4.5.06

IKEA


“Criar um melhor dia a dia para a maioria das pessoas”, é esta a visão IKEA. Sua ideia de negócio é oferecer uma vasta gama de produtos funcionais e com um bom design a preços tão baixos que a maioria das pessoas pode comprá-los. Afinal, para a IKEA todo mundo tem o direito a uma casa bem decorada com móveis práticos, independentemente do poder aquisitivo. A varejista sueca oferece soluções racionais para pessoas com baixo orçamento e espaços pequenos. O estilo minimalista potencializa o lema de design democrático da marca. E quando se fala em comunicação de varejo, a IKEA é citada como referência. Sempre um exemplo de ousadia, comunicação divertida e de como o setor pode fugir da mesmice. 

A história 
A IKEA foi fundada no dia 28 de julho de 1943 pelo sueco Ingvar Feodor Kamprad (foto abaixo), então um jovem com apenas 17 anos, e que precisou do apoio financeiro de seu pai, um agricultor alemão. O nome da empresa é uma composição das primeiras letras de seu nome e sobrenome, da pequena vila onde nasceu e da fazenda onde cresceu: Ingvar Kamprad, Elmtaryd e Agunnaryd. Inicialmente o jovem vendia canetas, joias, relógios, isqueiros, carteiras, porta-retratos, gravatas, meias de náilon, toalhas de mesa e praticamente tudo o que pudesse encontrar para revender com preços baixos. Pouco depois, em 1945, quando percebeu que vender seus produtos de porta em porta já não era tão eficaz, ele começou a anunciar em jornais locais e introduziu o conceito do catálogo para vendas por correio. Em 1948 passou a vender móveis feitos por carpinteiros locais de pequenas fábricas, que utilizavam madeiras de florestas perto de sua casa. Nesta época vendia os produtos em sua casa enviando-os pelo correio.
   

Um dos fatos que começaria a mudar os rumos da empresa aconteceu em 1951, mesmo ano em que foi lançado o primeiro catálogo da IKEA, quando Ingvar percebeu a oportunidade de se transformar em um grande fornecedor de móveis. Foi por esta razão que tomou a decisão de vender móveis a preços baixos e deixou de comercializar todos os outros produtos. Começava a nascer a IKEA tal como se conhece hoje. A empresa viu-se então envolvida em uma guerra de preços com a concorrência. Ambos os lados começaram a baixar os preços, o que ameaçava a qualidade dos produtos. Este episódio, na verdade, foi a solução de um problema que culminou com a inauguração do primeiro showroom de móveis da marca, aberto em uma antiga fábrica de carpintaria no ano de 1953 na pequena cidade de Älmhult. Pela primeira vez os consumidores podiam ver e tocar nos móveis que estavam sendo vendidos pelo catálogo e comprovar sua qualidade. Ao expor seus móveis, a IKEA podia apresentar seus produtos nas três dimensões: funcionalidade, qualidade e preço acessível. E as pessoas reagiram tal como era esperado: escolhiam os produtos que ofereciam a melhor relação qualidade/preço.
  

Somente em 1955 a marca começou a desenvolver e produzir seus próprios móveis em virtude do grande boicote feito pelos seus principais concorrentes. Foi a partir deste momento que a marca começou a crescer em um ritmo rápido rumo ao sucesso. Em 1956 aconteceu um fato marcante, e por acaso, quando o designer da empresa, Gillis Lundgren, percebeu a impossibilidade de colocar uma mesa dentro de seu carro e resolveu o problema projetando a famosa mesa flatpack (desmontável). Segundo a empresa foi esse o gatilho que deu início a revolução do conceito Faça Você Mesmo, quando o cliente passou a montar seus próprios móveis. A primeira loja IKEA, propriamente dita, possuía 6.700 m² e foi inaugurada somente em 1958, na própria cidade de Älmhult. A Suécia vivia um período de prosperidade, sob a influência da política do “Folkhemmet” (que significa “a casa do povo”) de Per Albin Hansson. Os suecos tinham poder aquisitivo para comprar casas e móveis. Ainda hoje, os suecos dizem: “Hansson deu a casa ao povo, Kamprad mobiliou-a”. Nesta primeira loja já era exercida a política que hoje é prática recorrente em toda a rede: um catálogo com preços garantidos por um período de um ano; móveis no conceito “para montar você mesmo”, o que os tornava mais baratos e fáceis de transportar; nomes para os artigos em vez de números de referência e uma lanchonete com preços baixos dentro da loja.
  

