte de uma seita secreta das ruas (com uma boa dose de fator cool). Não basta entrar na loja e adquirir sua camiseta com o chamativo logotipo vermelho. Desde sua fundação, criou-se uma cultura muito fechada em torno da loja e de quem a frequentava. É algo que segue até hoje - ainda que de modo suavizado. Por exemplo, nos anos de 1990, pedia-se até para não tocarem nos produtos.
   

O fundador da SUPREME, James Jebbia, já declarou por diversas vezes que não investe em propaganda. E de certo modo ele está correto. Isto porque o poder da marca SUPREME vem do boca a boca e, principalmente, pelo apelo nostálgico do passado skatista. E a escolha de Jebbia é assertiva: pranchas de skate assinadas por artistas plásticos renomados como Richard Prince e Jeff Koons, parcerias com grandes estilistas e marcas de luxo, e uma produção em pequena escala limitadíssima deram o impulso que a grife precisava para construir uma aura cool e transformar o streetwear em artigo de luxo. Tudo tem a ver com autenticidade e manter vivo um ideal. É por isso que James Jebbia raramente dá entrevistas e a SUPREME não faz grandes campanhas ou eventos. Os protagonistas são os produtos, a marca e a filosofia de vida por trás disso.
   

Dados corporativos 
● Origem: Estados Unidos 
● Fundação: Abril de 1994 
● Fundador: James Jebbia 
● Sede mundial: New York City, Nova York, Estados Unidos 
● Proprietário da marca: VF Corporation 
● Capital aberto: Não 
● CEO: James Jebbia 
● Faturamento: US$ 600 milhões (estimado) 
● Lucro: Não divulgado 
● Lojas: 14 
● Presença global: 30 países 
● Presença no Brasil: Sim 
● Segmento: Moda 
● Principais produtos: Roupas, calçados e acessórios 
● Concorrentes diretos: Vans, Stüssy, Obey, A Bathing Ape, Public School, Off-White™, Palace, Kith e Champion 
● Ícones: A cor vermelha 
● Website: www.supremenewyork.com 

A marca no mundo 
Atualmente a SUPREME, cujo faturamento anual é estimado em US$ 600 milhões, possui 14 lojas próprias espalhadas por cidades como Nova York, Los Angeles, San Francisco, Londres, Paris, Milão, Berlim, Tóquio, Osaka, Nagoya e Fukuoka. Suas coleções exclusivas só podem ser compradas em suas lojas próprias e no comércio online (que representa 60% das suas vendas). Apesar da marca não ser vendida em lojas multimarcas, a exceção é o Dover Street Market, na cidade de Nova York. 

Você sabia? 
O tradicional logotipo da SUPREME - uma caixa vermelha com a marca escrita em branco na fonte Futura Heavy Oblique - foi “inspirado” na propaganda da artista plástica Barbara Kruger. A artista, inclusive, já criticou a marca diversas vezes pelo que ela mesma chamou de uma apropriação que vai contra o princípio de sua arte. 
Como os preços de alguns de seus produtos costumam passar de quatro dígitos (dólares), a SUPREME se tornou uma das marcas mais falsificadas do mundo. 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, Elle, Vogue, BusinessWeek, Isto é Dinheiro e Exame), sites de moda (Farfetch), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel e Interbrand) e Wikipedia (informações devidamente checadas). 

Última atualização em 9/3/2022 

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