Em 1960, foi inaugurado o primeiro restaurante IKEA, na loja de Älmhult, proporcionando assim mais uma comodidade aos seus clientes na hora de fazer compras. Uma ideia muito bem recebida por todos, tornando-se, até aos dias de hoje, em um espaço de visita obrigatória em muitas de suas lojas. A primeira loja no exterior seria inaugurada no dia 23 de março de 1963, na cidade norueguesa de Asker, próxima a capital Oslo, começando assim a expansão internacional da marca. Dois anos mais tarde, uma loja âncora da IKEA, com 31.000 m² e que tinha uma forma circular, inspirada no Museu Guggenheim de Nova York, foi inaugurada na cidade de Estocolmo, arrastando milhares de pessoas em seu dia de inauguração. As filas enormes deram origem a problemas de capacidade para atender aos clientes de forma satisfatória. Para reduzir o tempo de espera a IKEA abriu seus depósitos, o que permitiu que os clientes se servissem: assim nasceu mais uma parte importante do conceito da marca. Além disso, outra grande novidade desta loja foi a forma de exposição dos produtos: os móveis começaram a ser exibidos em ambientes reais, muito bem cuidados e decorados, remetendo para casas verdadeiras, tal como hoje.
   

No ano de 1968 aconteceu mais uma revolução dentro da IKEA por conta do aglomerado. Este material parecia feito para ser usado em móveis IKEA, pois era resistente, fácil de trabalhar e custava pouco. De imediato, este material foi adotado em muitos móveis da marca. Em 1969 foi inaugurada a primeira loja na Dinamarca, que já possuía o famoso espaço infantil de recreação com a tradicional piscina cheia de bolas coloridas, seguida pela inauguração da primeira unidade fora dos países escandinavos, em 1974 na cidade de Zurique na Suíça. O sucesso abriu caminho para uma rápida expansão na Alemanha, que hoje em dia é o maior mercado consumidor da marca. Nos próximos anos a marca ingressou em vários novos e promissores mercados mundiais com a inauguração de unidades na Austrália (1975), Canadá (1976), Áustria (1977), Holanda (1979), França (1981), Bélgica (1984) e, em 1985, ingressou no enorme mercado americano com a inauguração de sua primeira unidade no país, localizada na cidade da Filadélfia. Nesta época, a IKEA já tinha 10 mil funcionários e 60 lojas em operação.
   

Outro fato importante marcou esta década: a criação em 1984 do IKEA FAMILY, um programa de fidelidade desenvolvido para todos que vivem mais a sua casa, oferecendo benefícios especiais como ofertas exclusivas, campanhas promocionais, chá e café grátis em suas lojas de segunda a sexta, entre outros mimos. Atualmente este clube tem aproximadamente 100 milhões de membros no mundo todo. Em 1987, a rede finalmente chegou ao Reino Unido com a inauguração de uma loja na cidade de Manchester. Na década seguinte, além da contínua ampliação na oferta de produtos, novos mercados foram desbravados com a inauguração de lojas em importantes cidades, como por exemplo, Dubai (1991), Madri (1996), Xangai (1998). Além disso, em 1996, a IKEA identificou uma grande oportunidade em atender a demanda por moradia e lançou a Boklok, casas pré-fabricadas de baixo preço, mas com a qualidade e o design que criaram a reputação da marca. E como forma de agradecer o esforço e contribuição de todos pelo crescimento e sucesso da IKEA, Ingvar Kamprad criou o evento “Big Thank You” (algo como “Grande Obrigado” em português), realizado em 9 de outubro de 1999 e cujo total das vendas mundiais desse dia foi repartido para todos os colaboradores da empresa.
   

A chegada do novo milênio trouxe também uma nova onda de expansão com inauguração de lojas em Moscou (2000), Lisboa (2004), Istambul (2005) e Tóquio (2006). E no mês de fevereiro de 2010, a IKEA inaugurou sua primeira loja na América Latina, localizada na cidade de Santo Domingo na República Dominicana. Há algum tempo, a IKEA vem investindo na diversificação de seus produtos. Em abril de 2012, a empresa lançou uma máquina fotográfica digital de cartão com capacidade de armazenamento para 40 fotografias, além de uma Smart TV, embutida nos móveis e que incluía HDTV, leitor de Blu-ray/DVD, colunas wireless e ligação Wi-Fi. Pouco depois, lançou sua marca própria de cervejas, com a Öl Ljus Lager (tipo lager) e a Öl Mörk Lager (tipo lager preta). As bebidas complementam o portfólio gastronômico da marca, que oferece restaurantes em muitas de suas unidades.
   

Nos últimos anos a marca iniciou uma forte expansão por países asiáticos com inaugurações de lojas na Indonésia, Tailândia, Malásia e muitas cidades chinesas. Em meados de 2016, a empresa inaugurou um museu na cidade de Älmhult (onde foi aberta a primeira loja da marca), um espaço que funciona como uma retrospectiva da rede, ao mesmo tempo mapeando os gostos, objetos e estilos que marcaram cada década. O museu de 7.000 m² abriga mais de 20 mil itens que contam a história da IKEA, além de um restaurante para 170 clientes e um departamento dedicado a programas educacionais e workshops. Além das mostras permanentes, uma delas contando a história do fundador Ingvar Kamprad, outras temporárias fazem parte do programa do museu. Nos últimos anos a IKEA deu continuidade ao seu plano de expansão internacional ao inaugurar suas primeiras lojas no Marrocos (2016), Índia (2018), Estônia (2019), Ucrânia (2020), México (2020), Eslovênia (2021) e Filipinas (2021). Recentemente, em 2021, a marca lançou nos Estados Unidos um serviço de recompra e revenda de produtos (inicialmente somente móveis), o chamado Buy Back & Resell. A iniciativa faz parte do compromisso da IKEA de se tornar uma empresa circular até 2030.
   

Atualmente cada loja IKEA oferece aproximadamente 9.500 itens, disponibilizando aos consumidores uma variada e ampla gama de produtos como sofás, camas, mesas, cadeiras, produtos têxteis, utensílios de cozinha, assoalhos, tapetes, móveis de cozinha, plantas, etc. Todos os anos a gama de produtos é renovada com mais de 2.500 itens novos. E suas lojas mais lembram hipermercados em que se sucedem, em longos corredores, reproduções dos mais diferentes ambientes de uma casa, em que tudo - móveis, almofadas, cortinas, roupas de cama, louças - pode ser comprado. Foi assim que a IKEA se tornou uma das marcas mais cultuadas do planeta.
   

Uma marca que pensa diferente 
Muitas pessoas associam a Suécia a uma forma de vida saudável. A linha de produtos da IKEA reflete exatamente o estilo de vida deste povo. O ar fresco é visto nas cores e materiais utilizados e na sensação de espaço que criam: madeiras claras, tecidos naturais e superfícies sem tratamento. Em um país que vive no frio e na escuridão grande parte do ano, lugares claros e luminosos criam um ambiente quente de verão o ano inteiro, tornando-o extremamente acolhedor.
  

O ano de 2008 foi o marco inicial de uma mudança no posicionamento da IKEA no mundo. Isto porque, até então os consumidores precisavam pegar seus carros poluentes e dirigir por 20 ou 30 quilômetros para ir até uma loja da rede. Mas o panorama começou a mudar. A rede sueca iniciou a abertura de unidades em locais de fácil acesso ao transporte público como a unidade da IKEA, inaugurada em junho desse ano ao sul do bairro do Brooklyn, em Nova York, que disponibiliza um barco aos clientes para o percurso até Manhattan. Aproximadamente 20 mil pessoas usam o “Hook Rock Ikea Boat” todas as semanas - e não precisam tirar seus automóveis da garagem. Para montar a loja, o então CEO da empresa comprou uma briga feia. Os moradores do Brooklyn reclamaram da obra e analistas questionaram o tamanho do investimento (acima de €40 milhões, valor 50% superior ao gasto em unidades na Europa). Pode ser caro? Até pode, mas estava exatamente dentro do que a IKEA queria. A rede colocou na rua um plano de expansão de lojas sustentáveis nos Estados Unidos. E isso custou até 50% mais do que o modelo convencional. Evidentemente os resultados sofrem um forte impacto - para baixo. Mas a IKEA nem pensa em mudar de rumo. Isso porque precisa aumentar as vendas - e são as novas unidades que têm mantido a taxa de expansão da empresa varejista.
  

Seu plano era inaugurar de cinco a seis lojas por ano em solo americano. Mas pela frente a empresa enfrentou dois problemas nada desprezíveis. Em primeiro lugar, o momento não poderia ser pior. Em 2008, a venda de imóveis nos Estados Unidos teve o pior desempenho dos últimos 28 anos. Se o americano não muda de lar, a IKEA vende menos. A relação é tão direta que o próprio comando da empresa andou resmungando dos resultados de suas 30 unidades espalhadas pela América na época. Para completar, a rede precisava fazer isso gastando mais. Mesmo assim a empresa disse que não iria alterar o projeto de abertura de lojas sustentáveis. E todas as unidades da IKEA são sustentáveis. Não se trata de colocar mais jardins de inverno internos ou utilizar a luz do sol como iluminação natural. A empresa joga pesado com os seus fornecedores quando o assunto é escolher os produtos que serão vendidos em suas lojas. Na IKEA, madeira de florestas não passa da porta, a não ser que possuam certificado de origem. Os copos vendidos não podem ter chumbo. As lojas, armazéns, escritórios e fábricas da empresa têm aproximadamente 90% de energia renovável. E 71% dos produtos usados na composição de qualquer mercadoria podem ser reutilizados. Nada disso é barato ou simples. Afinal, em alguns casos, os produtos ecologicamente corretos chegam a custar cinco vezes mais do que um comum. Para resolver essa equação e não comprometer sua margem de lucro, a IKEA usa o poder de barganha e pressiona os fornecedores. Quem não baixa a guarda sai da lista e, em se tratando de uma das maiores empresas de varejo do mundo, ninguém quer ficar de fora. Por isso, a rede opera no azul há anos e cresce a dois dígitos.
   

Mas para ser fornecedor da IKEA é preciso responder a uma lista com 80 perguntas sobre seus produtos. O questionário é avaliado por um dos 80 auditores independentes, que decidem se vale a pena ou não fechar negócio com a empresa. Aproximadamente 1.300 fornecedores já passaram pela peneira. Mais de 100 mil desvios foram verificados e foi solicitada mudança na forma de produção. Quem usava PVC em qualquer mercadoria (exceto isolantes elétricos) foi barrado. O uso de freons (gás usado em geladeiras) também é proibido. Para se ter uma ideia do que essa política faz com os custos da IKEA, o PVC (que, se queimado, polui o ar) baratearia a compra pela empresa em 20%. O freon utilizado em geladeiras custa até 50% a menos no mercado. Ao optar sempre por madeira reutilizada, a empresa paga até cinco vezes mais. Se desembolsasse menos por este insumo, a IKEA até poderia operar com margens de lucro bem maiores. Tiro no pé, então? Não, necessariamente. A IKEA negocia grandes volumes com seus fornecedores, por isso, consegue respeitar normas internas e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto no bolso do consumidor. Esse conceito se espalha pelas unidades em várias cidades do mundo.
   

Uma das mais recentes lojas da IKEA, inaugurada em Karlstad, na Suécia, é a primeira da rede aquecida com uma bomba de calor. A instalação reduz o consumo de energia em 80%, o equivalente ao consumo de 150 casas por ano. O retorno sobre o investimento, porém, só aconteceria em oito anos. A loja aberta no ano de 2009 em Wurzburg, cidade no sudoeste da Alemanha, também usa bombas de calor alimentadas por caldeiras de biocombustíveis líquidos, que exigiram investimentos de R$ 3 milhões e que trariam retorno ao investimento somente em sete anos. A sustentabilidade custa caro. Mas, para a IKEA, parece ter se transformado em um lema a ser seguido. A IKEA possui sua própria indústria de fabricação, a Swedwood, além de ter uma das melhores equipes de designers do planeta, ou seja, esses são apenas alguns detalhes que fazem da marca a preferida dos jovens, público que é responsável pela maior parte de suas vendas.
   

Mas apesar do sucesso da IKEA no mundo, a empresa comete erros. E muitos. Como declarou o designer global da marca, Marcus Engman, em entrevista à edição britânica da Reader’s Digest em 2017: “We’re world champions in making mistakes”. E não é para menos. Por exemplo, em 2011, a rede tentou lançar sua linha própria de TVs que foi um enorme fracasso. Logo depois, em 2012, apagou imagens de mulheres de seu catálogo na Arábia Saudita e foi alvo de protestos. Já em 2013, removeu um casal de lésbicas de seu catálogo na Rússia e envolveu-se numa enorme polêmica. Em 2014, ao inaugurar uma loja na Coréia do Sul, revoltou a população ao chamar o oceano da região de “Mar do Japão”, enquanto os sul-coreanos, por uma questão de soberania, preferem “Mar do Leste”. E, em 2017, quando alguns produtos eram tão difíceis para os consumidores montarem que, até internamente, ficaram provocativamente conhecidos como “husbands killers”. E como a IKEA lida com estes tropeços? Demitindo e punindo a equipe? Nada disso. Mas como aprendizado. Talvez por ter esta visão lúcida e moderna que a marca esteja conquistando o mundo. Foi como Engman finalizou a entrevista: “We’re world champions in making mistakes. But we’re really good at correcting them”.
  

Design escandinavo 
A IKEA é um exemplo de design moderno, funcional e criativo. Ao longo dos anos, inúmeras criações e lançamentos fizeram da marca um exemplo de modernidade, arregimentando uma legião de fervorosos fãs. As inovações começaram em 1956 com a criação das embalagens planas, que permitiam transportar mais produtos em um caminhão, ocupando assim menos espaço nos depósitos, e consequentemente reduzindo consideravelmente os custos. Em termos de design a IKEA foi responsável pelo surgimento da cadeira Olga (1961), que levava em conta os conceitos de forma, funcionalidade e preço, e hoje é produzida em plástico composto; a estante MTP (1962), em madeira clara de carvalho com várias divisões de arrumação e desenvolvida por Marian Grabinski, que se transformou em um clássico contemporâneo dando origem a muitas imitações ao longo dos anos; o sofá PRIVAT (1969), desenhado pelo arquiteto Åke Fribryter, que tinha uma base de aglomerado com acabamento laqueado branco e capas em cretone castanho com um padrão de flores desenhado pelo artista têxtil Sven Fristedt; e a poltrona multifuncional TAJT (1973), um dos muitos bons exemplos de como, por vezes, a IKEA faz as coisas de forma diferente.
   

Outros exemplos de seu primoroso design são a cadeira de jardim SKOPA (1974), criada por Olle Gjerlöv-Knudsen e Torben Lind, confeccionadas em plástico; o sofá KLIPPAN (1980), desenvolvido por Noboru Nakamura especialmente para crianças, que era extremamente resistente e possuía uma capa removível que podia ser lavada; a mesa LACK (1980), que apesar de leve era extremamente resistente; o sofá MOMENT (1985), cheio de estilo, confortável, moderno e com preço baixo; a estante KIBIST (1994), um modelo extremamente resistente, leve e de preço baixo; a cadeira infantil DAGIS (1996), criada pelo designer Richard Clark, e que ia ao encontro das necessidades das crianças e tinha a particularidade de poder ser empilhada, economizando espaço e facilitando seu transporte; e o sofá EKTORP, um dos produtos mais populares e vendidos da marca.
  

O catálogo, mas pode chamar de Bíblia do design 
O famoso catálogo de vendas da marca foi introduzido pela primeira vez em 1951, tornando-se ao longo dos anos um dos principais veículos de comunicação e vendas da IKEA. Afinal, ele oferece mais do que uma visão global dos diferentes produtos da marca. Nele o consumidor pode descobrir novas soluções acessíveis e criativas para a decoração da casa que o irão inspirar para uma vida melhor. O primoroso catálogo, que era distribuído gratuitamente pelo correio ou disponível em suas lojas, contava com aproximadamente 12 mil itens distribuídos em mais de 300 páginas, sendo impresso em 61 edições e 32 línguas diferentes. O catálogo se transformou no livro mais distribuído do mundo, com 210 milhões de cópias anuais, superando até mesmo a Bíblia. Somente na Europa o catálogo atingia mais de 200 milhões de pessoas. No mundo eram mais de 400 milhões de consumidores com acesso ao catálogo.
   

No final de 2020, a IKEA anunciou o encerramento da produção de seu catálogo anual após 70 anos de publicação. A varejista citou a mudança crescente para a navegação e compras online para determinar o fim de seu catálogo. Em um comunicado, disse que “tomou a decisão emocional, mas racional, de encerrar respeitosamente a carreira de sucesso” das versões impressa e digital do catálogo (esta última lançada em 2000). O catálogo de 2021, lançado em outubro de 2020, foi a versão final.
   

O gênio por trás da marca 
Ele foi o cérebro da IKEA, mas também o homem que se escondia por trás dela. Ingvar Kamprad nasceu no dia 30 de março de 1926, em Småland, no sul da Suécia. Cresceu em Elmtaryd, perto do pequeno povoado de Agunnaryd. Já quando criança começou a vender fósforos aos vizinhos, que ia visitar na sua bicicleta. Soube que podia comprar fósforos muito baratos a granel, em Estocolmo, para depois vender em caixas individuais a um preço muito baixo, mas tendo um bom lucro. Dos fósforos passou a vender peixe, enfeites de Natal, sementes e, mais tarde, canetas e lápis. O império começou a ser construído em 1953 com uma ideia inovadora para a época: um sistema de vendas em que os clientes levavam a mobília para casa e montavam os próprios móveis. Os custos para a empresa ficaram menores e os preços mais baixos para os consumidores. A ideia deu tão certo que ele construiu um enorme império em pouco mais de 70 anos.
   

Ele tinha uma vida de hábitos simples, mas excêntricos. Até poucos anos atrás, conduzia um Volvo 240 de 1993, que só abandonou porque a idade obrigou-o a deixar de dirigir. Para obter boas tarifas aéreas percorria os sites da internet em busca de promoções e sempre viajava na classe econômica. Geralmente comprava roupas de segunda mão. As compras de frutas e verduras eram feitas no fim do dia, quando os preços nos supermercados estão em queda. Sua única extravagância era um pequeno vinhedo na França. “Se eu começar a adquirir coisas luxuosas, outros vão fazer o mesmo. É importante líderes darem o exemplo”, costuma dizer. O sueco dividia seu tempo entre a casa em que sempre morou na Suécia, uma residência na Suíça, onde os impostos são mais baixos, e na França, nas proximidades da cidade de Toulon. Há mais de dez anos, ele admitiu que travava uma batalha contra o alcoolismo e reconheceu que foi simpatizante do nazismo. “Essa é uma parte da minha vida da qual eu me arrependo amargamente”, disse em uma de suas poucas entrevistas. Ingvar, que revolucionou o mercado de móveis com o conceito de “faça você mesmo”, morreu no dia 27 de janeiro de 2018 aos 91 anos e deixou uma fortuna de €50 bilhões para seus três filhos - todos envolvidos com a empresa.
  

Campanhas que fizeram história 
Quando se fala em comunicação de varejo, a IKEA é citada como referência. Por exemplo, em 2001, a campanha publicitária “Tidy Up”, composta por cinco anúncios, iniciou um novo posicionamento para a marca e tornou-se um enorme sucesso, sendo muito premiada ao redor do mundo. Criada pela agência francesa Leagas Delaney de Paris, ilustrava a variedade de produtos da marca sueca, suas cores e design. O grande mote dos anúncios era passar a mensagem de que “If not for yourself, at least for the others” (algo como “Se você não faz para você, pelo menos faça para os outros”). O objetivo era lembrar às pessoas como é importante viver em um espaço arrumado e como a IKEA pode ajudar. O humor começou sendo o argumento principal e permanece até hoje na comunicação da marca. A intenção foi mudar a imagem de marca antiga e renovar a aproximação com o público jovem. Como a rede tem muitos anos de existência, a tendência dos jovens era enxergar a IKEA como uma loja destinada aos seus pais. A chave da campanha foi mostrar um fabricante com soluções racionais para pessoas jovens com baixo orçamento e espaços pequenos. Para assistir a um dos comerciais da campanha basta clicar no ícone abaixo. Para rever inúmeros e criativos filmes publicitários da marca acesse o nosso canal no YouTube.
  

Outro exemplo de criatividade da comunicação da IKEA ocorreu em 2020 na Rússia, em plena quarentena e que captou perfeitamente o sentimento de nostalgia, trazendo de volta a aventura de infância para dentro de casa. A campanha incluía aquelas famosas instruções da IKEA, que acompanham seus móveis para serem montados, mas desta vez para os pais criarem tendas e fortalezas em ambientes fechados para gerar aquele momento de fantasia, aventura e diversão para as crianças que precisavam ficar em casa por causa da pandemia. Usando, claro, os móveis da casa. E se faltasse algo dos manuais, os pais poderiam comprar na loja online e receber em segurança em casa. A campanha também pedia para os seguidores compartilharem o resultado usando da hashtag #EmCasacomIKEA.
  

A evolução visual 
A identidade visual da marca passou por inúmeras remodelações ao longo dos anos. Somente em 1962 a marca adotou o logotipo mais semelhante com o atual.
   

Em 1981, as letras foram encorpadas e o logotipo passou a utilizar as cores vermelha e branca. Pouco depois, em 1982, as cores azul e amarela (as mesmas da bandeira sueca) foram adotadas. O atual logotipo da IKEA foi introduzido em 2019 e se tornou mais legível, com um dimensionamento adequado (principalmente com a inserção do sinal ® para dentro do logotipo), um menor espaçamento entre as letras e uma nova tonalidade de cores (agora mais clara).
   

Uma curiosidade: a marca utiliza no layout externo de suas lojas apenas a palavra IKEA escrita em amarelo sob o fundo azul das fachadas.
  

Os slogans 
Let’s Make Your Home Special. (2021) 
Small Decisions Make a World of Difference. (2021) 
The wonderful everyday. (2017) 
Make the Dream Yours. (2017) 
Long Live The Home. (2011) 
The Life Improvement Store. (2010) 
Happy Inside. (2010) 
Any space can be beautiful. (2009) 
Affordable solutions for better living. (2008) 
Home is the most important place in the world. (2007) 
Live your life, love your home. (2005) 
Another example of affordably good design. (2004) 
Screw yourself. (2004) 
You don’t have to be rich. Just smart. (2003) 
Unboring. (2002) 
Change something. (2002) 
Find your style. (2002) 
Tidy up. If not for yourself, at least for the others. (2001) 
Make a fresh start. (1999) 
The home furnishings store from Sweden. (1996) 
A rich life. (1993) 
Discover the possibilities. (1985) 
More taste than money. (1983) 
The impossible furniture house from Sweden. (1982) 
The impossible furniture house. (1974) 
Não há casa como a nossa. (Portugal, 2018) 
Soluções acessíveis para viver melhor. (Portugal) 
Viva mais a sua casa. (Portugal)
   

Dados corporativos 
● Origem: Suécia 
● Fundação: 28 de julho de 1943 
● Fundador: Ingvar Kamprad 
● Sede mundial: Delft, Holanda 
● Proprietário da marca: INGKA Holding B.V. 
● Capital aberto: Não 
● Chairman & CEO: Jesper Brodin 
● Faturamento: €41.9 bilhões (2021) 
● Lucro: €1.43 bilhões (2021) 
● Valor da marca: US$ 20.034 bilhões (2021) 
● Lojas: 463 
● Presença global: 63 países 
● Presença no Brasil: Não 
● Maiores mercados: Alemanha, Estados Unidos, França, Reino Unido e China 
● Funcionários: 225.000 
● Segmento: Varejo 
● Principais produtos: Móveis, objetos para decoração e utensílios domésticos 
● Concorrentes diretos: Ashley HomeStore, Crate & Barrel, Bed Bath & Beyond, Pier 1, Target, The Home Depot, Wayfair e Kartell 
● Ícones: A praticidade e design de seus produtos 
● Slogan: Let’s Make Your Home Special. 
● Website: www.ikea.com 

O valor 
Segundo a consultoria britânica Interbrand, somente a marca IKEA está avaliada em US$ 20.034 bilhões, ocupando a posição de número 27 no ranking das marcas mais valiosas do mundo de 2021. 

A marca no mundo 
A IKEA, uma espécie de colosso do mundo corporativo, tem atualmente mais de 460 lojas em 63 países, sua grande maioria localizada na Europa, o resto nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, região asiática e África. A Europa responde por mais de 65% das vendas, seguido por América do Norte e Ásia. A empresa possui 50 fábricas espalhadas por 10 países, empregando aproximadamente 225 mil pessoas (de 50 nacionalidades diferentes), além de 43 centros de distribuição em 20 países, faturando mais de €41 bilhões anuais (dados de 2021). Aproximadamente 775 milhões de pessoas visitam suas lojas anualmente. A empresa compra produtos de aproximadamente 1.050 fornecedores em mais de 50 países. E sua página na internet, lançada em 1997, atrai em média mais de 5 bilhões de visitas por ano. As vendas online foram lançadas na Suécia e na Dinamarca no ano de 2000, e hoje respondem por uma importante parcela no faturamento da empresa (mais de 25%). 

Você sabia? 
A IKEA é uma das poucas redes varejistas a ter pontos de venda tanto em Israel quanto em outros países do Oriente Médio. 
A IKEA é considerada uma das marcas mais influentes e inovadoras do planeta. 
A maior loja da IKEA no mundo está localizada na cidade de Pasay City nas Filipinas e possui nada menos que 65.000 m², o tamanho do Palácio de Versalhes. 
A IKEA se tornou conhecida pelas icônicas lojas no formato de caixa azul com letreiros em amarelo. Muitas de suas lojas possuem áreas de recreação infantil chamadas de Småland
A IKEA é a terceira maior consumidora de madeira do mundo, atrás apenas das americanas The Home Depot (conheça essa outra história aqui) e Lowe’s (saiba mais aqui). 


As fontes: as informações foram retiradas e compiladas do site oficial da empresa (em várias línguas), revistas (Fortune, Forbes, BusinessWeek, Exame e Isto é Dinheiro), jornais (Valor Econômico, Estadão e Folha), sites especializados em Marketing e Branding (BrandChannel, Interbrand e Mundo do Marketing), Wikipedia (informações devidamente checadas) e sites financeiros (Google Finance, Yahoo Finance e Hoovers). 

Última atualização em 20/12/2021 

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3 comentários:

Matheus disse...

bem que poderíamos ter uma aqui no Brasil né???!!!

seria ótimo!

Anônimo disse...

Você não pensa no desastre da nossa indústria. O Brasil é predominante de micro e pequenas empresas, que assim se organizam e formam os Pólos (Moveleiros, Texteis entre outro). Com isso conseguem ate em exportar. E estas não tem tanta mobilidade e competitividade por preço, pois seus custos de produção são elevados comparados com outros países.

Marcos disse...

Peraí. Veja, se uma Ikea entra no mercado brasileiro pode haver uma grande transformação positiva nesse aspecto. Esses pólos que você diz se verão forçados a criar formas mais eficientes de manufatura e administração para competir com os grandes do exterior. O país também ganharia horrores, seja pelos impostos na importação dos produtos sustentáveis da Ikea ou seja pelas negociações que a Ikea teria que fazer com esses pólos industriais para manter a qualidade dos produtos a preço baixo. Além disso introduziria no Brasil as práticas sustentáveis que já são padrão lá fora e, de maneira geral, reduziria os preços de móveis no Brasil seja por um lado ou pelo outro. Ainda mais agora que o mercado imobiliário anda expandindo no país. Mais casas e apartamentos implicam em mais móveis.